21 de junho de 2016

ESTAMOS NA CENTRAL DO TEXTÃO!!!

 Este reles blogueiro não poderia estar mais feliz em divulgar este acontecimento!

A partir desta semana, o Trovas de Vinil passou a fazer parte do site Central do Textão, o Blog dos Blogs. Tem muita coisa bacana por lá: páginas sobre viagens, sobre feminismo, sobre literatura... Enfim, um ponto de encontro obrigatório e imperdível para os blogueiros e os leitores de blogs!

Nossos posts também podem ser encontrados na Central. Para você acessar o site, basta clicar no banner à sua direita (para quem visualiza o Trovas na versão para computadores) ou ir diretamente ao endereço: www.centraldotextao.com

Tina Lopes, muito obrigado por esta oportunidade maravilhosa!
Também quero agradecer à Ana M. D. Oliveira por me apresentar a Central graças à sua Psiulândia...

Um abraço a todos do
Vinil 




17 de junho de 2016

TROVA # 74

CHAMAS MUSICAIS DA MADRUGADA
(ou tentando dormir ao som de Tori Amos e Leonard Cohen...)



"And I'm so sad like a good book
I can't put this day back
A sorta fairytale with you
A sorta fairytale with you..."
(Tori Amos, "A Sorta Fairytale", canção de seu disco Scarlet's Walk, de 2002)

"Goodnight, my darling, 
I hope you're satisfied, 
The bed is kind of narrow,
But my arms are open wide. 
And here's a man 
still working for your smile."
(Leonard Cohen, "I Tried to Leave You", canção de seu disco New Skin for The Old Ceremony, de 1974)

Quando as madrugadas se tornam sinônimo de insônia plena, o jeito é recorrer ao celular para tentar distrair a cabeça e deixar de pensar nos problemas do momento. Muitas vezes sou levado invariavelmente aos rumos propostos pela música. 

Leonard Cohen, um Poeta em cena...

Lembro certa vez de ter passado uma noite quase inteira de quinta para sexta-feira - geralmente o momento mais infeliz para ficar acordado, pois muita coisa já ocorreu durante uma semana de trabalho e ainda há mais um leão a ser morto antes de irmos felizes e contentes para o final de semana - ouvindo Leonard Cohen no modo repeat. Precisava escrever um texto técnico chatíssimo, em inglês, e que tinha que ser entregue na manhã daquela sexta-feira de 2013. O que deveria ser o fogo brando para te manter em pleno conforto e perto da inspiração, me deixou completamente inquieto por causa da poesia inebriante do nobre canadense. Consegui escrever o que era preciso, mas depois de ficar vidrado no som de "The Gypsy's Wife" e "I Tried to Leave You".


Leonard Cohen & Suzanne Elrod em Miami (1973)

Leonard compôs a canção no primeiro semestre de 1979, na ocasião da gravação de seu sexto álbum, Recent Songs. A infidelidade da musa amada e a angústia do homem em busca de seu amor em estado de fuga emparelhavam com a separação de Cohen de Suzanne Elrod, sua companheira de anos e mãe de seus dois filhos - Adam e Lorca. Ao mesmo tempo, minhas angústias e meus questionamentos em relação à vida e a carreira se faziam cada vez mais frequentes.


Para coroar ainda mais aquela madrugada de sonhos nada tranquilos e tentar me concentrar no trabalho que precisava acabar, decidi seguir para a canção de Leonard Cohen que mais me toca: "I Tried to Leave You", lançada originalmente no álbum New Skin for The Old Ceremony, de 1974. Acabei me lembrando da primeira vez em que ouvi este clássico, durante um evento de professores no qual a única pessoa que conhecia a arte de Cohen era eu e o palestrante, e fiquei refletindo mais intensamente a respeito dos rumos que a minha tomava naquele momento. Mais uma canção sobre desilusão amorosa, mais uma crise reflexiva sobre o nosso amor próprio. E a noite seguia interminável...


