28 de dezembro de 2017

DISCOS DE VINIL # 48

THE ROLLING STONES – TATTOO YOU (1981)


Os anos 1980 foram bem bicudos para muitos músicos e bandas de Rock. John Lennon tinha sido brutalmente assassinado por um fã desequilibrado; O Led Zeppelin foi abatido fatalmente com a morte do baterista John Bonham; o Punk já era uma expressão musical em pura decadência, para citar apenas alguns exemplos daqueles dias difíceis. Infelizmente, a crise de meia-idade musical também tinha atingido os Rolling Stones: a parceria de Mick Jagger e Keith Richards já davam os primeiros sinais de desgaste, visto que as relações entre eles começavam a azedar cada vez mais.


Com a morte do guitarrista Brian Jones e com a saída do empresário Andrew Oldham do controle criativo dos Rolling Stones, Mick Jagger tomou para si o papel de direcionar os passos da banda. Enquanto Keith Richards vivia às voltas com Anita Pallenberg, a heroína, o álcool, algumas prisões e muita (mas muita!) confusão, Jagger conseguiu fazer dos Stones, enfim, um negócio bastante lucrativo. As turnês da década de 1970 se tornavam cada vez maiores, gerando mais discos, mais popularidade e um fluxo de caixa mais gordo para um grupo de músicos que, anos antes, tiveram que abandonar o Reino Unido às pressas por estarem afundados em dívidas com o governo britânico. A principal consequência deste processo foi a inflação do ego de Sir Jagger em escalas exponenciais, o que foi fatal para o equilíbrio das boas relações com Richards.


No final dos anos 1970, Keith estava finalmente se livrando da dependência em heroína, o que lhe motivou a querer retomar a sua participação como co-líder da banda. Mick, influenciado pelo tipo de música que se produzia na última metade daquela década, teve voz decisiva na realização dos álbuns Some Girls (1978) e Emotional Rescue (1980), dois sucessos de crítica e público, que deixaram Richards insatisfeito com os rumos musicais que os Rolling Stones trilhavam naquela época. No entanto, era preciso sair em turnê no ano seguinte - os Stones tinham programado duas excursões gigantescas: a primeira passaria pelos EUA no segundo semestre de 1981 e a segunda etapa levaria os músicos pela Europa até julho do ano seguinte -, por isso, todos os ressentimentos deveriam ser varridos para debaixo do tapete para que a máquina voltasse a rodar com todo o vigor necessário.



Como a parceria Jagger-Richards estava paralisada devido aos choques de egos entre Mick e Keith, a solução foi garimpar os arquivos de gravações dos Stones e criar um álbum "novo" para poder promover durante as turnês norte-americana e europeia. O resultado deste garimpo musical foi Tattoo You, lançado em 24 de agosto de 1981. Último álbum da banda a alcançar o topo das paradas musicais dos EUA até o presente momento, o disco abre com "Start Me Up", canção obrigatória em todas as apresentações dos Rolling Stones e um dos maiores sucessos de toda a história do Rock 'n' Roll. O videoclipe foi dirigido por Michael Lindsay-Hogg, o mesmo que dirigiu o documentário Let it Be (o canto do cisne dos Beatles), e mostra os músicos tocando em formato de playback com direito às piruetas de Mick Jagger em calças legging - uma das imagens mais icônicas do astro.



Os 44 minutos e 23 segundos de Tattoo You revelam a excelente disposição dos Rolling Stones em fazer música de qualidade. Das canções mais antigas desta coleção estão "Tops" e "Waiting On A Friend", compostas durante as sessões de gravação de Goat's Head Soup (1973). Enquanto a primeira é sobre um relacionamento intenso entre um homem e uma mulher, a segunda é um dos tratados poéticos mais sinceros e belos sobre a amizade - sentimento que Jagger e Richards não conseguiam cultivar naquele momento. Da safra 1975-1976, fazem parte "Worried About You" (uma das poucas faixas nas quais Mick Jagger toca piano elétrico), "Slave" (com direito a improvisações estilo Free Jazz do lendário tecladista Billy Preston) e a primeira versão de "Start Me Up", que teria sido um reggae se não tivesse ido para o arquivo das gravações do álbum Black and Blue (1976).


