Neste ano consegui dar conta de um projeto com o qual eu sonho há muito tempo. O Trovas de Vinil foi mais do que um sonho que tornei realidade: foi uma terapia e tanto!
Que em 2013 possamos estar juntos através de outras crônicas musicais que estão por vir. Que novas ideias possam aparecer com muita saúde, paz, harmonia e muita música!
Muito obrigado a todos que leram, comentaram e divulgaram o Blog nas redes sociais. Cada participação de vocês fez muita diferença.
E como não sei me expressar sem fazer nenhuma referência a música que rege os nossos corações, que Clara Nunes dê o tom do ano que está por vir!
“I don't
fuck much with the past but I fuck plenty with the future.”
― Patti Smith
O ano de 2012 foi um ano e tanto para a música no planeta. Alguns artistas
saíram de cena, uns retornaram aos holofotes, outros nos abandonaram para
sempre. No entanto, ela retornou
ao mainstream com uma bela novidade
para os terráqueos destas bandas azuis. Refiro-me à Patti Smith, musa-mor do
movimento Punk, artista com “A” maiúsculo e poetisa de grande quilate.
Nenhuma pessoa do mundo artístico conseguiu fazer o ano de 2012 com
tanto brilho como D. Patricia Lee Smith o fez. Em junho de 2012, Patti lançou Banga, seu 11.º álbum, depois de cinco
anos sem lançar um novo disco e de oito sem disponibilizar nenhum material
inédito. Além disto, um DVD com sua apresentação no Montreux Jazz Festival em 2005 foi lançado co toda a pompa e circunstância.
Para a felicidade dos amantes da poesia, vários livros de sua obra poética
foram elegantemente reeditada graças ao sucesso de Just Kids (Só Garotos, em
português), seu livro de memórias ao lado do fotógrafo e artista plástico
Robert Mapplethorpe.
Sobre a capa de
seu antológico álbum de estreia, Horses
(1975):
“Nunca houve dúvida de que Robert faria meu retrato para a capa de Horses, minha espada sonora
embainhada por uma imagem de Robert. Eu não fazia ideia de como ficaria, apenas
que deveria ser verdadeira. A única coisa que prometi a Robert foi que eu
usaria uma camisa branca sem nenhuma mancha.
(...)
Robert queria fotografar
no espaço de Sam Wagstaff, porque a cobertura no número 1 da Fifth Avenue era
banhada de luz natural. A janela do canto fazia uma sombra que criava um triângulo
de luz, e Robert queria usá-lo na fotografia.
(...)
A icônica capa de Horses, trabalho de estreia de Patti Smith.
Foto: Robert Mapplethorpe
Robert
veio me buscar. Ele estava preocupado porque o céu estava muito fechado. Terminei
de me vestir: calça preta de pregas, meia branca de linho, sapatilhas pretas. Acrescentei
minha fita favorita, e Robert limpou os farelos de meu paletó preto.
Fomos para
a rua. (...) De alguma forma o dia estava passando muito depressa. Estava nublado
e escuro, e Robert ficava o tempo todo vendo se o sol saía. Até que, no fim da tarde,
o céu começou a abrir. Atravessamos a Washington Square com o céu ameaçando
fechar de novo. Robert estava preocupado que fôssemos perder a luz, e fomos
correndo o resto do caminho até o número 1 da Fifth Avenue.
A luz já
estava esmaecendo. Ele estava sem assistente. Nunca conversávamos sobre o que
faríamos, ou como ficaria. Ele faria a foto. Eu seria fotografada.
Eu tinha
a imagem na cabeça. Ele tinha a luz na cabeça. Simplesmente.
(...)
Largou
o fotômetro. Uma nuvem passou e o triângulo desapareceu. Falou: “Sabe, eu
realmente gosto da brancura da camisa. Você pode tirar o paletó?”.
Joguei o
paletó no ombro, tipo Frank Sinatra. Eu era cheia de referências. Ele era cheio
de luzes e sombras.
“Voltou”,
ele disse.
Fez
mais algumas fotos.
“Consegui.”
“Como
você sabe?”
“Eu
simplesmente sei.”
Ele fez
doze fotos naquele dia.
Em poucos
dias me mostrou um contato. “Essa aqui tem a mágica”, ele disse.
Até hoje
quando olho para essa foto, nunca me vejo. Vejo nós dois.”
SMITH, Patti. Só
Garotos. Tradução: Alexandre Barbosa de Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010, pp. 228-230.