Pensei que epifanias geradas a minutos angustiantes de insônia não aconteceriam comigo tão cedo. Primeiro porque achar palavras para descrever estados de espírito em plena madrugada é bem difícil para quem precisa viver e produzir obrigatoriamente à luz do dia (sempre achei a vida boêmia de pessoas que escrevem e trabalham seus escritos à noite um tremendo luxo). Em segundo lugar porque nem sempre somos atingidos por chamas musicais que nos tragam insights às quatro ou cinco horas da manhã. Terceiro, e mais importante, o cansaço que surge depois de uma noitada de insônia é incalculável. Porém, sempre há uma preocupação que nos mantém acordado e uma trilha sonora para acompanhar a angústia que carcome a nossa calma e o nosso sono...

Tori Amos, o fogo em teclas pretas e brancas...



Estava navegando pela Apple Music quando "caí" acidentalmente em uma playlist que me trouxe a voz, o piano e a poesia incendiária da cantora e compositora norte-americana Tori Amos. Fui inebriado pela melancolia intensa da bela ruiva e fiquei sem dormir por mais algumas horas. "A Sorta Fairytale", carro-chefe de Scarlet's Walk, seu álbum de 2002, me tomou de assalto e me fez pensar mais uma vez nos encontros e desencontros amorosos que nos conduzem pela vida afora. Como curioso incurável que sou, fui até o Google e ao YouTube e descobri o belo é perturbador clipe gravado por Tori na época, que contou com a participação especial do ator Adrien Brody, ganhador do Oscar de Melhor Ator por O Pianista.

Tori Amos & Adrien Brody no videoclipe de "A Sorta Fairytale" (2002)


Graças à uma insônia que insiste em me perturbar e à minha eterna capacidade de racionalizar e explicar tudo, acabei me apaixonando por Tori Amos. As chamas das paixões musicais precisam nos queimar durante a madrugada para que possamos sentir a beleza da sensibilidade de um artista comprometido em trazer o mais profundo recôndito de suas paixões em forma de canção. É através deles que tentamos achar respostas para as nossas perguntas que nunca terão fim...


12 de junho de 2016

TROVA # 73

O AMOR EM TEMPOS DE PÓLVORA



Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
(Milton Nascimento & Caetano Veloso, 1978)


There is good and bad in ev'ryone
We learn to live, we learn to give
Each other what we need to survive together alive
(Paul McCartney, 1982)


Twister does anyone see through you
You're a twister, an animal
But you're so happy now
I didn't go along with you
(Dolores O'Riordan & Noel Hogan, 1995)


Se Gabriel García Márquez fosse ainda vivo e tivesse que escrever uma crônica sobre o dia 12 de junho de 2016, ele poderia colocar o título do texto que escrevo neste momento sem a menor sobra de risco. Acordei no dia de hoje com a determinação em escrever algo sobre o Dia dos Namorados, que é comemorado a cada décimo-segundo dia do sexto mês do ano. No entanto, meus planos foram mais uma vez por água abaixo.
Fiquei perplexo em saber que um atirador tinha entrado na Pulse, uma das boates gays mais famosas de Orlando (FL, EUA) e executou 50 pessoas covardemente, deixando vários feridos. Motivado por homofobia, incomodado com a possibilidade de poder fazer justiça de acordo com os seus sentimentos mais perversos, realizou um ato de pura psicopatia e tirou a vida de dezenas de pessoas que estavam ali para se divertir, para celebrar o seu amor e o seu orgulho em não ter que se curvar às convenções e instituições que ainda fiscalizam a vida sexual de cada um.


O que me deixou ainda mais chocado foi saber que ataques à mão armada como o que ocorreu nos Estados Unidos vitimam milhares de habitantes. Ou seja, a maioria dos norte-americanos está completamente acostumada em saber pelos telejornais, por exemplo, de que facínoras saem com armas em punho todo santo dia motivados por uma série de motivos escusos (religiosos, especialmente) para matar qualquer indivíduo que não esteja de acordo com seus princípios antidemocráticos. Nada tão surpreendente para quem viu e viveu eventos históricos sangrentos como a fatídica Maratona de Boston, o massacre de San Bernardino, a execução na Columbine High School, o assassinato de John Lennon por Mark Chapman, o desaparecimento violento de Martin Luther King e dos irmãos Kennedy, os famigerados ataques de 11 de setembro de 2001.
É fato público e notório de que os Estados Unidos da América, obcecados por normas e mais normas de segurança (vide a burocracia infernal que nós, estrangeiros, enfrentamos ao adentrar qualquer aeroporto norte-americano), padecem de uma doença social agudíssima. Para curá-la existe um remédio amargo para alguns e necessário para todos: o desarmamento do cidadão comum. Enquanto armas continuarem sendo vendidas a torto e a direito para qualquer um comprar, o sangue de inocentes continuará a ser derramado em vão.


