Este reles blogueiro não poderia estar mais feliz em divulgar este acontecimento!
A partir desta semana, o Trovas de Vinilpassou a fazer parte do site Central do Textão, o Blog dos Blogs. Tem muita coisa bacana por lá: páginas sobre viagens, sobre feminismo, sobre literatura... Enfim, um ponto de encontro obrigatório e imperdível para os blogueiros e os leitores de blogs!
Nossos posts também podem ser encontrados na Central. Para você acessar o site, basta clicar no banner à sua direita (para quem visualiza o Trovas na versão para computadores) ou ir diretamente ao endereço: www.centraldotextao.com
Tina Lopes, muito obrigado por esta oportunidade maravilhosa!
Também quero agradecer à Ana M. D. Oliveira por me apresentar a Central graças à suaPsiulândia...
CHAMAS
MUSICAIS DA MADRUGADA (ou tentando dormir ao som de Tori Amos e Leonard Cohen...)
"And I'm so sad like a good book
I can't put this day back
A sorta fairytale with you
A sorta fairytale with you..."
(Tori Amos, "A Sorta
Fairytale", canção de seu disco Scarlet's Walk, de 2002)
"Goodnight, my darling,
I hope you're satisfied,
The bed is kind of narrow,
But my arms are open wide.
And here's a man
still working for your smile."
(Leonard
Cohen, "I Tried to Leave You", canção de seu disco New
Skin for The Old Ceremony, de 1974)
Quando as madrugadas se tornam sinônimo de insônia plena, o jeito é
recorrer ao celular para tentar distrair a cabeça e deixar de pensar nos
problemas do momento. Muitas vezes sou levado invariavelmente aos rumos
propostos pela música.
Leonard Cohen, um Poeta em cena...
Lembro certa vez de ter passado uma noite quase inteira de quinta para
sexta-feira - geralmente o momento mais infeliz para ficar acordado, pois muita
coisa já ocorreu durante uma semana de trabalho e ainda há mais um leão a ser
morto antes de irmos felizes e contentes para o final de semana - ouvindo
Leonard Cohen no modo repeat. Precisava escrever um texto técnico
chatíssimo, em inglês, e que tinha que ser entregue na manhã daquela
sexta-feira de 2013. O que deveria ser o fogo brando para te manter em pleno
conforto e perto da inspiração, me deixou completamente inquieto por causa da
poesia inebriante do nobre canadense. Consegui escrever o que era preciso, mas
depois de ficar vidrado no som de "The Gypsy's Wife" e "I Tried
to Leave You".
Leonard Cohen & Suzanne Elrod em Miami (1973)
Leonard compôs a canção no primeiro semestre de 1979, na ocasião da
gravação de seu sexto álbum, Recent Songs. A infidelidade da musa
amada e a angústia do homem em busca de seu amor em estado de fuga emparelhavam
com a separação de Cohen de Suzanne Elrod, sua companheira de anos e mãe de seus dois filhos - Adam e Lorca. Ao mesmo
tempo, minhas angústias e meus questionamentos em relação à vida e a carreira se faziam cada vez mais frequentes.
Para coroar ainda mais aquela madrugada de sonhos nada tranquilos e tentar me
concentrar no trabalho que precisava acabar, decidi seguir para a canção de
Leonard Cohen que mais me toca: "I Tried to Leave You", lançada
originalmente no álbum New Skin for The Old Ceremony, de 1974.
Acabei me lembrando da primeira vez em que ouvi este clássico, durante um
evento de professores no qual a única pessoa que conhecia a arte de Cohen era
eu e o palestrante, e fiquei refletindo mais intensamente a respeito dos rumos
que a minha tomava naquele momento. Mais uma canção sobre desilusão amorosa,
mais uma crise reflexiva sobre o nosso amor próprio. E a noite seguia
interminável...
