MEU AVÔ E AS ESTRELAS MUSICAIS DE WILLIE NELSON*
Se o interfone de casa tocasse no início
da noite no meio de uma semana qualquer e minha mãe atendesse o mesmo com uma
felicidade do tamanho de um bonde, a certeza era absoluta: meu avô Adhemar
resolvera fazer um happy hour lá em
casa depois do expediente no trabalho, para total felicidade da gente.
Lembro-me daquela noite como se
fosse anteontem. Meu avô tinha o hábito de trabalhar ouvindo música (acho que
temos isso no DNA) e tinha ouvido uma gravação desconhecida de “All Of Me”, um
dos maiores standards da música
norte-americana – coincidência, tinha sido composta por Gerald Marks e Seymour
Simons em 1931, ano em que ele nasceu. A curiosidade do seu Adhemar foi tanta,
que ele ligou para a rádio Antena 1 (inexistente
no Rio de Janeiro nos dias de hoje) para tentar descobrir quem tinha gravado
aquela versão que ele tinha ouvido e que lhe tinha cativado tanto.
Louis Armstrong? Ella Fitzgerald? Frank Sinatra? Nenhuma das alternativas! A voz que meu avô tanto queria descobrir era a de Willie Nelson, um dos maiores nomes do country dos EUA. Eu tinha 14 anos de idade e devo confessar que descobrir Willie através do entusiasmo de meu saudoso avô foi uma das pequenas revoluções que ocorreram na minha vida de amante de sons e versos desde então.
Louis Armstrong? Ella Fitzgerald? Frank Sinatra? Nenhuma das alternativas! A voz que meu avô tanto queria descobrir era a de Willie Nelson, um dos maiores nomes do country dos EUA. Eu tinha 14 anos de idade e devo confessar que descobrir Willie através do entusiasmo de meu saudoso avô foi uma das pequenas revoluções que ocorreram na minha vida de amante de sons e versos desde então.
Confesso que, na época, fiquei um
tanto surpreso do Seu Adhemar ter se interessado por um estilo musical tão
diferente do que ele e minha avó Magaly costumavam ouvir em casa (standards norte-americanos, trilhas sonoras de filmes, música
clássica, samba, MPB, etc. etc. etc.). Por outro lado, o álbum Stardust, lançado por Willie Nelson em
1978 não deixa de fugir desta tradição.
Um pouco mais sobre este disco...
Willie conseguiu uma proeza para os artistas do country norte-americano para a época: dialogar com gêneros musicais
que seriam antíteses do próprio tipo de música que o consagrou. Sim, em Stardust, encontramos gravações que vão
do country ao pop e com boas pitadas de jazz
e folk music. A firme decisão de Willie
fez com que ele pagasse um preço um pouco alto: o desprezo dos altos executivos
da Columbia foi um deles; a alcunha de um traidor da tradição musical
norte-americana foi outra.
São dez as faixas que fizeram de Stardust um grande sucesso (o disco
permaneceu por 10 anos ininterruptos no Top
Country Albums da Revista Billboard,
para não citar outros feitos!). Willie as selecionou seguindo sua memória
afetiva e não fez nenhuma escolha duvidosa ou que destoasse do conjunto de sua
obra. Aí vai o tracklist, que foi
gravado em apenas NOVE dias
(entre os dias 3 e 12/12/1977):
1. Stardust
(Hoagy Carmichael, Mitchell Parish)
2. Georgia On My Mind
(Hoagy Carmichael, Stuart Gorrell)
3. Blue Skies
(Irving Berlin)
4. All Of Me
(Seymour Simons, Gerald Marks)
5. Unchained Melody
(Alex North, Hy Zaret)
6. September Song
(Kurt Weill, Maxwell Anderson)
7. On The Sunny Side Of The
Street (Jimmy McHugh, Dorothy Fields)
8. Moonlight In Vermont
(Karl Suessdorf, John Blackburn)
9. Don’t Get Around Much
Anymore (Duke Ellington, Bob Russell)
10. Someone To Watch Over Me
(George Gershwin, Ira Gershwin)
11. Scarlet Ribbons
(Evelyn Danzig, Jack Segal) (Bonus Track)
12. I Can See Clearly Now
(Johnny Nash) (Bonus Track)
De fato, Willie fez um album country com um repertório que resgata o que existe de melhor na
tradição da canção popular norte-americana. Reuniu compositores de talento
indiscutível como Kurt Weill, Duke Ellington, os irmãos Gershwin, Hoagy Carmichael
e outros. Todas estas canções fizeram parte das memórias infantis do próprio
artista, que cantava estes clássicos ao lado de sua irmã, a cantora e pianista Bobbie
Nelson.
A resposta da crítica especializada e do público foi
bastante animadora. Singles deste álbum garantiram locais de destaque nas
paradas de sucesso da Billboard e fez de Willie Nelson um dos artistas mais
respeitados em todo o mundo. Vários foram os prêmios e as reedições de luxo que
este disco recebeu. A única versão deste disco que eu lamento que meu avô não
tenha ouvido, foi uma reedição que foi lançada em 1999 e que apenas descobri recentemente.
Nela, há duas faixas bônus que eu acredito que ele teria adorado: “Scarlet
Ribbons” e o megahit “I Can See
Clearly Now”...
Se o Sr. Adhemar ainda estivesse diante de nosso
convívio diário, ele continuaria a ouvir Stardust
sempre que pudesse (ele adorava ouvir este disco aos domingos, geralmente no horário do almoço, em um momento "família reunida"). Como ele está impossibilitado de curtir as melodias das estrelas
musicais que Willie interpretou tão belamente, eu passei a fazer isto por
ele. Por admiração, por carinho, pela saudade de um ser que hoje está tão distante e (principalmente!!!) pela consagração de um disco que, certamente,
mudou as nossas percepções e (por quê não dizer?) as nossas vidas...
Ouçam este clássico de Willie Nelson e entendam o que estou escrevendo aqui. As melodias das estrelas não irão te decepcionar!!!
Ouçam este clássico de Willie Nelson e entendam o que estou escrevendo aqui. As melodias das estrelas não irão te decepcionar!!!
* Este post foi escrito enquanto ouvíamos Stardust, de Willie Nelson, é claro!!!! Para que você possa entender este post um pouco melhor, "ouça o vídeo e veja a música"! rsrs