Lembro de uma polêmica ocorrida com a cantora norte-americana Sheryl Crow na ocasião do lançamento de seu segundo álbum, em 1996. Vale lembrar que só a capa do disco já demonstrava que a mocinha não estava nem um pouco interessada em ser uma pop star fofa e querida como Alanis Morissette ou Mariah Carey. Em uma das faixas do disco, “Love is a Good Thing”, disse a bela Sheryl despreocupada com a opinião de cachorros grandes: “Watch out sister, watch out brother, / Watch our children while they kill each other / With a gun they bought at Wal-mart discount stores” [Se liga, irmã; se liga, irmão / Veja nossas crianças matando umas às outras / Com uma arma que eles compram nas lojas de descontos do Wal-mart]. A resposta dos comerciantes foi o boicote massivo dos CDs da artista de todas as maneiras possíveis. Por outro lado, o respeito dos fãs por Miss Crow ter colocado o dedo em uma ferida tão aberta do povo de seu país só aumentou...



Tenho a esperança de que Sheryl Crow não seja uma voz isolada a cantar a necessidade de atitudes mais humanas e sensatas. Afinal de contas, amar sem barreiras e distinções em tempos de pólvora está se tornando uma tarefa praticamente impossível. Creio no amor como uma maneira de amenizar a cultura do ódio extremista que permeia as relações dos seres humanos no século XXI. Assim, o amor entre iguais – algo intolerável para conservadores, fascistas e facínoras de todos os tipos – deixa de ser visto como uma mera “ditadura da minoria” e passa a ser visto como um direito adquirido e que merece ser respeitado. Minha voz não soa em vão. Ela há de encontrar outras para lutar para que mais ninguém seja penalizado por demonstrarmos o mais puro de nossos sentimentos, Afinal, já diziam os mestres: "qualquer maneira de amor vale a pena"...

Se você se sentir incomodado com estas cenas, recomendamos que você saia à procura de ajuda especializada urgentemente. Homofobia tem cura! Montagem: Ana M. D. Oliveira



5 de junho de 2016

TROVA # 72

“RIO É AMOR”
(ou “Eu não sei dizer / nada por dizer”...)

Foto: Nilton Serra

Falam de Paris de LaFrance de L’Amour
Dizendo que lá tudo é bom
Mas é aqui que a gente sente
Neste Rio quente, quente
O verdadeiro hino do amor.
(“Rio é Amor”)

Brasil, quem te vê e te conhece
Nunca mais de ti se esquece,
E te traz no coração
(“Inspiração”)

(Canções de Bruno Marnet gravadas por Ângela Maria e interpretadas por Ney Matogrosso em seu espetáculo Estava Escrito [1995], em homenagem à bela Sapoti)


Depois de dez anos longe do Rio de Janeiro, cidade que me trouxe ao mundo, sempre sinto uma enorme alegria é uma pontinha de tristes quando faço o caminho do “retorno às origens”. Em primeiro lugar porque a Cidade Maravilhosa se tornou cada vez mais estranha para mim – apesar de toda a sua indiscutível beleza; em segundo lugar, porque vejo o Rio em um dos momentos mais críticos de toda a sua existência.
Foto: Nilton Serra

A felicidade de poder realizar o lançamento de meu primeiro livro nesta cidade é algo pelo qual ainda não sei descrever com exatidão. Poder compartilhar a fina flor do seu trabalho com os meus conterrâneos e cariocas de coração é simplesmente gratificante. Uma honra. Um bálsamo. Uma grande realização pessoal. Um desejo realizado. Porém, ao assistir o noticiário matutino nos informando o andar da carruagem pelos lados de cá, me deu uma preocupação enorme. Tudo bem que o que está sendo dito por aí era algo que já constatava pelos jornais e pelas redes sociais dos amigos e conhecidos, mas ver o discurso na prática foi (e tem sido) bem doloroso.