Banga
é uma coleção de 13 canções (11 faixas inéditas + + 1 cover emocionante de um sucesso de Neil Young + 1 faixa
bônus) que são retratos do pensamento inquieto de Patti Smith. Homenagens a
pessoas queridas em meio a uma série de referências literárias, um explorador
sagaz, um sonho apocalítptico, uma ode a um povo sofrido, amores que se foram
para sempre, dois garotos perdidos no famoso Chelsea Hotel. A mistura de Rock, poesia, atitude, despojamento que
Patti faz ao lado de seus fiéis músicos (Lenny Kaye, Tony Shanahan, Jay Dee
Daugherty e outros) teve uma boa receptividade da crítica e do público em geral.
A capa de Banga, o melhor disco lançado em 2012.
Este é,
sem dúvida, um dos trabalhos mais relevantes da obra musical de Patti Smith –
ao lado de Easter (1978), Dream of Life (1988), Peace & Noise (1997) e Horses (1975). Graças ao reconhecimento
deste disco, Patti teve uma nova oportunidade de ser mais ouvida (e lida) por
um público mais jovem. É impressionante a quantidade de jovens que conheceram o
legado desta artista graças a Just Kids
(o livro) e se encantaram com o novo disco. E são outros os jovens que descobrirão
a fúria poética do trabalho de estreia de uma das artistas mais incendiárias da
música em todos os tempos.
No entanto, é preciso deixar claro que o responsável
pelo ressurgimento de Patti Smith no cenário musical foi Robert Mapplethorpe. A
lembrança do amigo e companheiro de andanças nova-iorquinas foi o mergulho
inicial que Mrs. Smith fez nas profundezas de sua própria memória e se dedicar
ao processo criativo de canções. “This is the girl” é uma bela
ode à Amy Winehouse. Já “Maria”,
por exemplo, remete à tristeza causada pelo desaparecimento de uma das mais
belas estrelas de cinema, Maria Schneider (de O Último Tango em Paris), que Patti conheceu durante sua primeira
turnê internacional.
Maria Schneider
No entanto, a faixa-bônus do disco, que recebeu o mesmo
nome do incensado livro, conseguiu cumprir com perfeição a tarefa de eternizar
Mapplethorpe em versos e sons.
Patti em foto de Edward Mapplethorpe, irmão mais novo de seu melhor amigo.
Como mais um ano
se acaba e segue rumo às nossas memórias, a tarefa deste momento é propor um
brinde à música inteligente, à sabedoria e à rebeldia de Patti Smith, que soube cantar o amor e a liberdade como ninguém soube neste ano chega ao fim. Que em
2013 possamos ter a honra de reencontrar esta grande artista em palcos
brasileiros e sentir um pouco desta fúria poética ao vivo!
Cheers!
Leia um texto sobre Banga, o mais recente trabalho de
Patti Smith, no blog Pequenos
Clássicos Perdidos:
John & Yoko: o casal mais controverso do Rock 'n' Roll
Natal:
tempo de celebrar a vida, de presentes, de muita comida e bebida, de encontros
e reencontros, de lugares repletos de gente, de amor e também de hipocrisia
(vamos ter o pé no chão, né?). Há anos que deixei de ter aquele sentimento de
que o Natal era uma época mágica e tão esperada por mim. Porém, sempre procuro
ouvir uma trilha sonora que me deixe mais leve no decorrer desta época do ano.
De todos
os artistas que eu ouço, nenhum é mais simbólico para mim nesta época do ano do
que John Lennon. Primeiro porque a primeira vez que eu tive contato com a sua
obra foi num fatídico mês de dezembro de 1993; Segundo, porque Lennon teve a
infelicidade de ser morto no mês de dezembro de 1980; Terceiro, e mais
importante de tudo, porque foi Lennon quem melhor soube traduzir este espírito
natalino para os dias de hoje. Sem consumismo, sem excessos, sem falsidade, com
um olhar de retrospecto aos anos que chegam e se vão.
Para a
música de John Lennon, todos eram iguais: não importa a sua cor, origem social,
idade. Todos fazem parte de um mundo completamente errado e que precisa
modificar sua essência. Não me refiro apenas às guerras, refiro-me ao preconceito,
ao medo que as pessoas demonstram em aceitar e acreditar naquilo que é novo e
uma série de outras coisas. Há uma série de guerras armadas, como também há uma
série de conflitos ideológicos, de princípios, de uma ode generalizada ao
desrespeito.
