THE ROLLING
STONES – TATTOO YOU (1981)
Os anos 1980 foram bem bicudos para muitos músicos e bandas de Rock.
John Lennon tinha sido brutalmente assassinado por um fã desequilibrado; O Led
Zeppelin foi abatido fatalmente com a morte do baterista John Bonham; o Punk já era uma expressão musical em
pura decadência, para citar apenas alguns exemplos daqueles dias difíceis.
Infelizmente, a crise de meia-idade musical também tinha atingido os Rolling
Stones: a parceria de Mick Jagger e Keith Richards já davam os primeiros sinais
de desgaste, visto que as relações entre eles começavam a azedar cada vez mais.
Com a morte do guitarrista Brian Jones e com a saída do empresário
Andrew Oldham do controle criativo dos Rolling Stones, Mick Jagger tomou para
si o papel de direcionar os passos da banda. Enquanto Keith Richards vivia às
voltas com Anita Pallenberg, a heroína, o álcool, algumas prisões e muita (mas
muita!) confusão, Jagger conseguiu fazer dos Stones, enfim, um negócio bastante
lucrativo. As turnês da década de 1970 se tornavam cada vez maiores, gerando
mais discos, mais popularidade e um fluxo de caixa mais gordo para um grupo de
músicos que, anos antes, tiveram que abandonar o Reino Unido às pressas por
estarem afundados em dívidas com o governo britânico. A principal consequência
deste processo foi a inflação do ego de Sir Jagger em escalas exponenciais, o
que foi fatal para o equilíbrio das boas relações com Richards.
No final dos anos 1970, Keith estava finalmente se livrando da
dependência em heroína, o que lhe motivou a querer retomar a sua participação
como co-líder da banda. Mick, influenciado pelo tipo de música que se produzia
na última metade daquela década, teve voz decisiva na realização dos álbuns Some Girls (1978) e Emotional
Rescue (1980), dois sucessos de crítica e
público, que deixaram Richards insatisfeito com os rumos musicais que os
Rolling Stones trilhavam naquela época. No entanto, era preciso sair em turnê
no ano seguinte - os Stones tinham programado duas excursões gigantescas: a
primeira passaria pelos EUA no segundo semestre de 1981 e a segunda etapa levaria
os músicos pela Europa até julho do ano seguinte -, por isso, todos os
ressentimentos deveriam ser varridos para debaixo do tapete para que a máquina
voltasse a rodar com todo o vigor necessário.
Como a parceria Jagger-Richards estava paralisada devido aos choques de
egos entre Mick e Keith, a solução foi garimpar os arquivos de gravações dos
Stones e criar um álbum "novo" para poder promover durante as turnês
norte-americana e europeia. O resultado deste garimpo musical foi Tattoo You, lançado em 24 de agosto de 1981.
Último álbum da banda a alcançar o topo das paradas musicais dos EUA até o
presente momento, o disco abre com "Start Me Up", canção obrigatória
em todas as apresentações dos Rolling Stones e um dos maiores sucessos de toda
a história do Rock 'n' Roll. O
videoclipe foi dirigido por Michael Lindsay-Hogg, o mesmo que dirigiu o
documentário Let it Be (o canto do cisne dos Beatles), e mostra os músicos
tocando em formato de playback com direito às piruetas de Mick Jagger em calças
legging - uma das imagens mais
icônicas do astro.
Os 44 minutos e 23 segundos de Tattoo You revelam a excelente disposição dos
Rolling Stones em fazer música de qualidade. Das canções mais antigas desta
coleção estão "Tops" e "Waiting On A Friend", compostas
durante as sessões de gravação de Goat's Head Soup (1973). Enquanto a primeira é sobre
um relacionamento intenso entre um homem e uma mulher, a segunda é um dos
tratados poéticos mais sinceros e belos sobre a amizade - sentimento que Jagger
e Richards não conseguiam cultivar naquele momento. Da safra 1975-1976, fazem
parte "Worried About You" (uma das poucas faixas nas quais Mick
Jagger toca piano elétrico), "Slave" (com direito a improvisações
estilo Free Jazz do lendário
tecladista Billy Preston) e a primeira versão de "Start Me Up", que
teria sido um reggae se não tivesse ido para o arquivo das gravações do álbum Black and Blue (1976).
"Hang Fire", "Neighbours" e "Black
Limousine" (parceria entre Jagger, Richards e o guitarrista Ron Wood)
foram três números compostos e/ou descartados de Some Girls e que cumpriam um
ótimo papel nos setlists de
apresentações ao vivo dos Stones na época. O videoclipe de
"Neighbours", por exemplo, faz referências ao filme Janela Indiscreta
(Alfred Hitchcock) e ao fato incômodo de Keith Richards ter tido problemas
jurídicos com vizinhos do prédio onde morava com Patti Hansen (segunda esposa
do guitarrista) em Nova York por causa do volume alto da música que vinha de
seu apartamento. "Hang Fire", infelizmente, não é um número tão
executado nas turnês da banda: a batida rápida de Watts aliada às guitarras
incandescentes de Richards e Wood são o combustível perfeito para a energia
inesgotável de Jagger nos vocais. "Black Limousine", por outro lado,
foi bastante tocada durante as apresentações do período 1981-1982.
Do período das gravações de Emotional
Rescue, os Rolling Stones resgataram
"Heaven", "Little T & A" e "No Use In
Crying". "Little T & A" é uma declaração de amor de Keith
Richards à então futura esposa, a modelo Patti Hansen, e mãe de suas duas
filhas mais jovens: Alexandra e Theodora. Nos sets onde Keith assume o
microfone principal para que Mick vá para o backstage
renovar as energias para a segunda parte do espetáculo, a quarta canção de Tattoo You é uma
presença constante ao lado de números mais consagrados como "Happy" e
"You Got The Silver". "Heaven" é um número típico das
ambições de Jagger no período - impressionado (ou ameaçado) por Prince, gravou
uma faixa inteira com vocais em falsete com o objetivo de superar as atenções
dadas ao autor e intérprete de "Kiss" e "Purple Rain". Já
"No Use In Crying" é uma bela balada dos Stones, com direito aos riffs marcantes de Keith e a rara
colaboração da dupla de compositores nos vocais - digamos que este é um dos
últimos momentos de união entre os líderes da banda antes da guerra épica de
egos que quase destruiu a banda na década de 1980.
Considerado pela crítica e pelos fãs como um dos melhores discos de Rock
de todos os tempos, Tattoo You recebeu muitas críticas positivas e é considerado pelos admiradores mais
ferrenhos dos Rolling Stones como o último grande momento da banda (foi o
último disco dos Stones a alcançar o topo das paradas norte-americanas até o
presente momento). Se levarmos em conta o time de músicos que tocaram nestas
faixas - Nicky Hopkins, Ian Stewart e Billy Preston (piano e teclados), Wayne
Perkins e Mick Taylor (guitarras), Sonny Rollins (sax), Pete Townshend (vocais
de apoio em "Slave"), Ollie Brown, Jimmy Miller e Chris Kimsey -,
Mick Jagger e cia conseguiram criar um punhado de grandes canções e que
dificilmente deixarão de estar na memória dos amantes de Rock 'n' Roll. Afinal
de contas, as palavras de ordem destes músicos sempre foi e sempre será: "Never Stop!"...