“I've paid my dues
Time after time.
I've done my sentence
But committed no crime.
And bad mistakes ‒
I've made a few.
I've had my share of sand kicked in my face
But I've come through.
(And I need just go on and on, and on, and on)
We are the champions, my friends,
And we'll keep on fighting 'til the end.
We are the champions.
We are the champions.
No time for losers
'Cause we are the champions of the world.
I've taken my bows
And my curtain calls
You brought me fame and fortune and everything that
goes with it
I thank you all
But it's been no bed of roses,
No pleasure cruise.
I consider it a challenge before the whole human race
And I ain't gonna lose.
(And I need just go on and on, and on, and on)
We are the champions, my friends,
And we'll keep on fighting 'til the end.
We are the champions.
We are the champions.
No time for losers
'Cause we are the champions of the world.
We are the champions, my friends,
And we'll keep on fighting 'til the end.
We are the champions.
We are the champions.
No time for losers
'Cause we are the champions.”
(Freddie Mercury,
1977)
O mês de agosto de 2016 tem nos
trazido boas notícias também. Há duas semanas que o Rio de Janeiro tem vivido
dias de glória com a trigésima-primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era
Moderna. Sem grandes tragédias até aqui (pelo menos as não noticiadas pela
mídia), o que é bastante louvável para uma cidade que estava à beira do colapso
nas vésperas da abertura das Olimpíadas.
Pensei em boicotar os Jogos, com raiva
profunda do Governo do Estado e da Prefeitura do Rio de Janeiro, que faliram as
finanças do Estado em prol do evento e fazendo pouco dos cariocas, que sempre
batalharam tanto em meio à violência, a beleza e o caos. Pensei no boicote por
estar profundamente revoltado com a situação política gravíssima de nosso país,
que não quer lidar com o fato de que houve sim, de fato, um golpe político que
dizimou a democracia e o mandato de uma presidente eleita. No entanto, foi preciso
levar em consideração que há muitos outros que não possuem culpa da
tragicomédia chamada Brasil – sim, me refiro aos atletas: eles não merecem
nosso boicote...
Apesar de não ser um entusiasta da
prática pessoal dos esportes (mais uma prova de que eu sou a ovelha negra da
família, pois tenho um irmão Professor de Educação Física e minha mãe virou
maratonista de energia inesgotável após os 50 anos de idade, só para citar dois
exemplos), acho bastante admirável ver a disposição de alguns seres humanos em
superar seus próprios limites físicos como uma missão de vida, em busca novos
recordes, fazendo algo amado por todos os torcedores. A atividade desportiva
torna-se uma escolha do lado esquerdo do peito, cujo retorno financeiro nem
sempre corresponde à quantidade de privações que muitos fazem para poder
treinar e competir pelos quatro cantos do mundo. Usian Bolt, Michael Phelps e
Simone Biles, estrelas do atletismo da natação e da ginástica olímpica, fizeram
história, viraram lendas e não meras atrações do noticiário semanal.
Usian Bolt |
Michael Phelps |
Simone Biles |
A cerimônia de abertura dos jogos
olímpicos do Rio de Janeiro foi um evento emocionante, com bastante música e
mostrando para o mundo inteiro o que os brasileiros sabem fazer de melhor –
dentre as coisas boas e algumas atrações de gosto bem duvidoso. Vibrei de
alegria ao ver o Presidente Interino Golpista Michel Temer levar uma
vaia que faria Nelson Rodrigues ruborizar de vergonha alheia dentro do Maracanã
e (consequentemente) diante do mundo inteiro. A emoção de ver a tocha olímpica
sendo carregada pelo estádio pelos atletas mais significativos da história de
nosso esporte (Gustavo Kuerten – tênis, Hortência Marcari – basquete e
Vanderlei Cordeiro de Lima – atletismo) valeu cada momento e me fez esquecer
temporariamente dos absurdos que ocorreram enquanto o símbolo maior da
Olimpíada passava pelas ruas do país.
Gustavo Kuerten |
Hortência Marcari |
Vanderlei Cordeiro de Lima |
Tem sido doloroso para mim, carioca de
nascimento e paulista de coração, ficar longe do Rio de Janeiro em um dos
momentos mais célebres de toda a sua trajetória. Nossos atletas têm escrito
páginas belíssimas da história do esporte brasileiro através de garra e
superação. Rafaela Silva, judoca negra, pobre, injustiçada, lésbica e distante
dos padrões de beleza internacionais, foi a primeira judoca brasileira a conquistar uma medalha
de ouro, revelando todo um passado de sofrimento e frustração e como fomos
injustos com ela diante de sua eliminação nos Jogos Olímpicos de Londres, em
2012. Thiago Braz da Silva (salto com vara) conseguiu pular mais alto do que
todos e se consagrou como o melhor de todos. Isaquías Queiroz dos Santos remou
dentro de sua canoa como se fosse a última coisa a ser feita na vida e
conquistou três medalhas olímpicas – único brasileiro a conseguir tal marca em
uma única edição dos jogos. Robson Conceição derrotou um lutador cubano e leva
o ouro olímpico pelo boxe. Alison Cerutti e Bruno Schmidt, aliando técnica e
gigantismo, se tornaram campeões olímpicos de vôlei de praia depois de partidas
eletrizantes. Arthur Zanetti subiu ao pódio pela ginástica olímpica e levou a
prata. E o que dizer de Maicon Andrade, um ex-pedreiro e ex-garçom que conquistou o bronze no tae-kwon-do e da espetacular seleção brasileira de vôlei masculino que arrebatou o segundo ouro depois de quatro finais olímpicas consecutivas?! Outros exemplos não faltam e, ainda bem, não nos faltarão...