Quando saio
em busca das mensagens e dos acordes de Lennon, penso em como foi difícil para
ele celebrar a vida diante de tantas infelicidades que a própria lhe deu: uma
família desestruturada – Alf e Julia Lennon, pais do astro, viviam entre idas e
vidas e simplesmente colocaram o pequeno John de lado –, um primeiro casamento
fracassado com Cynthia, as turbulências com os Fab Four e as instabilidades em seu segundo casamento – este, ao
lado de Yoko Ono. Acredito que John levou muito tempo para acreditar na tal “magia
do Natal” e desejar votos desta tal de felicidade que ele demorou anos para
conhecer a todas as pessoas que ouvem a sua música.
Por isto,
é com o “espírito natalino” regado a John Lennon que eu desejo mais um Feliz
Natal para os que passam por aqui e leem o que temos a dizer. E que os dias que
estão por vir sejam melhores para todos, tal qual diz a canção...
Até breve,
Vinil
Happy Xmas (War Is Over)
John Lennon
So this is Christmas
And what have you done
Another year over
And new one just begun
And so this is Christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young
A very merry Christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear
And so this is Christmas (war is over...)
For weak and for strong (...if you want it)
The rich and the poor one
The world is so wrong
And so happy Christmas
For black and for white
For the yellow and red one
Let's stop all the fight
A very merry Christmas
And a happy new year
Let’s hope it's a good one
Without any fear
And so this is Christmas
And what have we done
Another year over
And new one just begun...
And so happy Christmas
We hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young
A very merry Christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear
Ao
querido Fabio Bridges e tantos
outros que viveram
(ou quiseram ter vivido) intensamente o ano de 1972.
A
pergunta que aparece aí no título está em aspas foi vista por mim pela
primeiríssima vez na bolsa de uma bela Professora de Espanhol que já trabalhou
comigo. É algo que eu adoraria responder, porém infelizmente não estava em
lugar algum quando o mundo viveu os ocorridos no ano de 1972 depois de Cristo.
Sou um filho dos anos 1980 e carrego nas minhas memórias afetivas (quase) tudo
que se produziu nesta década, mas principalmente o que se sucedeu antes de
1981, ano em que eu nasci.
Um
pouco complicado? Muito bem, vamos explicar...
Sempre
fui fascinado por tudo de bom e de ruim que os anos 1970 produziram em termos
musicais para a humanidade. Tenho um enorme respeito (e uma inveja declarada,
obviamente...) por aqueles que viveram “esta década mucho louca”. Ouço histórias desta época com um prazer redobrado e
cansei de pesquisar o que já se sabe sobre o período – com toda a modéstia,
isso não significa que sei tanto quanto outras pessoas que se encontram por
aí... Antes que surja a pergunta, eu já respondo: sim, eu queria ter vivido nos
anos 1970. Volta e meia eu me imagino vestindo calças boca de sino e sapatos
masculinos de salto alto, com aquelas roupas nada discretas e aquele hairdo bem típico daqueles dias –
lembrando apenas que gosto é algo que não se discute. Como não resolveram
conceder asas a esta cobra que aqui vos escreve, vamos disseminar a
informação...
*
Se
existe um ano nesta década que definiu de uma vez por todas o panorama musical
do planeta, não temos a menor sombra de dúvidas de que foi o ano de 1972 o
responsável por uma série de revoluções na música do Brasil e do planeta. Por
isso, vamos trazer 10 exemplos deste fato a partir de já:
10)
James Taylor – One Man Dog
One Man Dog,
quarto álbum de James Taylor, é um dos títulos mais raros de sua discografia.
Seu folk rock, seus “la-la-las” e
suas canções (algumas mini-suítes
instrumentais, alguns rocks e as
belas baladas de sempre!) estão muito bem assessorados pela produção eficiente
de Peter Asher e por seus fiéis músicos de apoio: Danny Kortchmar (Guitarras),
Clarence McDonald (Pianos e Teclados), Lee Sklar (Baixo) e Russell Kunkel
(Bateria). Além disso, o disco conta com as colaborações valiosas de músicos
tarimbados como Michael Brecker (Sopros), Carole King (Pianos) e as cantoras
Linda Ronstadt e a ex-esposa Carly Simon nos vocais de apoio.
One Man Dog é o álbum que marca o amadurecimento
musical de Taylor. A imagem do cantor, mais polida e menos descontraída, casa
com letras mais realistas e influenciadas pelas drogas (o cantor foi usuário de
drogas por muitos anos, um dos motivos que arruinaram seu primeiro casamento). Se
apenas ouvirmos pérolas como “Don’t Let Me Be Lonely Tonight” já temos motivos
para elegermos James Taylor como um dos músicos mais brilhantes de sua
geração... Um clássico que devemos resgatar e ouvir mais!