Pensei que epifanias geradas a minutos angustiantes de insônia não
aconteceriam comigo tão cedo. Primeiro porque achar palavras para descrever
estados de espírito em plena madrugada é bem difícil para quem precisa viver e
produzir obrigatoriamente à luz do dia (sempre achei a vida boêmia de pessoas
que escrevem e trabalham seus escritos à noite um tremendo luxo). Em segundo
lugar porque nem sempre somos atingidos por chamas musicais que nos tragam
insights às quatro ou cinco horas da manhã. Terceiro, e mais importante, o
cansaço que surge depois de uma noitada de insônia é incalculável. Porém,
sempre há uma preocupação que nos mantém acordado e uma trilha sonora para
acompanhar a angústia que carcome a nossa calma e o nosso sono...
Tori Amos, o fogo em teclas pretas e brancas...
Estava navegando pela Apple Music quando "caí" acidentalmente
em uma playlist que me trouxe a voz, o piano e a poesia incendiária da cantora
e compositora norte-americana Tori Amos. Fui inebriado pela melancolia intensa
da bela ruiva e fiquei sem dormir por mais algumas horas. "A Sorta
Fairytale", carro-chefe de Scarlet's Walk, seu álbum de 2002,
me tomou de assalto e me fez pensar mais uma vez nos encontros e desencontros amorosos que
nos conduzem pela vida afora. Como curioso incurável que sou, fui até o Google
e ao YouTube e descobri o belo é perturbador clipe gravado por Tori na época,
que contou com a participação especial do ator Adrien Brody, ganhador do Oscar
de Melhor Ator por O Pianista.
Tori Amos & Adrien Brody no videoclipe de "A Sorta Fairytale" (2002)
Graças à uma insônia que insiste em me perturbar e à minha eterna capacidade
de racionalizar e explicar tudo, acabei me apaixonando por Tori Amos. As chamas
das paixões musicais precisam nos queimar durante a madrugada para que possamos
sentir a beleza da sensibilidade de um artista comprometido em trazer o mais
profundo recôndito de suas paixões em forma de canção. É através deles que
tentamos achar respostas para as nossas perguntas que nunca terão fim...
Each
other what we need to survive together alive”
(Paul McCartney, 1982)
“Twister
does anyone see through you
You're
a twister, an animal
But
you're so happy now
I
didn't go along with you”
(Dolores O'Riordan & Noel
Hogan, 1995)
Se Gabriel García Márquez
fosse ainda vivo e tivesse que escrever uma crônica sobre o dia 12 de junho de
2016, ele poderia colocar o título do texto que escrevo neste momento sem a
menor sobra de risco. Acordei no dia de hoje com a determinação em escrever
algo sobre o Dia dos Namorados, que é comemorado a cada décimo-segundo dia do
sexto mês do ano. No entanto, meus planos foram mais uma vez por água abaixo.
Fiquei perplexo em
saber que um atirador tinha entrado na Pulse, uma das boates gays mais famosas
de Orlando (FL, EUA) e executou 50 pessoas covardemente, deixando vários
feridos. Motivado por homofobia, incomodado com a possibilidade de poder fazer
justiça de acordo com os seus sentimentos mais perversos, realizou um ato de
pura psicopatia e tirou a vida de dezenas de pessoas que estavam ali para se
divertir, para celebrar o seu amor e o seu orgulho em não ter que se curvar às convenções
e instituições que ainda fiscalizam a vida sexual de cada um.
O que me deixou ainda
mais chocado foi saber que ataques à mão armada como o que ocorreu nos Estados
Unidos vitimam milhares de habitantes. Ou seja, a maioria dos norte-americanos
está completamente acostumada em saber pelos telejornais, por exemplo, de que
facínoras saem com armas em punho todo santo dia motivados por uma série de
motivos escusos (religiosos, especialmente) para matar qualquer indivíduo que
não esteja de acordo com seus princípios antidemocráticos. Nada tão
surpreendente para quem viu e viveu eventos históricos sangrentos como a
fatídica Maratona de Boston, o massacre de San Bernardino, a execução na
Columbine High School, o assassinato de John Lennon por Mark Chapman, o
desaparecimento violento de Martin Luther King e dos irmãos Kennedy, os
famigerados ataques de 11 de setembro de 2001.