Rafaela Silva |
Thiago Braz da Silva |
Isaquías Queiroz dos Santos |
Robson Conceição |
Alison Cerutti e Bruno Schmidt |
Arthur Zanetti
|
Houve alguns exemplos emocionantes de
humanismo através da capacidade única do esporte em unir as pessoas. Duas ginastas,
uma da Coréia do Norte e outra da Coréia do Sul (duas irmãs divididas por
conflitos políticos), fizeram questão de postar juntas em uma selfie. Uma iraniana, residente na Bélgica,
fez o que pode para lutar pelos direitos das mulheres de seu país ao
reivindicar o direito de que a entrada dos estádios seja permitida para
indivíduos de ambos os sexos. Marta e suas companheiras intrépidas da Seleção
Brasileira de Futebol feminino lutaram por uma medalha como se estivessem
dentro de uma batalha campal, ganhando a admiração e o respeito de muitos de
nós. E um fato importantíssimo para as minorias: os Jogos Olímpicos do Rio de
Janeiro entram para a história por ter sido o evento esportivo no qual houve a
maior quantidade de esportistas que “saíram do armário” e tornaram pública a
sua homossexualidade. Sinal de que os eventos esportivos, redutos do machismo e
da homofobia, também fazem parte da mudança dos tempos...
A selfie das coreanas |
A iraniana corajosa |
O escrete feminino |
O amor de duas pessoas que se amam |
Mesmo diante das dificuldades e das inegáveis
falhas do evento, os cariocas se revelaram como anfitriões alegres irreverentes
e infinitamente dispostos em celebrar as maravilhas do esporte. Em certos
momentos, até demais: muitos reclamaram com razão do barulho ensurdecedor das
torcidas que ocuparam as arenas olímpicas e os estádios, afinal o comportamento
de nossas torcidas, essencialmente futebolísticas, não estão acostumadas com um
comportamento mais moderado em modalidades que exigem mais concentração dos
atletas, tais como o golfe, o atletismo e o tênis, para não citar outros. Ainda
é preciso aprender a seguinte lição: torcer para o seu desportista ou time
favorito também requer boa educação e respeito, exigindo a consciência do
momento mais adequado para vaiar e aplaudir.
Por outro lado, também não podemos
esquecer dos tristes episódios ocorridos antes e durante a Rio 2016. Ainda não consigo
me conformar com a onça assassinada durante a passagem da tocha pelo estado do
Amazonas. Nem com a onda de protestos contra Temer e a Globo sumariamente
abafados pelos policiais, impedindo a liberdade de expressão de vários
brasileiros. E como lidar com o “piti” homérico de Renaud Lavillenie, o atleta
de salto com vara que perdeu o ouro para Thiago Braz, e comparou a torcida
brasileira com os nazistas que vaiaram o americano Jesse Owens nos Jogos Olímpicos
de Berlim em 1936? E com a falta de respeito do judoca egípcio que se recusou a
cumprimentar o adversário iraniano depois de perder uma luta? E como suportar
com a arrogância de Neymar e seus coleguinhas da Seleção Brasileira de Futebol
que entram em campo muito mais preocupados com seus egos, salários astronômicos
e patrocínios escandalosos enquanto as meninas do futebol são altamente
desvalorizadas pelo mercado e machistas de plantão? E como compreender a falsa
denúncia do nadador norte-americano Ryan Lochte e seus amigos à polícia carioca
alegando roubo em um claro episódio de bandidagem e não de molecagem? A violência,
aliás, continuou a dar as caras pelo Rio de Janeiro, mesmo diante da
importância do evento, e não ao vitimar um soldado da Força Nacional, morto “ao
defender os interesses da pátria brasileira”. Infelizmente o fair play passou longe destes casos, o
que é digno de vergonha alheia.
A onça assassinada |
Renaud Lavillenie |
Neymar e sua turminha |
Ryan Lochte |
Quando a segunda-feira do dia 22 de
agosto se iniciar, nós nos lembraremos de que o Rio de Janeiro, depois de se
sagrar campeão em um evento que mobilizou diversos países do mundo, estará
longe de viver dias de “bed of roses” ou “pleasure cruise” descritos por
Freddie Mercury à frente do Queen. O Rio deixará de ser a Cinderela do esporte mundial
para voltar a ser a velha gata borralheira violentada por bandidos traficantes
e que vestem terno e gravata em busca de votos para continuar saqueando os
cofres públicos. A Força Nacional, os turistas, os atletas estrangeiros e a
imprensa internacional se distanciarão como o “Raio Bolt”, enquanto nós teremos
de nos voltar para as agruras de um Estado falido, que não paga seus policiais e
vive uma crise sem precedentes em termos de segurança pública. A realidade retornará
à rotina dos cariocas. Cabe a cada um de nós (eu me incluo, evidentemente!) sair
em busca da autoestima e lutar para que a “Cidade Maravilhosa” continue a fazer
jus à sua enorme beleza.