9)
Transa – Caetano Veloso
Depois
de viver quase três anos exilado em Londres ao lado de Gilberto Gil, Caetano
Veloso retornou definitivamente ao Brasil em janeiro de 1972. Além de trazer
muita saudade, o “Mano Caetano” trouxe na bagagem um dos discos mais cultuados
de sua extensa discografia: Transa,
cuja capa traz uma imagem do cantor já atualizada para os padrões da época –
com um look bastante andrógino, a imagem Caetano está envolta por uma moldura
vermelha e com dizeres que se assemelham às fontes tipográficas utilizadas
pelos Concretistas anos antes.
O
time de músicos escalados para este disco é estelar: Gal Costa (Vocais de
Apoio), Jards Macalé (Violões), Tutty Moreno (Bateria), o produtor (e
violonista!), Perinho Albuquerque e uma ainda desconhecida Angela Ro Ro – na
época, também vivendo em Londres – tocando uma discreta gaita na última faixa
do disco. Já as sete canções gravadas para este disco mesclam Português e
Inglês, letras originais, pontos de macumba e poemas barrocos adaptados para o
formato canção. Tudo isto sob o olhar
cinematográfico com algumas pitadas filosóficas do arauto do Tropicalismo.
“You
Don’t Know Me”, “Nine Out Of Ten”, “Nostalgia (That’s What Rock ‘n’ Roll Is All
About) e “Triste Bahia” são amostras de que, apesar de Caetano Veloso se utilizar
de palavras de outro idioma para se expressar, a arte deste mestre da canção soava
mais brasileira como nunca tinha soado até aquele momento...
8)
Elis Regina – Elis
A
carreira da Pimentinha tomou um rumo definitivo a partir do disco lançado por
ela em 1972. O repertório deste Elis
é mais político e a concepção musical ficou a cargo de César Camargo Mariano
(que modernizou o som da Musa do Beco das Garrafas). O canto da artista está
mais contido e menos exagerado como em trabalhos anteriores – sua voz estava no
auge da forma e emocionava milhões de brasileiros como nunca tinha feito
anteriormente.
Este disco já
nasceu clássico simplesmente porque lançou canções inéditas até então como
“Águas de Março” (Antônio Carlos Jobim), “Nada Será Como Antes” (Milton
Nascimento & Ronaldo Bastos), “Casa no Campo” (Zé Rodrix & Tavito), “20
Anos Blue” (Sueli Costa & Vitor Martins) e a obra-prima da parceria de
Chico Buarque e Francis Hime: “Atrás da Porta”. Esta última gravação em
especial foi tão emblemática que fez de Elis Regina Carvalho Costa a
estrela-guia das cantoras brasileiras. Elis é um trabalho essencial para
aqueles que querem se iniciar na obra de uma das maiores artistas deste país.
7)
Maria Bethânia – Drama: Anjo Exterminado
O
título deste LP – editado em CD recentemente – pode enganar os ouvintes mais
desavisados da filha cantora de Dona Canô. O Drama que Maria Bethânia lançou em 1972 (no ano seguinte, a Philips
lançou Drama: Luz da Noite – gravação
ao vivo do show deste disco) é um disco corajoso, arrojado e ousadíssimo para
os padrões da época – mérito dos arranjos e produção de Perinho Albuquerque,
produtor de vários trabalhos dos Velhos Baianos durante a década de 1970.
Do
ponto de umbanda até a faixa-título (composta por Caetano Veloso em homenagem à
irmã), Bethânia canta o melodrama presente no cancioneiro brasileiro – “Bom
Dia” (Aldo Cabral & Herivelto Martins), “Volta por Cima” (Paulo Vanzolini), “Maldição” (Alfredo Duarte &
Armando Vieira Pinto) –, o samba do recôncavo de Batatinha – “O Circo” –,
pérolas de futuros malditos da MPB como Luiz Melodia e Jards Macalé, além de
uma composição própria em parceria com o Mano Caetano (“Trampolim”). É um disco
político sem deixar de ser poético. Moderno sem deixar de estar calcado na
tradição. E acima de tudo, um disco que revela o essencial da arte de Maria
Bethânia Viana Telles Veloso.
6) Stevie Wonder – Talking
Book
Em
1972, “Mr. Maravilha” já tinha deixado de ser o Little Stevie que seguia a
cartilha musical da gravadora Motown. Este “livro
falante” não era apenas o grito de independência artística definitivo de um
gênio, como acabou se tornando uma das peças fundamentais da obra de Stevie
Wonder e da música mundial.
