AS PEDRAS DA MINHA VIDA
O logo dos Rolling Stones: a boca e a língua vermelhas de Mick Jagger. |
Ao meu bom e velho pai, Orlando
Bertho da Silva, que completa 60 anos de vida no mesmo ano do cinquentenário
da banda que ele me apresentou, os Rolling Stones.
2012 realmente tem tudo e mais um pouco para entrar para os anais da música só por causa deles. Afinal de contas, completar 50 anos de atividades no Rock ‘n’ Roll em atividade não é prova de longevidade para pouquíssimos artistas. Mick Jagger e Keith Richards, os Glimmer Twins, fizeram de sua amizade e de seu intenso amor pela música, uma parceria musical de incomparável solidez e repleta de versos, sons, riffs de guitarras, discos memoráveis, shows inesquecíveis e (evidentemente) muitas farpas!
Lembro bem de quando comecei a prestar mais atenção nos Rolling Stones: lá pelos longos idos 1994 e 1995, quando eles lançaram Voodoo Lounge e vieram ao Brasil pela primeira vez, depois de décadas de promessa. Jagger, Richards, Charlie Watts e Ron Wood fizeram noites memoráveis nos estádios do Maracanã e do Morumbi, reuniram velhos apaixonados pelo legado stoniano e novos apaixonados pelos bom e velho Rock ‘n’ Roll como este que aqui escreve. As pedras musicais rolaram com tanta força em terras brasileiras que os Stones voltaram ao Brasil três anos depois para divulgar o CD e a turnê Bridges to Babylon e me conquistaram de vez. A partir deste show, passei a pesquisar e a conhecer melhor o que os Rolling Stones fizeram em todos esses anos de estrada musical. Com o amor das pedras roqueiras pelo Brasil devidamente sacramentado, tive a oportunidade de conhecer clássicos maravilhosos como Let it Bleed, Sticky Fingers, Exile on Main St., Black & Blue, Some Girls e Tattoo You.
Na medida
em que eu fui descobrindo, colecionando e me apaixonando pelos Rolling Stones, escolhi
automaticamente o meu ídolo (escolher o meu Stone predileto não é como saber
qual é o seu Beatle preferido, pois esta questão sempre esteve muitíssimo bem
resolvida para mim, como para todos os fãs dos Stones): Mick Jagger. Desde meados
da minha adolescência eu sonhava em ser Mick, parecer, cantar, dançar e me
movimentar como Jagger (os caras do Maroon 5 descobriram isso muito depois do
que eu!). O vocalista e letrista da banda sempre personificou com extrema perfeição
todos os clichês do universo roqueiro: sexo, drogas, egotrips e outras maluquices que fazem qualquer homem comum um
verdadeiro mito entre nós. Sua presença no palco não é apenas de um líder de um
mero concerto de Rock, mas de um dos
maiores espetáculos da Terra.
As apresentações ao vivo dos Rolling Stones, aos poucos deixaram de ser simples concertos restritos a locais fechados para se transformarem em eventos de grande proporção e tomar de assalto estádios de futebol, parques e, por fim, a lendária Praia de Copacabana em uma mítica noite de fevereiro de 2006 – Jagger, Richards, Watts, Wood e cia. conseguiram reunir nada mais, nada menos do que quase DOIS MILHÕES DE PESSOAS em uma das apresentações da turnê A Bigger Bang! Apesar de ter visto Mick e seus companheiros a poucos quilômetros de distância (ele era apenas um ponto cinza e preto que se movia freneticamente de um lado para o outro), cantei, dancei e suei em celebração ao som das pedras rolantes que nunca criaram limo como jamais pude ter feito em vida. Ainda bem que havia câmeras de vídeo para registrar esta ocasião histórica para que os que estiveram em Copacabana (Eu, entre vários!) e os que não estiveram em Copacabana pudessem testemunhar, ainda que tardiamente, um dos shows mais inesquecíveis de toda a história.
*
(Preciso abrir um
parênteses sobre o lendário show dos Rolling Stones em Copacabana. Ao revirar
meus velhos arquivos da Internet, descubro um e-mail escrito por mim com um
relato ipsis litteris deste show, cujo trecho resolvi compartilhar aqui:
“(...) Estávamos conversando hiper descontraidamente (...) quando, às 21:50hs,
(...) [vimos] uma língua enorme no telão explodir como se fosse o Big Bang (uma
referência direta ao disco novo dos Stones, A Bigger Bang): a explosão
se transformou em várias pedras rolando pelo espaço sideral para mais uma
explosão que resulta em Keith Richards tocando os primeiros acordes de
"Jumpin' Jack Flash" para o delírio e surpresa de todos (ninguém
anunciou que os Stones iriam entrar no palco, só o telão!)...
