MEMÓRIAS DE UMA ROQUEIRA MALCOMPORTADA
"A sorte de ter sido quem sou, de estar onde estou, não é nada
comparada ao meu maior gol: sim, acho que fiz um monte de gente
feliz."
(Rita Lee – Rita Lee: Uma Autobiografia, p. 269)
Rita Lee lançou suas memórias em livro. Um livro para lá de esperado,
interessantíssimo, encantador, honesto, sincero, brutal. Uma narrativa tão
envolvente, que eu li em menos de sete noites (por motivos de força maior, eu
só podia ler as memórias de Rita durante a parte da noite, antes de
dormir).
Se eu fosse a Rainha do Rock Brasileiro, eu teria dado outro título ao
invés de "Uma Autobiografia": daria o título de "Memórias de uma Roqueira Malcomportada"
por causa do conjunto da obra mais sincera que a filha de Dr. Charles e D.
Chesa nos legou. Rita não se compromete em dar detalhes complexos de sua
relação com Os Mutantes ou com os Tropicalistas, tampouco dá explicações
detalhadas sobre sua relação de vida e trabalho de décadas ao lado do parceiro
/ marido Roberto de Carvalho. Datas não são o forte de Madame Lee, o que
compreensível para alguém que foi por anos e anos a livre-docente em
porra-louquice (só perdendo para Ozzy Osborne ou Keith Richards no quesito
"drogas").
Já distante dos palcos e dos holofotes há alguns anos, Rita Lee decidiu
fugir dos clichês que rondam o universo do showbiz
e reuniu suas memórias em livro sem necessitar de um ghost writer, mas com “causos” bem picantes...
Por isso e muito mais, decidi elencar 15 motivos para que você não deixe
de ler o livro de Rita Lee de maneira alguma:
1) Rita Lee relata os seus problemas com as
drogas e com alcoolismo sem rodeios - Sem discurso de "madalena arrependida", a Rainha do Rock
Brasileiro fala de seus antigos vícios sem arrependimento, conta um pouquinho
sobre suas internações em clínicas de reabilitação, do acidente que esfacelou o
seu maxilar e quase a impediu de cantar em meados dos anos 1990 e de várias de
suas operações (mastectomia, hemorroida, cordas vocais, reconstrução dos ossos do
rosto, retirada da vesícula) e de uma surpreendente suspeita de Mal de
Parkinson;
2) Rita Lee encanta os leitores com a
bela família que constituiu - O amor
intenso e verdadeiro por Roberto de Carvalho, por seus três belos filhos, sua
neta e a devoção incansável por seus bichos mil chega a comover o mais
insensível dos leitores. Apesar de toda a inconstância da rotina da mulher
que mais vendeu discos no país (ela vendeu mais discos do que Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia JUNTAS!), Rita conseguiu dar a prioridade desejada ao seu
ninho;
3) Rita Lee conta alguns bastidores
surpreendentes do grupo Os Mutantes, do qual foi uma das fundadoras - A arrogância e os egos estratosféricos dos irmãos Cláudio Cesar, Arnaldo
e Sérgio Dias Baptista, a falta de asseio da residência dOzmano da Pompeia, os
ataques de D. Clarisse (a matriarca da família) não passaram incólumes pelo
olhar e a memória de Rita. Dos episódios com Arnaldo e Serginho, há três fatos
inesquecíveis e surpreendentes:
3a) A prima ninfomaníaca dos Mutantes
- segundo Madame Lee, Claudia Dias
Baptista teria literalmente "passado o rodo" em vários homens que
frequentavam uma academia de artes marciais que todos frequentavam na Vila
Mariana, a ponto do dono do estabelecimento ter sido obrigado a fechar as
portas por conta do escândalo de um homem casado ter se envolvido com uma
aluna. Hoje, Claudia é conhecida pelo público brasileiro como Monja Coen, uma
liderança budista;
3b) A irreverência e a anarquia dos
irmãos Mutantes assombrava mais da metade do mundo musical - De acordo com a autora, o ataque cardíaco fulminante de Vicente
Celestino teria sido causado pelo choque de ver os irmãos Baptista aprontando
suas estripulias com seus instrumentos musicais. O intérprete de "Coração
Materno", que tinha sido convidado para participar do programa coletivo Divino Maravilhoso, tinha ficado
bastante transtornado com a passagem de som dos rapazes, que tinham ligado os
instrumentos no volume máximo durante uma passagem de som e fez com que
Celestino começasse a passar mal dentro dos estúdios de TV. Segundo Rita, o
episódio "pegou mal" para a reputação dos Irmãos Baptista;
3c) Desligando Edu - O episódio no qual Os Mutantes deveriam abrir um show de Edu Lobo em
Portugal me rendeu altas gargalhadas. Depois de terem sido esnobados pelo autor
de "Ponteio" de maneira bem grosseira, Arnaldo, Sérgio e Rita, em um
ato de molecagem explícita, decidiram procurar pelos fios que ligavam o
equipamento de som de Edu e simplesmente cortaram os fios da apresentação,
inviabilizando o show. Sim, aqueles meninos poderiam ser mais terríveis do que
se poderia imaginar...