Entre
baladas de amor (“You Are The Sunshine Of My Life”, “You And I”) e grooves
sensacionais (“Superstition”, “Tuesday Heartbreak”) e algumas pitadas de
discurso político contra os EUA da época (“Big Brother”), Talking Book é uma experiência musical quarentona que não distingue
sexo, cor ou idade, tal qual qualquer obra-prima...
5) Gilberto Gil – Expresso
2222
O
ano de 1972 foi um ano felicíssimo para a música brasileira. O retorno de
Gilberto Gil ao território brasileiro depois de quase três anos de exílio em
Londres foi comemorado por muitos de nós. O Brasil ainda penava com os males da
ditadura militar de Médici e seus comparsas, enquanto a classe musical ia obtendo
seu ganha-pão graças a muitos jogos de palavras, metáforas e irreverência.
O
Expresso de Gil, tão enriquecido de
sons, versos e ritmos tal qual o “livro falante” de Stevie Wonder, é uma
verdadeira aula de música brasileira. O filho de D. Claudina queria nos levar
para o futuro, porém cabe aqui a seguinte pergunta: que futuro seria este? Resposta: um tempo no qual a música deste país
consegue conviver com diversas tendências da cena internacional sem deixar de
se pautar no melhor da nossa tradição musical, com um discurso despudoradamente
místico e alegre. Canções como “Back in Bahia”, “Oriente” e as regravações de “Sai
do Sereno”, “Chiclete com Banana” e “Cada Macaco no Seu Galho (Chô, Chuá) são
provas não apenas disto, como também do que a máquina de ritmo de Gil sabe fazer de melhor: música de qualidade!
4)
Carly Simon – No Secrets
Para
o seu 3.º disco solo, Ms. Simon decidiu ir em busca do melhor produtor musical
do ramo naqueles idos de 1972 – Richard Perry, que já tinha trabalhado até
aquele momento com nomes de altíssimo peso (Ella Fitzgerald, Fats Domino,
Barbra Streisand, Harry Nilsson) do mundo musical. Gravado em Londres, No Secrets teve a presença de músicos
ilustríssimos: Mick Jagger canta os vocais de apoio de “You’re So Vain”, o casal
Paul & Linda McCartney deram um canja de altíssimo peso em “Night Owl”, James
Taylor – na época, namorado de Simon – fez várias pontas neste disco.
Este
disco reúne o melhor repertório da filha de Richard Simon (co-fundador da Simon
& Schuster, uma gigante empresa do mercado editorial norte-americano) em
mais de 40 anos de carreira: o lirismo de “The Right Thing To Do”, “Embrace Me,
You Child” e “When You Close Your Eyes” contrasta com a (leve) acidez contida
em “It Was So Easy”, “The Carter Family”, “His Friends Are More Than Fond Of
Robin”, “(We Have) No Secrets” e o mega clássico “You’re So Vain”. Com exceção
da identidade do muso inspirador desta última faixa (Jagger? Taylor? Kris Kristofferson?
Warren Beatty?), Carly Simon não tinha segredos para esconder de seu público. Ainda bem...
3) David Bowie – The
Rise & Fall of Ziggy Stardust & The Spiders From Mars
Até
1972, o autor deste disco era um mero cantor que tinha um futuro musical
promissor. A partir de Ziggy Stardust...,
David Bowie se tornou um rockstar de
primeiríssima grandeza.
Tendo
Mick Ronson como seu fiel escudeiro, Bowie arquitetou sua obra-prima e lançou
várias das faixas deste disco para a história – “Starman”, “Soul Love”, “Suffragette
City” e a faixa título se tornaram obrigatórias em várias turnês seguintes do
astro. A intensidade que David Bowie imprimiu ao seu melhor personagem foi tanta
que, ao final da turnê, Ziggy precisava ser morto de forma que a arte não se
sobrepusesse à vida. As saudades dos fãs são muitas, todavia foi uma decisão acertada
de Mr. David Jones, afinal, ele queria encontrar novas (e mais desafiadoras)
maneiras de ser eterno. E, pelo
visto, trabalhos posteriores como Young
Americans (1975), a trilogia Low –
Heroes – Lodger (1977-1979), Let’s
Dance (1983), Outside (1995), Earthling (1997), ‘Hours...’ (2000) e Reality (2003)
conseguiram renovar a figura mítica em torno deste artista tão singular, porém
sem o mesmo charme de The Rise & Fall
of Ziggy Stardust & The Spiders From Mars.
