23 de novembro de 2016

DISCOS DE VINIL # 8

CARTOLA – CARTOLA (1974)

Angenor de Oliveira: também conhecido como Divino; ou chamado de Poeta das Rosas; foi também o marido de Dona Zica da Mangueira e um dos fundadores da Escola de Samba de sua comunidade. Para o resto do mundo, ficou conhecido apenas como Cartola.
Não podemos escrever a história da Música Brasileira sem mencionarmos a importância da obra deste gênio para todos nós. Cartola é considerado o maior sambista de toda a história da nossa canção: influenciou gerações e gerações, foi regravado por artistas que fazem parte do universo do Samba e da chamada “MPB” e gravou quatro discos antológicos na década de 1970 e que são fundamentais na coleção de qualquer amante da arte musical.
No entanto, a relação do Divino com o samba vem desde a década de 1920: em 1925 fundou um bloco de Carnaval que seria o embrião da Estação Primeira de Mangueira; na década de 1930 compôs (e vendeu) sambas para Francisco Alves, Mário Reis e Aracy de Almeida. Chegou a atuar como cantor de rádio na década de 1940, mas, aos poucos – motivado por dramas pessoais e por desavenças com a diretoria da Mangueira nos anos 40 – , deixou o meio musical.
A sorte de Cartola mudou em 1952, quando Stanislaw Ponte Preta encontrou o sambista trabalhando em condições modestas como flanelinha em um bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. O Poeta das Rosas, que tinha sido dado como desaparecido ou morto, foi levado a fazer algumas apresentações em rádios e restaurantes. No entanto, o que lhe trouxe o verdadeiro sucesso foi a união entre música (o samba da Mangueira) e comida (a lendária feijoada de D. Zica): o Zicartola era mais do que um simples restaurante: era um centro cultural no qual a Rua da Carioca fervilhava com encontros entre sambistas do morro, poetas-letristas, jornalistas, novos talentos, velhos bambas: Elizeth Cardoso, Hermínio Bello de Carvalho, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Sérgio Cabral, Nara Leão, Zé Kéti, Carlos Cachaça e João do Vale eram alguns dos nomes que apareciam por lá…
Apesar de ter participado de algumas faixas avulsas de discos coletivos e de ter sido gravado por nomes de enorme prestígio como Paulinho da Viola, Clara Nunes, Nara Leão e Elza Soares, a consagração definitiva ainda estava por vir: prestes a completar 66 anos, Cartola ainda não tinha gravado seu próprio disco. O anjo da guarda que realizou este feito foi o publicitário, pesquisador musical e produtor de discos Marcus Pereira, que decidiu produzir o disco do Mestre Mangueirense.
Este álbum, que já nasceu clássico, reuniu o melhor do cancioneiro que Cartola produziu em uma vida inteira. Afinal, ninguém conseguiu a primazia de reunir no mesmo disco pérolas do naipe de “Acontece”, “Tive Sim”, “Amor Proibido”, “Disfarça e Chora”, “Corra e Olha o Céu”, “Sim”, “O Sol Nascerá (A Sorrir)” e “Alvorada”. Nestas canções, o sambista expôs sua visão, por assim dizer, anticonvencional do sentimento amoroso em versos tão belos e bem escritos – Cartola era leitor de poesia, especialmente de Castro Alves.
A estreia de Cartola em disco é um atestado de que o samba é uma de obra de arte imortal. A poesia deste Mestre fez com que o nome de Angenor de Oliveira transcendesse o universo das escolas de samba para ocupar um lugar dentre os gênios que levaram a música deste país um patamar de inventividade tal qual o fizeram Jobim, Villa-Lobos e alguns outros…

Salve, Cartola!