31 de julho de 2016

TROVA # 78

A SEDUÇÃO ILIMITADA DO MAESTRO DO AMOR
(ou algumas de minhas memórias sobre Barry White)

Amado Maestro

There's people making babies to my music. That's nice.
(Barry White)


         Música sempre foi um assunto sério lá em casa: ela se fazia presente desde a sala de estar até os quartos de dormir e passava pelos demais cômodos do já saudoso apartamento em que vivíamos na Ilha do Governador. Por outro lado, tenho recordações bastante especiais do que ouvíamos nos automóveis que o Sr. Orlando, meu velho e bom pai, teve no decorrer da vida: The Police, Simply Red, Rod Stewart, Phil Collins, Genesis e outros nomes de peso do Pop Rock internacional eram super habituais nas caixas de som dos Fuscas, Passats, Gols, Fiats que eram os veículos da família. Nenhuma destas minhas memórias são tão repletas de afetividade quanto a audição dos clássicos de Barry White, que embalou os momentos mais comuns dos meus pais e, por tabela, os meus.


Barry White no programa de TV Soul Train, em 1973.
         White, que na verdade se chamava, Barry Eugene Carter, nasceu na cidade texana de Galveston, em 1944. A música não foi apenas a fonte de suas paixões, mas foi a sua verdadeira tábua de salvação de um futuro que não lhe prometia sucesso e glória. Ao ouvir a gravação antológica de Elvis Presley para “It’s Now or Never” em uma prisão (o jovem Barry tinha sido condenado por roubo qualificado), viu que o seu caminho para encontrar o seu pote de ouro simbólico era trilhando os passos do Rei do Rock, cujo topete carcaterístico imitava aberta e descaradamente no decorrer dos enlouquecidos anos 1970. Começou sua vida artística como homem de Artistas & Repertório (A&R) em uma pequena gravadora na década anterior. Pouco tempo depois, tornou-se um respeitado produtor musical e revelou talentos musicais maravilhosos como o trio vocal feminino Love Unlimited e a fantástica Love Unlimited Orchestra, que fez sons inesquecíveis para quem teve os seus dias de juventude em meio a penteados afro/black power e calças boca de sino.


         Barry White se lançou como cantor em 1973 e logo se popularizou com um repertório romântico e dançante que misturava Soul, Funk, Disco e Latin Music embalados por uma voz de baixo-barítono que voava feito um foguete sonoro que desbravava nuvens e céus com as meninas do Love Unlimited e as cordas e sopros da Love Unlimited Orchestra como tripulantes de um voo do amor. O tom sussurrado e falado utilizado por Barry se alternava com os agudos potentes tornaram sua voz em uma marca registrada e em um padrão de referência para vários homens que decidissem se aventurar pelos caminhos da canção popular. Os esforços de White, sua abordagem incomum para emplacar hits nas paradas de sucesso e um som que era fruto da influência de gênios do porte de Ray Charles, Aretha Franklin, o som da gravadora Motown lhe renderam mais de 100 milhões de discos vendidos em mais de três décadas de carreira.



         Um dos meus álbuns preferidos de Barry White é o obscuro Beware!, lançado em 1981. Lançado após um período de imenso sucesso – que lhe rendeu sucessos monstruosos como “Let the Music Play” e a sua versão inesquecível para “Just the Way You Are”, de Billy Joel e os smash hits “You’re the First, the Last, My Everything” e “Can’t Get Enough of Your Love, Babe”, este trabalho marca o flerte intenso do músico texano com o sabor caliente dos sons latinos que vinham do Brasil. Sua canção dedicada ao Rio de Janeiro é um dos maiores hinos de amor ao povo carioca e marcou o início de suas várias idas e vindas pela Cidade Maravilhosa. A gravação da faixa-título, da autoria de JoAnn Belvin, é um dos momentos mais emocionantes da carreira de White. “I Won’t Settle for Less than The Best (for You Baby) e “Let Me In and Let’s Begin with Love”, parcerias de Barry com Vella M. Cameron, são dois retratos intensos do que podemos fazer de mais honesto e apaixonado em uma relação a dois. Os vocais açucarados embalados por excelentes músicos e cantores de apoio, além dos sopros e cordas da Love Unlimited Orchestra são de deixar qualquer músico e ouvinte sem fôlego.

A capa de Beware! (1981)

         As poucas informações disponíveis acerca da discografia de Barry White nos levam a crer que Beware!, apesar de ter feito relativo sucesso no Brasil, não teve uma boa acolhida pela crítica especializada e pelo público do maestro. Talvez a presença de carga erótica e latinidade do disco não tenham agradados aos que se animavam com a chamada New Wave. O que me importa é que este trabalho de Barry – lançado no mesmíssimo ano em que eu nasci – faz parte da minha discoteca básica há mais de 20 anos. Ao ouvir p álbum recentemente (desta vez no HB20 de minha mãe, que tinha as canções do CD em uma seara de arquivos em MP3 que alimentam o carro de D. Elizabeth), senti que a beleza desta obra-prima continua intacta.

A capa de Just Another Way to Say I Love You (1975)

         Retomar o contato com a música de Barry White não é apenas um convite para retomar as memórias familiares mais escondidas em meu recôndito pessoal. É recordar a origem de minha paixão por vozes grandiosas, arranjos orquestrados e os balanços e embalos das velhas canções de amor que (ao contrário do que dizem por aí...) jamais envelhecem. Creio que foi aquele veludo vocal que me ajudou a ter esta vontade louca e incontrolável de querer cantar por aí. Enquanto muitas mulheres devem ter se rendido aos encantos de Mr. White, eu me deixei seduzir pelo talento musical ilimitado do Maestro do Amor. E assim tem sido e há de ser por muitos anos...


BARRY WHITE’S TOP 10

1. You’re the First, the Last, My Everything


2.   Can’t Get Enough of Your Love, Babe


3.   Honey Please, Can’t Ya See


4.   I’ve Got So Much to Give


5.   Don’t Make Me Wait Too Long


6.   Let the Music Play


7.   Your Sweetness is my Weakness


8.   It’s Ecstasy when You Lay Down Next to Me


9.   I’ll Do Anything You Want Me To


10.    How Did You Know It Was Me?



BONUS # 1: Around the World (Lisa Stansfield & Barry White)


BONUS # 2: Under the Influence of Love (Love Unlimited Orchestra)