É fato público e
notório de que os Estados Unidos da América, obcecados por normas e mais normas
de segurança (vide a burocracia infernal que nós, estrangeiros, enfrentamos ao
adentrar qualquer aeroporto norte-americano), padecem de uma doença social
agudíssima. Para curá-la existe um remédio amargo para alguns e necessário para
todos: o desarmamento do cidadão comum. Enquanto armas continuarem sendo
vendidas a torto e a direito para qualquer um comprar, o sangue de inocentes continuará
a ser derramado em vão.
Lembro de uma
polêmica ocorrida com a cantora norte-americana Sheryl Crow na ocasião do
lançamento de seu segundo álbum, em 1996. Vale lembrar que só a capa do disco já
demonstrava que a mocinha não estava nem um pouco interessada em ser uma pop
star fofa e querida como Alanis Morissette ou Mariah Carey. Em uma das faixas
do disco, “Love is a Good Thing”, disse a bela Sheryl despreocupada com a
opinião de cachorros grandes: “Watch out sister, watch out brother, / Watch our
children while they kill each other / With a gun they bought at Wal-mart
discount stores” [Se liga, irmã; se liga, irmão / Veja nossas crianças matando
umas às outras / Com uma arma que eles compram nas lojas de descontos do Wal-mart].
A resposta dos comerciantes foi o boicote massivo dos CDs da artista de todas
as maneiras possíveis. Por outro lado, o respeito dos fãs por Miss Crow ter
colocado o dedo em uma ferida tão aberta do povo de seu país só aumentou...
Tenho a esperança de
que Sheryl Crow não seja uma voz isolada a cantar a necessidade de atitudes
mais humanas e sensatas. Afinal de contas, amar sem barreiras e distinções em
tempos de pólvora está se tornando uma tarefa praticamente impossível. Creio no
amor como uma maneira de amenizar a cultura do ódio extremista que permeia as
relações dos seres humanos no século XXI. Assim, o amor entre iguais – algo intolerável
para conservadores, fascistas e facínoras de todos os tipos – deixa de ser
visto como uma mera “ditadura da minoria” e passa a ser visto como um direito
adquirido e que merece ser respeitado. Minha voz não soa em vão. Ela há de
encontrar outras para lutar para que mais ninguém seja penalizado por
demonstrarmos o mais puro de nossos sentimentos, Afinal, já diziam os mestres: "qualquer maneira de amor vale a pena"...
Se você se sentir incomodado com estas cenas, recomendamos que você saia à procura de ajuda especializada urgentemente. Homofobia tem cura! Montagem: Ana M. D. Oliveira
(Canções de Bruno Marnet gravadas por Ângela Maria e interpretadas por Ney Matogrosso em seu espetáculo Estava Escrito [1995], em homenagem à
bela Sapoti)
Depois de dez anos longe do Rio de Janeiro, cidade que
me trouxe ao mundo, sempre sinto uma enorme alegria é uma pontinha de tristes
quando faço o caminho do “retorno às origens”. Em primeiro lugar porque a
Cidade Maravilhosa se tornou cada vez mais estranha para mim – apesar de toda a
sua indiscutível beleza; em segundo lugar, porque vejo o Rio em um dos momentos
mais críticos de toda a sua existência.
Foto: Nilton Serra
A felicidade de poder realizar o lançamento de meu
primeiro livro nesta cidade é algo pelo qual ainda não sei descrever com
exatidão. Poder compartilhar a fina flor do seu trabalho com os meus
conterrâneos e cariocas de coração é simplesmente gratificante. Uma honra. Um
bálsamo. Uma grande realização pessoal. Um desejo realizado. Porém, ao assistir
o noticiário matutino nos informando o andar da carruagem pelos lados de cá, me
deu uma preocupação enorme. Tudo bem que o que está sendo dito por aí era algo
que já constatava pelos jornais e pelas redes sociais dos amigos e conhecidos,
mas ver o discurso na prática foi (e tem sido) bem doloroso.