2)
Novos Baianos – Acabou Chorare
O
que é, o que é? Um grupo de desbundados com muitas ideias musicais na cabeça
vivendo em uma comunidade hippie e
que resolve misturar João Gilberto, Jimi Hendrix e o melhor da nossa tradição
musical com algumas pitadas do que os tropicalistas nos ensinaram? Se você
pensou nos Novos Baianos e o seu segundo disco, Acabou Chorare, acertaste em cheio!
Durante
os anos da ditadura militar brasileira, o jovem que queria se rebelar contra o
sistema tinha duas parcas opções: ou ele decidia pegar em armas e se debater
com os milicos na rua, ou então, decidia se tornar um junkie e automaticamente
riscava do seu dicionário todos aqueles ideais de “Brasil: País do Futuro” ou
“Brasil: Ame ou Deixe-o” para curtir os astros e demais curtições através de
ácidos, pílulas e várias baforadas da erva maldita! Baby Consuelo (convertida, hoje em dia, na “Popstora” Baby do Brasil), Moraes
Moreira, Pepeu Gomes e Galvão eram os embaixadores de uma nova ordem musical e
lideravam um grupo de músicos gigantesco e foram as peças fundamentais não
apenas de algo novo que surgia, como também de uma parcela da juventude
brasileira que discordava, a seu modo, do que acontecia no Brasil de 1972
através do uso indiscriminado de substâncias ilícitas e de uma criatividade
musical e poética sem tamanho.
Enquanto
Caetano e Gil (já considerados como velhos baianos, vejam só!) ainda não davam as
caras por aqui, os Novos Baianos decidiram buscar em João Gilberto referências
de uma “linha evolutiva” que foi interrompida com o sufocamento do Tropicalismo
e fizeram de canções como “Mistério do Planeta” (Morais & Galvão), “Besta é Tu” (Morais, Galvão & Pepeu Gomes), “Preta Pretinha” (Morais & Galvão), “Brasil
Pandeiro” (Assis Valente), “Tinindo Trincando” (Morais & Galvão) e a faixa-título obras-primas da canção
brasileira. Acabou Chorare é um disco
para ser ouvido não apenas como uma referência do pensamento do Brasil em 1972,
mas como um dos gritos de liberdade mais originais que o planeta já ouviu...
1)The Rolling Stones – Exile On Main Street
Em
1972, os ingleses Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Bill Wyman e Mick
Taylor eram nada mais, nada menos do que um grupo de músicos sem pátria tocando
em uma banda que vivia à beira da separação. Um tanto radical? Sim. Porém, não
havia jeito... Ao contrário de vários brasileiros, que tiveram que buscar
exílio na França para escapar da repressão política, os Rolling Stones
resolveram se instalar na Riviera Francesa para fugir do cerco do fisco do Reino
Unido. Um casarão lúgubre de Villa Nellcote foi o berço de um dos álbuns mais
controvertidos e discutidos de toda a história: Exile On Main Street, disco que ocupa o topo deste TOP 10 afetivo.
Quando
Exile foi lançado como LP duplo, em
meados de 1972, quase ninguém (para não dizer nenhuma viva alma!) entendeu o
que os Stones tinham a dizer. Várias críticas foram bastante negativas ao disco
que, hoje em dia, é visto por fãs, especialistas (e pelos próprios músicos) como
“a obra-prima do grupo”. Em 18 pérolas originais (e mais algumas inéditas que
foram lançadas em uma edição especial de 2010), notamos como Mick Jagger estava
no auge de sua forma vocal (estourando as cordas vocais de tanto cantar alto,
feito que nem o próprio conseguiu igualar anos depois!); Keith Richards e Mick
Taylor faziam de seus riffs e solos
de guitarra verdadeiros arsenais de artilharia sonora; Bill Wyman e Charlie
Watts eram a cozinha mais elegante e completa do Rock ‘n’ Roll com a imbatível parceria entre baixo e bateria; Os
músicos de apoio não ficavam atrás dos membros da banda porque eram de uma
eficiência sem tamanho: Nicky Hopkins nos pianos e outras teclas de todos os
tipos, Bobby Keyes e Jim Price davam a elegância dos sopros à maioria das
faixas do disco, as vocalistas de apoio Venetta Fields e Clydie King (negras,
evidentemente!) davam o apoio essencial à voz de Sir Jagger e ao som afro-americano dos Rolling Stones.
