Certamente você não me
conhece... Meu nome é Vinícius (vulgo: Vinil), tenho 31 anos, sou Professor
(e blogueiro ocasional!), cresci e aprendi Inglês ouvindo seus sucessos! Vivo
em um lugar da América do Sul que as pessoas chamam de Brasil - é por isso que
escrevo em Português. Acho que você já esteve aqui no meu país algumas vezes
para fazer shows, mas infelizmente nunca dei tanta atenção. Yes, shame on me!
Por que eu decidi te
escrever? Porque eu fiquei estarrecido com a sua partida tão repentina e tão
sentida! Em 17 de maio de 2012, a Disco
Music se calou. Pior do que isso: fez a sua última dança! Com o apagar de sua estrela, Mrs. Summer, ficamos órfãos de uma das criadoras
de uma era inesquecível. Você foi referência para talentos de sua geração e que
também mais influenciou os que surgiram nas décadas seguintes.
Posso te dar algumas
provas evidentes disso... Madonna seguiu seus passos ao levar para as pistas de
dança uma fórmula te deu muito sucesso com o seu primeiro hit, “Love to love you baby”: sexo, um
som hipnotizante e muito groove! Moby
e David Guetta eram fascinados por seu som incomum; Kylie Minogue, Beyoncé,
Nicki Minaj e outras popstars da vez te
consideravam uma diva das pistas e uma modelo inquestionável; até Barbra
Streisand se rendeu aos seus encantos e se juntou a ti em seus dias
inesquecíveis de Disco Queen no final
da década de 1970 naquele dueto antológico,
“No More Tears (Enough is Enough)”. Seu nome não significou um mero modismo, mas foi um exemplo de música de excelente qualidade!!!
Ah, já que eu mencionei a Barbra... Como nós, ela ficou bem chocada
ao saber da sua saída de cena. Achou que você
estava tão cheia de vida na última vez em vocês se viram. Sempre te admirou por
você ter tido uma voz e um talento imbatíveis. E mais do que isso: disse pela
enésima vez que adorou ter gravado com você e bla blá blá... Pena que vocês nunca cantaram
juntas ao vivo... Teria sido sensacional! Elton John, outro admirador confesso seu,
disse que seus discos "soam bem em
qualquer época" (...). E disse mais: "É uma desgraça total ela nunca
ter sido inclusa no Hall da Fama do Rock, especialmente quando eu vejo artistas
de qualidade inferior chegando lá". É duro, mas temos que concordar com as
palavras de Sir Elton. Ninguém precisou viver intensamente os chamados “embalos
de sábado à noite” para não lembrar clássicos do Pop como “I Feel Love”, “Bad Girls”, “Hot Stuff”, “On The Radio”, “She
Works Hard For The Money”, “Last Dance”... E também concordo com Barbra
Streisand: tu tinhas uma voz belíssima, formada pelos sons das Igrejas batistas
norte-americanas, o que te deixava na mesma galeria de outras divas de formação
semelhante como Aretha Franklin, Dionne Warwick e Whitney Houston (para não
citar outras!).
Minha relação com o seu legado começou por volta de 1994/1995, quando você lançou Endless Summer, aquela coletânea na qual
você reviu toda a sua carreira e nos deu duas canções inéditas. Evidentemente
isto se deu através da influência dos meus pais, que viveram intensamente os já
citados “embalos de sábado à noite” e gostavam muito de te ouvir cantar. Porém, as suas
canções, Mrs. Summer, não se restringiram apenas a uma era que hoje se encontra
distante no tempo: elas fazem parte de um repertório universal que povoa os
inconscientes sonoros coletivos. Afinal, todos nós amamos uns aos outros, todos
nós desejamos uns aos outros, todos nós dançamos uns com os outros, todos nós fazemos sexo uns com os outros e você
soube dizer isto tudo muitíssimo bem com a sua música. Quando Madonna resolveu incluir
“I Feel Love” na Confessions Tour,
não se tratava apenas de citar um sample
seu ou de realizar um mero tributo ou homenagem a ti. A Rainha do Pop te reconhece como
O
baluarte da Dance Music, o que é, no mínimo, justo para uma artista negra
que abriu portas em um universo mercadológico dominado por brancos (a Disco era um tipo de música feita por
negros para ser apreciada por brancos!). Ao ouvirmos a gravação original de “I
Feel Love”, temos a nítida sensação foi gravada ontem, de tão moderna que ainda
soa para nossos ouvidos tão fatigados de ouvir tantas asneiras por aí...
Sua perda, Mrs. Summer, foi muito sentida por diversos segmentos da
música internacional. O que eu acho mais lastimável é o fato de uma mulher de
63 anos, em momento de alta criatividade profissional (fiquei sabendo que você
estava gravando um disco que sucederia seu último trabalho, Crayons, de 2009), ter sido mais uma
vítima do câncer. E ainda pior: você apenas lutou 10 meses contra a doença! O
Presidente Obama disse que sua voz era inesquecível e que"a música perdeu uma lenda
muito cedo". Uma amiga minha de
anos comentou no Facebook: “Esta é uma doença
que não escolhe: pode ser negro, branco, pobre, rico, jovem, velho,
inteligente, burro... tudo o que nos resta é rezar para que os pesquisadores e cientistas
achem a cura para o câncer o quanto antes. E rezar para que Deus proteja
aqueles que a gente ama!”. Compartilho do mesmo desejo da amiga em questão, mas
Deus não me deu esta sorte... já perdi três parentes para o câncer. Espero que
seu marido e suas filhas consigam achar forças para viver daqui para diante,
pois imagino o quão deve ser difícil!
Por isto, acho que o melhor a fazer por ora é encerrar esta Trova
de Vinil por aqui lembrando que sua música, Donna Summer (parafraseando
“Last Dance”) sempre estará “ao nosso lado, para nos
guiar e para nos segurar” em nossos maus (e bons momentos).
Rest in Peace, Mrs.
Summer! May you rest in Lord’s arms...