Foto: Nilton Serra
A segurança pública nas
ruas é praticamente inexistente – a Polícia anda tão desaparelhada ao ponto de
membros da sociedade se verem obrigados a arrecadar dinheiro para comprar
bicicletas para que os policiais possam ajudar a manter a ordem (isso porque
estamos falando dos bairros mais centralizados). O sistema local de saúde ainda
é o retrato do caos e do descaso dos poderosos com as camadas
mais humildes da população carioca. Vários museus – e boa parte do patrimônio
cultural da antiga Capital Federal – se encontram em um estado digno de pena
enquanto o portentoso e belo Museu do Amanhã expõe as nossas contradições a céu
aberto, ao lado da eternamente imunda Baía de Guanabara. Os servidores públicos
e a Educação se encontram reféns de um Estado moral e financeiramente falido
enquanto muitos se preparam para receber os Jogos Olímpicos de 2016: escolas
ocupadas, servidores em greve e sem perspectivas de reajuste salarial enquanto
muitos se preocupam em saber por onde anda a Tocha Olímpica...
Foto: Nilton Serra
Em contrapartida, a
ocupação das escolas estaduais e do palácio Gustavo Capanema tem nos
demonstrado que a insatisfação dos cariocas com os rumos que a cidade e o país
vem tomando é bem gritante. Os manifestantes declararam que não pretendem
recuar não for solucionado enquanto o impasse em relação à educação, ao
(brevemente) extinto Ministério da Cultura e ao Governo Federal ilegítimo de
Michel Temer. Em meio ao luxo e ao lixo, aos que possuem muito e aos que mal
conseguem se sustentar com o pouco que têm em mãos, palavras de ordem se
encontram escritas e pichadas por muitos cantos da cidade. O Rio de Janeiro
ainda é sinônimo de amor, apesar de tanto descaso de seus governantes em
relação aos cariocas. Os hinos de amor se apresentam através de protestos
políticos e que pedem mais carinho pela Cidade Maravilhosa amada por tantos...
Foto: Nilton Serra
Bem, parece que o Cristo Redentor não tem encontrado
muitos motivos para ficar de braços abertos para nós. No entanto, as belezas da
Cidade Maravilhosa estão protegidas pelos artistas eternizados em forma de estátua
– Drummond e Braguinha estão em Copacabana para nos alumiar com a sua
irreverência e sua poesia; Clarice Lispector e Tom Jobim podem ser
(re)encontrados no Leme e em Ipanema para que possamos lhes pedir a bênção e
proteção. Fazer este périplo era uma obrigação para um escritor amador e em
início de carreira como eu.
Nós & Clarice
Passar um final de semana
prolongado no Rio de Janeiro em um momento tão crítico para lançar um livro
sobre um grupo que é a maior representação de liberdade em forma de música é de uma ironia tremenda. Na verdade
(e digo isso sem a menor pretensão), é algo necessário em meio ao “purgatório da
beleza e do caos” gigantesco que muitos cariocas estão vivendo. Tenho a
esperança de que as canções do Secos & Molhados sejam um alento e um
incentivo não apenas para que a crença na luta por dias melhores ainda esteja
viva, como também possibilite o simples prazer de fazer algo de bom para os
outros...
Foto: Nilton Serra
PAUSA PARA O
COMERCIAL:
Nosso livro no Moviola Bistrô Foto: Vinícius Rangel
Se você quiser adquirir o livro “O Doce & O
Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música
brasileira” (Ed. Terceira
Margem), é só entrar em contato comigo por e-mail (vinnieprof@gmail.com) ou
ligar para o Moviola Bistrô – Rua das Laranjeiras 280 – Lojas B e C – Tel. (21)
2285-8339 / 3040-2800 – e encomendar o seu exemplar.
Lançamento do Livro O Doce & O Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música brasileira no Rio de Janeiro Foto: Nilton Serra