A
capa do disco mostra uma quantidade diversa de universos paralelos – são fotos
em preto e branco de pessoas anônimas misturadas a Jagger e o seu olhar de
eterno desdém; Richards e sua aura de pirata; Watts, Wyman e Taylor como os
coadjuvantes necessários para que todas as pedras rolem juntas pelos ouvidos
das pessoas. Canções sobre sexo, delírios, jogatinas, política, desilusões
amorosas, esperanças perdidas e tantas outras que poderiam ser encontradas em
algum verso menos óbvio de Exile On Main
Street. Não se trata de um disco para ouvir uma faixa ou duas, é um disco
para se ouvir inteiro num sábado de manhã e com o volume bem alto! Para o bem
dos Stones, Jagger, Richards & Cia. conseguiram fazer do amargor do exílio
uma obra imprescindível para a história da música do planeta. Por isso, ouça-o!
*
Voltando
a pergunta do post de hoje, eu não
sei onde eu estava em 1972, mas sei que os caras que estão aqui hoje estavam no
ápice de suas carreiras no decorrer deste ano. Seus acordes ressoam como nunca
40 anos depois. E se depender deste blog
travestido de máquina do tempo, as notas continuarão ressoando...
Leia
mais sobre outros discos lançados em 1972 no blogPequenos Clássicos Perdidos, mantido pelo
Mestre Fabio Bridges:
Se eu pudesse escolher uma canção para cantar para a lindona da KD Lang, eu escolheria uma do Billy Paul que diz assim: "Thanks for savin' my life, / for pickin' me up / Dusting me off, making me feel like I'm livin' again..."
"Há em tudo o que fazemos
uma razão singular:
É que não é o que queremos
Faz-se porque nós vivemos
E viver é não pensar.
Se alguém pensasse na vida
morria de pensamento.
Por isso, a vida vivida
é essa coisa esquecida
entre um momento e um momento.
Mas nada importa que o seja
ou até que deixe de o ser:
mal é que a moral nos reja,
bom é que ninguém nos veja;
Entre isso fica viver"
(Fernando Pessoa, citado por Zélia Duncan em seu show Pelo Sabor do Gesto)
Gosto de
viver, apesar de saber que esta é uma tarefa bem difícil. Gosto de escrever,
mesmo sabendo que o tempo que eu tenho para me dedicar a este blog é bem menor do que eu gostaria. Gosto
muito de me expressar, pois sei que cada post é uma tentativa que faço para
compreender o universo e expor a maneira pela qual eu vejo as coisas.
Não tive tantas razões para sorrir
nos últimos 30 dias. A decepção com algumas pessoas me fez paralisar temporariamente,
porém como bom aquariano que sou, meu lema é sempre o mesmo: andar para frente
sem ficar perdendo muito tempo com o que ficou para trás, afinal fazer um museu
de si próprio não é nada interessante – é, muitas vezes, uma tremenda tortura.
E o que podemos fazer para espantar
a tristeza e a decepção do nosso caminho? Ouvir música da boa, é claro! Certa vez,
depois de um final de semana prolongado que eu enterrei no museu dos meus
esquecimentos, me lembrei de um escrito em uma camiseta de uma roqueira
brasileira famosa que dizia “Music Saves” – nunca pensei que isto fosse soar
algo tão genuíno – e resolvi fazer minhas andanças em busca de novas aquisições
musicais para a minha vasta coleção de CDs. Estava caminhando pela rua Teodoro
Sampaio, em São Paulo, quando achei um título que há muito tempo queria
conhecer: uma coletânea de KD Lang chamada Recollection.
Ao encontrar aquela maravilha em promoção em um sebo da Teodoro, veio a
lembrança de que Lang cantava uma das canções mais alegres que eu já ouvi em 30
e poucos anos de retinas um tanto fatigadas: “Summerfling”. Ao saber que esta
(além de outros hits) compunha o CD
duplo que eu encontrei nas minhas mãos em um dia nefasto do mês de outubro,
resolvi não pensar duas vezes e peguei o cartão de crédito para efetuar a
compra!
Uma coleção e tanto! OUÇA!!!
“Summerfling” é mais do que uma mera
declaração de amor a uma paixão (passageira ou não!), é uma ode e tanto à vida
com direito à alegria do verão que existe dentro de cada um de nós. É um recado
aos que estão alegres e tristes, é uma celebração da felicidade que existe nas
coisas simples e no simples fato de como é importante estarmos ao lado de quem
nos quer bem...