"Hang Fire", "Neighbours" e "Black Limousine" (parceria entre Jagger, Richards e o guitarrista Ron Wood) foram três números compostos e/ou descartados de Some Girls e que cumpriam um ótimo papel nos setlists de apresentações ao vivo dos Stones na época. O videoclipe de "Neighbours", por exemplo, faz referências ao filme Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock) e ao fato incômodo de Keith Richards ter tido problemas jurídicos com vizinhos do prédio onde morava com Patti Hansen (segunda esposa do guitarrista) em Nova York por causa do volume alto da música que vinha de seu apartamento. "Hang Fire", infelizmente, não é um número tão executado nas turnês da banda: a batida rápida de Watts aliada às guitarras incandescentes de Richards e Wood são o combustível perfeito para a energia inesgotável de Jagger nos vocais. "Black Limousine", por outro lado, foi bastante tocada durante as apresentações do período 1981-1982.


Do período das gravações de Emotional Rescue, os Rolling Stones resgataram "Heaven", "Little T & A" e "No Use In Crying". "Little T & A" é uma declaração de amor de Keith Richards à então futura esposa, a modelo Patti Hansen, e mãe de suas duas filhas mais jovens: Alexandra e Theodora. Nos sets onde Keith assume o microfone principal para que Mick vá para o backstage renovar as energias para a segunda parte do espetáculo, a quarta canção de Tattoo You é uma presença constante ao lado de números mais consagrados como "Happy" e "You Got The Silver". "Heaven" é um número típico das ambições de Jagger no período - impressionado (ou ameaçado) por Prince, gravou uma faixa inteira com vocais em falsete com o objetivo de superar as atenções dadas ao autor e intérprete de "Kiss" e "Purple Rain". Já "No Use In Crying" é uma bela balada dos Stones, com direito aos riffs marcantes de Keith e a rara colaboração da dupla de compositores nos vocais - digamos que este é um dos últimos momentos de união entre os líderes da banda antes da guerra épica de egos que quase destruiu a banda na década de 1980.



Considerado pela crítica e pelos fãs como um dos melhores discos de Rock de todos os tempos, Tattoo You recebeu muitas críticas positivas e é considerado pelos admiradores mais ferrenhos dos Rolling Stones como o último grande momento da banda (foi o último disco dos Stones a alcançar o topo das paradas norte-americanas até o presente momento). Se levarmos em conta o time de músicos que tocaram nestas faixas - Nicky Hopkins, Ian Stewart e Billy Preston (piano e teclados), Wayne Perkins e Mick Taylor (guitarras), Sonny Rollins (sax), Pete Townshend (vocais de apoio em "Slave"), Ollie Brown, Jimmy Miller e Chris Kimsey -, Mick Jagger e cia conseguiram criar um punhado de grandes canções e que dificilmente deixarão de estar na memória dos amantes de Rock 'n' Roll. Afinal de contas, as palavras de ordem destes músicos sempre foi e sempre será: "Never Stop!"...