Eles emendaram quatro clássicos na
primeira sequência do show: “JJFlash”, “It's Only Rock 'n' Roll”, “You Got Me
Rocking”e “Tumbling Dice”! Foi o suficiente para me sentir um verdadeiro
Stonemaníaco feliz por estar no meio daquela gente toda, com areia por todo o
canto, mas FELIZ! E outras canções como “Wild Horses” (que nunca foi tocada no
Brasil!), Midnight Rambler (para mim, uma surpresa!), “Miss You”, “Get Off of
My Cloud”, “Sympathy For The Devil”, “Start Me Up”, “Honky Tonk Women”, “Brown
Sugar”, “You Can't Always Get What You Want”, “Satisfaction” e algumas outras fizeram
a cabeça daquele milhão e meio de pessoas em Copacabana e de outros que estavam
em casa assistindo pela TV...
E ver Mick Jagger
falando em Português: "Que boa noite para um show".... Maravilhoso! E
aquele palco móvel?!
É certo que Jagger não
tem mais a mesma voz de 20 anos atrás, entretanto, acho que ele acumula a
intensidade e a experiência de poucos no palco... E sabe usar sua energia como ninguém!”)
*
VINIL em uma foto da exposição "Let's Rock", no Ibirapuera. Aqui, estávamos em puro êxtase dentro de uma galeria exclusivamente dedicada aos Rolling Stones. |
No entanto, prefiro compartilhar aqui a opinião de alguém bem mais experiente do que eu. Caetano Veloso, ao escrever sobre um show dos Stones que tinha visto no início dos anos 1970, já tinha percebido o potencial único de Michael Phillip Jagger e seus companheiros em ação: “(...) os shows dos Stones eram o teatro dionisíaco. Eles entravam no palco e logo se estabelecia uma atmosfera que era a mais viva demonstração de entendimento do espírito de época e o mais forte estímulo para ampliar suas conquistas. Mick Jagger parecia uma labareda de significados cambiantes. Ele era uma mulher, um macaco, um bailarino, um atleta, um moleque, um poeta romântico, um tirano, um doce camarada. Sua presença de estrela superava a das estrelas convencionais que tinham refletores estratégicos, posição planejada, distância em relação à plateia. Levando mais longe do que ninguém a aventura de sugerir parceria com a multidão, de compartilhar com todos as ousadias estéticas e comportamentais, supondo uma geração inteira de criadores, ele lograva ser mais diva do que qualquer Sinatra, do que qualquer Barbra Streisand. Ele se confundia com as pessoas, com as coisas. O grupo funcionava como um organismo. A inteligência saía pelos poros. Keith e Mick nunca fizeram canções como as dos Beatles, nunca escreveram como Dylan, nunca cantaram como Winwood ou Paul, mas no palco eles representavam o que havia de melhor e de mais forte em todos esses. (...) É irônico notar que, entre [19]69 e [19]72 (...), seus shows se dessem em salas para 2,3 mil pessoas (o Lyceum, a Round House), ao passo que hoje, quando se esperava que eles fossem ‘apenas história’, eles tocam para plateias de 60, 70, 100 mil” (VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, 440-441).
Sempre achei engraçado quando pessoas que eu conhecia criticavam os Rolling Stones perto de mim. Uns sempre os acharam agressivos demais, não tão talentosos como os Beatles, ou acreditavam que eles eram antiquados demais, chatos demais ou até posudos demais. Querendo ou não, a banda ainda está aí: Mick Jagger com a sua quantidade infinita de projetos paralelos, Keith Richards com o seu amor e ódio eterno declarado ao melhor amigo e irmão musical, Charlie Watts e Ron Wood atuando como coadjuvantes de grande peso ao lado dos velhos amigos. E a ocasião do cinquentenário da banda traz a enorme possibilidade de uma reunião de Stones atuais e deserdados no habitat natural de todo roqueiro: no PALCO! Bill Wyman (baixista da banda entre 1962 e 1992) e Mick Taylor (guitarrista da banda entre 1969 e 1974) podem se juntar a Jagger, Richards, Watts e Wood para uma turnê comemorativa, para alegria geral da nação stoniana.
Enquanto as pedras não aparecem para abalar as estruturas do planeta, faço com que os Stones deem a cara por aqui mesmo. Escrever sobre eles é tarefa difícil para mim, como fã para lá de confesso que sou, pois não consigo estruturar um mero texto com “começo, meio e fim”. Falar do passado desta banda é relativamente fácil. Avaliar a importância e a influência que eles exercem sobre o presente também. Ter certeza sobre a relevância do que Mick Jagger e Keith Richards fizeram (e ainda farão) juntos para os próximos 50, 100, 200 anos é falar de outro fato redundante. Por isso, o melhor é deixar que a música dos Rolling Stones fale por si só. E, para total alegria e esperança dos Deuses do Rock, ela sempre vai ter alguma coisa a nos dizer!!! Afinal, como sempre soubemos BEM, "It's only Rock'n' Roll", but we LIKE IT, LIKE IT... YES, WE DO!