“ASTRONAUTA DA SAUDADE”
“Belezas
são coisas acesas por dentro
Tristezas
são belezas apagadas pelo sofrimento”
(Jorge
Mautner & Nelson Jacobina, 1974)
SAUDADE:
palavra que traduz um sentimento agridoce de algo que já não temos mais
conosco. Palavra muito difícil de ser traduzida para outros idiomas, bem
difícil de explicação para quem não é nativo do idioma português. Dizem que a saudade
é síndrome de quem vive no passado, enquanto a ansiedade é pavor do futuro e a
depressão é o pânico do presente. Talvez faça sentido, porque sou alguém
ansioso por natureza e já vivi episódios graves de depressão. E conheço várias
pessoas que se encaixam nessa lógica.
Porém,
não podemos nos esquecer jamais de que viver é um jogo muito mais complexo do
que a lógica comum e é uma ação que requer, acima de tudo, CORAGEM. Coragem de
se expor, coragem de tirar as palavras do pensamento e das conversas íntimas
para leva-las para o papel e depois para o ciberespaço. Coragem de desafiar o
senso comum imposto por um pensamento conservador e tacanho. Coragem de ser
diferente em um contexto que exige que todo mundo seja e aja de maneira igual.
Apesar
do que sugere o título do texto que você está lendo, estou longe de ser um
entusiasta do que já passou. Guardo com carinho muitas lembranças de outrora, tenho
outras memórias bem preservadas na gaveta do rancor. Tenho mais animação pelo
futuro, considerando o que ele pode nos trazer de bom e não tão bom assim. Faço
do meu presente a possibilidade de construir um futuro melhor para mim e para
mais alguns. Escrevo tudo isso para dizer que não sinto uma ponta de saudade do
passado que eu vivi, mas invejo profundamente o passado que eu não vivi. A
juventude anárquica e desbundada dos anos 1960 e 1970 e muitos dos eventos
político-culturais que foram promovidos para combater a caretice brasileira
nossa de todo dia.
Caso
queiram falar de mim e do que eu escrevo, digam apenas o seguinte: se o passado
que me cabe e não me cabe mais são estrelas no espaço sideral, podem me chamar
de “astronauta da saudade”, pois meus textos transitam por corpos celestes e
resgatam as memórias boas que vivi e as lembranças que gostaria de ter tido.
Caso queiram falar de mim e do que eu escrevo, digam também que sou um amigo da
arte, da ciência e do conhecimento. Falo e escrevo sobre coisas “fora de moda”:
“livros, discos, vídeos à mancheia” e outras coisinhas que o sujeito comum não
gosta ou não aprecia mais. Sempre contra a corrente, contra o senso comum e a
velha pasmaceira.
Cada texto que escrevo vai muito além do desejo de ser lido ou do mero instinto de me comunicar por meio de palavras para velhos conhecidos ou um leitor cujo rosto eu não conheço. Cada postagem em meu blog sempre foi uma maneira de procurara a beleza no presente com o auxílio da música. Em algumas ocasiões fui bem-sucedido, em outras nem tanto. No resumo de tudo, foi mantido o exercício da escrita como um ofício prazeroso e com a garantia de que erros e acertos estão devidamente registrados, apesar de levemente revisados.
Já
que tornar público o que há de mais íntimo por parte do pensamento é o fato que
está diante de seus olhos, aproveito para fazer um convite para você que chegou
até aqui: ouça os textos, leia os discos e as canções que se encontram por
aqui. O blog foi uma viagem e tanto.
Quem sabe o livro seja também. Por isso, junte-se a mim e faça uma boa viagem
pelas letras e sons que reuni aqui depois de tantos anos...
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