25 de dezembro de 2017

TROVA # 143

O DIA DA BADERNA


Na linha do horizonte
Do alto da montanha
Por onde quer que eu ande
Esse amor me acompanha
A luz que vem do alto
Aponta o meu caminho
É forte no meu peito
Eu não ando sozinho

Te vejo pelos campos
Te sinto até nos ares
Te encontro nas montanhas
E te ouço nos mares

Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você

Pra quem te traz no peito
O mundo é mais florido
A vida aqui na Terra
Tem um outro sentido

Eu ando e não me canso
Esqueço a minha cruz
Firme nesse rumo
Que a você me conduz

Em todos os momentos
Que eu olho pro espaço
Sou forte e minha fé
Me faz um homem de aço

Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você

Em todos os momentos
Que eu olho pro espaço
Sou forte e minha fé
Me faz um homem de aço

Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você

Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você

Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você
Até você!
(Roberto Carlos & Erasmo Carlos na voz de Rita Benneditto)


         Em tempos de crise, fica difícil encontrar motivação para celebrar qualquer coisa. Especialmente quando se trata de festividades deslavadamente incentivadas pelo mercado. Os shopping centers ficam repletos de gente em busca de presentes em um frenesi que leva o nosso suado décimo-terceiro salário em um rabo de foguete. A excitação em comprar, comprar e comprar e ganhar, ganhar e ganhar presentes recebe o nome de “espírito natalino”.
         Jesus Cristo, o aniversariante do dia 25 de dezembro, era o que hoje chamaríamos de comunista bolivariano, tal qual foi brilhantemente alardeado por Gregório Duvivier em sua coluna da Folha de S. Paulo: “não acumulou riqueza, não se formou, ao invés disso vivia descalço cercado de leprosos defendendo bandido... O sujeito tava mais pra Marighella que pra Gandhi (...)”.
A “celebração” do aniversário de Jesus Cristo faz com que as pessoas organizem comilanças babilônicas, regadaas a litros e litros de bebida; a televisão seleciona o que há de mais bisonho em termos de música antes de exibir a Missa do Galo e os parentes com os quais nos encontramos pouquíssimas vezes ao ano e que mal nos conhecem, ora se animam com a sua presença figurativa no sofá, ora se ressentem da sua ausência. O aniversariante do dia fica ofuscado pelo Funk carioca, pelo pagode e pela sofrência das meninas do “feminejo” ou de outros ritmos musicais na crista da onda...



Para o seu lugar, entrou o imbatível Papai Noel (mais conhecido como Santa Claus) distribuindo presentes na pele dos chefes de família, fazendo a festa da criançada e movendo a roda do Capitalismo, tão bem lembrado pelo escritor Gabriel García-Márquez em uma crônica sobre esta época do ano: “O menino Jesus foi destronado pelo Santa Claus dos gringos e dos ingleses, que é o mesmo Papai Noel dos franceses e aos que conhecemos de mais. Chegou-nos com o trenó levado por um alce e o saco carregado de brinquedos sob uma fantástica tempestade de neve.”.


         Cristo era um defensor dos fracos, dos oprimidos, era o maior dos justos. Pensando na essência de seu legado e também por puro comodismo, passei a me questionar a necessidade de tanta pompa e circunstância prescrita pelo credo capitalista para esta época do ano. Decidi que o Natal deste ano deveria ser um momento de reflexão, de agradecimento e, principalmente, de descanso: como só tive férias a partir do dia 22 de dezembro, achei mais prudente e mais proveitoso ficar em casa, sem um pingo de ostentação: desfrutei de uma ceia natalina mais simples e cercado apenas das pessoas mais íntimas; nada de troca de presentes ou de seleções de amigo secreto; nada de ter que me obrigar a ser simpático com pessoas que desconheço ou quase nunca vejo; nada de roupa nova para a ocasião – ganhei um pijama de uma amiga minha e adorei passar a virada de 24 para 25 de dezembro assim. A conta bancária agradece e o bom humor também!



         Infelizmente, as postagens nas redes sociais me levam a crer que muitos se esqueceram do verdadeiro legado deste perturbador da ordem chamado Jesus Cristo e só ficaram com a baderna de comidas, bebidas e presentes com direito à trilha sonora da TV ligada. Se a crise obrigasse a maioria dos indivíduos a crescerem diante da escassez de recursos e da desunião entre os homens, já seria um bom (re)começo para a humanidade. No entanto, muitos preferem a letargia confortável do consumismo...