SUMMERFLING
(K.D. Lang / David Plitch - 2000)
Early
morning mid July
Anticipation`s making me high
The smell of Sunday in our hair
We ran on the beach with Kennedy flair
Sweet, sweet burn of sun and summer wind
And you my friend, my new fun thing, my summerfling
Laugh, oh how we would laugh at anything
And so pretend a never ending summerfling
This uncommon kinda breeze
Did with our hearts whatever it pleased
Forsake the logic of perfect plans
A perfect moment slipped through our hands
Sweet, sweet burn of sun and summer wind
And you my friend, my new fun thing, my summerfling
Laugh, oh how we would laugh at anything
And so pretend a never ending summerfling
Strange the wind can change so quickly without a word of warning
Rearrange our lives until they`re torn in two
Sweet, sweet burn of sun and summer wind
And you my friend, my new fun thing, my summerfling
Laugh, oh how we would laugh at anything
And so pretend a never ending summerfling
O clipe de
“Summerfling” mostra uma KD Lang sorridente, quase esfuziante,
surpreendentemente feminina e, principalmente,
vivendo o que a vida pode nos proporcionar de melhor. Há momentos em que
necessitamos de determinados tropeços para que possamos sorrir com mais
intensidade, por isso, se existem portas que se fecham, certamente haverá
portões que se abrem para nós. George Harrison dizia, afinal, que “Love Comes
to Everyone” – e, quer saber? Ele estava certíssimo!
Love Comes to Everyone
(George Harrison - 1979)
Go do
it,
Got to go through that door,
There's no easy way out at all . . .
Still it only takes time
'Til love comes to everyone.
For you
who it always seems blue
It all comes, it never rains
But it pours,
Still it only takes time . . .
'Til love comes to everyone.
There
in your heart . . .
Something that's never changing;
Always a part of . . .
Something that's never ageing,
That's in your heart . . .
It's so
true it can happen to you all; there,
Knock and it will open wide,
And it only takes time
'Til love comes to everyone.
Por fim, o
melhor é ser como a KD Lang – a quem eu devo a proeza de ter me salvo naquele
tal dia – e (tentar) viver a vida como se ela fosse um eterno verão, uma eterna
paixão de carnaval. Como a minha memória e os meus pensamentos são extremamente
musicais, me lembrei de “Not Too Late”, uma das canções mais bonitas do
repertório de Norah Jones, outra cantora de quem eu gosto muitíssimo. Quando estamos
em vida, nunca é tarde para dizermos o quanto nos importamos com quem nós
amamos.
NOT TOO
LATE
(Norah
Jones / Lee Alexander - 2006)
Tell me how you've been,
Tell what you've seen,
Tell me that you'd like to see
me too.
'Cause my heart is full of no
blood,
My cup is full of no love,
Couldn't take another sip even
if I wanted.
But it's not too late,
It’s not too late for love.
My lungs are out of air,
Yours are holding smoke,
And it's been like that for so
long.
I've seen people try to change,
And I know it isn't easy,
But nothin' worth the time ever
really is.
And it's not too late,
It's not too late for love,
For love,
For love,
For love.
Depois que
o mal já estiver feito e/ou depois que partirmos para o próximo plano – se é
que realmente há um –, não vale a pena rememorar o que ficou para trás, basta
esquecer (principalmente daquelas pessoas que te fazem mal!) o que ficou pelo
caminho. Vale viver o que a vida nos oferece. Com resignação, mas sem excessos
de conformismo – afinal, o sistema adora
pessoas que se conformam com tudo e eu não estou aqui para me conformar, estou
para ir adiante...
E que o ex-Beatle fale por todos nós!!!
Blow Away
(George Harrison - 1981)
Day turned black, sky ripped apart
Rained for a year 'til it dampened my heart
Cracks and leaks
The floorboards caught rot
About to go down
I'd almost forgot.
All I got to do is to love you
All I got to be is, be happy
All it's got to take is some warmth to make it
Blow Away, Blow Away, Blow Away.
Sky cleared up, day turned to bright
Closing both eyes now the head filled with light
Hard to remember what a state I was in
Instant amnesia
Yang to the Yin.
All I got to do is to love you
All I got to be is, be happy
All it's got to take is some warmth to make it
Blow Away, Blow Away, Blow Away.
Wind blew in, cloud was dispersed
Rainbows appearing, the pressures were burst
Breezes a-singing, now feeling good
The moment had passed
Like I knew that it should.
All I got to do is to love you
All I got to be is, be happy
All it's got to take is some warmth to make it
Blow Away, Blow Away, Blow Away…
* O post de
hoje é dedicado a todos os meus amigos que passam por aqui, em especial para o
Nilton M. Serra, que completa 31 anos de idade no mesmo dia em que a Trova # 13 vai ao ar!