Foto: Nilton Serra

         A segurança pública nas ruas é praticamente inexistente – a Polícia anda tão desaparelhada ao ponto de membros da sociedade se verem obrigados a arrecadar dinheiro para comprar bicicletas para que os policiais possam ajudar a manter a ordem (isso porque estamos falando dos bairros mais centralizados). O sistema local de saúde ainda é o retrato do caos e do descaso dos poderosos com as camadas mais humildes da população carioca. Vários museus – e boa parte do patrimônio cultural da antiga Capital Federal – se encontram em um estado digno de pena enquanto o portentoso e belo Museu do Amanhã expõe as nossas contradições a céu aberto, ao lado da eternamente imunda Baía de Guanabara. Os servidores públicos e a Educação se encontram reféns de um Estado moral e financeiramente falido enquanto muitos se preparam para receber os Jogos Olímpicos de 2016: escolas ocupadas, servidores em greve e sem perspectivas de reajuste salarial enquanto muitos se preocupam em saber por onde anda a Tocha Olímpica...

Foto: Nilton Serra

         Em contrapartida, a ocupação das escolas estaduais e do palácio Gustavo Capanema tem nos demonstrado que a insatisfação dos cariocas com os rumos que a cidade e o país vem tomando é bem gritante. Os manifestantes declararam que não pretendem recuar não for solucionado enquanto o impasse em relação à educação, ao (brevemente) extinto Ministério da Cultura e ao Governo Federal ilegítimo de Michel Temer. Em meio ao luxo e ao lixo, aos que possuem muito e aos que mal conseguem se sustentar com o pouco que têm em mãos, palavras de ordem se encontram escritas e pichadas por muitos cantos da cidade. O Rio de Janeiro ainda é sinônimo de amor, apesar de tanto descaso de seus governantes em relação aos cariocas. Os hinos de amor se apresentam através de protestos políticos e que pedem mais carinho pela Cidade Maravilhosa amada por tantos...

Foto: Nilton Serra

Bem, parece que o Cristo Redentor não tem encontrado muitos motivos para ficar de braços abertos para nós. No entanto, as belezas da Cidade Maravilhosa estão protegidas pelos artistas eternizados em forma de estátua – Drummond e Braguinha estão em Copacabana para nos alumiar com a sua irreverência e sua poesia; Clarice Lispector e Tom Jobim podem ser (re)encontrados no Leme e em Ipanema para que possamos lhes pedir a bênção e proteção. Fazer este périplo era uma obrigação para um escritor amador e em início de carreira como eu.

Nós & Clarice

         Passar um final de semana prolongado no Rio de Janeiro em um momento tão crítico para lançar um livro sobre um grupo que é a maior representação de liberdade em forma de música é de uma ironia tremenda. Na verdade (e digo isso sem a menor pretensão), é algo necessário em meio ao “purgatório da beleza e do caos” gigantesco que muitos cariocas estão vivendo. Tenho a esperança de que as canções do Secos & Molhados sejam um alento e um incentivo não apenas para que a crença na luta por dias melhores ainda esteja viva, como também possibilite o simples prazer de fazer algo de bom para os outros...

Foto: Nilton Serra

PAUSA PARA O COMERCIAL:

Nosso livro no Moviola Bistrô
Foto: Vinícius Rangel

Se você quiser adquirir o livro “O Doce & O Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música brasileira” (Ed. Terceira Margem), é só entrar em contato comigo por e-mail (vinnieprof@gmail.com) ou ligar para o Moviola Bistrô – Rua das Laranjeiras 280 – Lojas B e C – Tel. (21) 2285-8339 / 3040-2800 – e encomendar o seu exemplar.

Lançamento do Livro O Doce & O Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música brasileira no Rio de Janeiro 
Foto: Nilton Serra