4) Rita Lee e o lendário casarão
da Vila Mariana - Localizada
no número 670 da rua Joaquim Távora, a residência dos Jones abrigou várias
histórias hilárias e algumas tristes do casal Charles Fenley Jones e Romilda
Padula Jones (mais conhecida pelo apelido de Chesa), pais de Rita e de suas
irmãs mais velhas - Mary Lee Jones e Virgínia Lee Jones. A presença de Balú e
Carú, amigas de parentes que se tornaram, posteriormente, em babás e anjos da
guarda da família, formava o harém irreverente e católico (Dona Romilda
colocava a imagem de Nossa Senhora Aparecida em cima da TV durante as
eliminatórias dos festivais da canção dos quais Os Mutantes participavam) que
contrastava com o exército de um homem só formado pelo sargento Charles, que
controlava tudo com seu olhar intimidador e com mão de ferro.
5) Rita Lee Fã - É, no mínimo, surpreendente que a mulher que mais vendeu discos no
Brasil seja uma fã tão ardorosa de James Dean (sua eterna paixão!) e de David
Bowie (a quem confessou ser fãzoca - Disse ela a Bowie: "I'm such an old fan of yours", no
que ele respondeu, com sua elegância indefectível e seu humor inglês: "Oh yeah, I'm such and old singer").
Pelo fato de sempre ter sido tiete de seus ídolos, Rita alega sempre ter
compreendido a idolatria (às vezes, desmedida e excessiva) de muitos de seus
admiradores.
6) Rita Lee conta os detalhes de sua
primeira vez na prisão, em 1976 - O grande público toma conhecimento dos detalhes que levaram a autora de
"Ovelha Negra" para detrás das grades. Em solidariedade à mãe de um
fã dos Mutantes que foi morto em uma apresentação do grupo em Itaquera, Zona
Leste de São Paulo, anos antes, Rita decidiu prestar depoimento esclarecendo
que o rapaz foi morto por policiais que deveriam estar fazendo a segurança do
local. Em represália, os "meganhas" surgiram na residência da artista,
na época grávida de seu primeiro filho, "plantaram" drogas pelos
cantos da casa e levaram Madame Lee em cana. Um detalhe: com todo o apoio da
Ditadura Militar.
7) Rita Lee e seus queridos amigos - A artista não apenas fala da amizade com ilustres e famosos, como também
nos brinda com algumas curiosidades deliciosas:
7a) Ritz & Gil - Amigos desde a época da Tropicália, Rita Lee e Gilberto Gil formaram
uma parceria musical sólida e uma amizade de muitos anos. Foi ele quem fez com
que a filha mais nova de Charles e Chesa largasse de vez os estudos em
Comunicação na USP para assumir, de vez, a carreira artística. Padrinho do
filho mais velho de Rita e Roberto de Carvalho, Gilberto Gil estava prestes a
reeditar a segunda versão do show Refestança junto de sua querida pupila quando teve que declinar do convite pelo
fato de ter que assumir o Ministério da Cultura do primeiro governo Lula;
7b) Ritz & Elis - A amizade entre ambas surgiu quando Rita estava presa e Elis Regina foi
visitar a colega na prisão, exigindo condições decentes para o encarceramento
de Rita. Apesar de César Camargo Mariano ter torcido o nariz em um primeiro
momento, Elis se tornou uma intérprete constante da dupla Lee-Carvalho. Foi
Madame Lee quem convenceu a geniosa intérprete de "Dois pra Lá, Dois pra
Cá" a participar de Mulher 80, lendário especial de TV que reuniu as duas ao lado de Gal Costa, Maria
Bethânia, Simone, Fafá de Belém, Joanna, Marina Lima, Zezé Motta e Quarteto em
Cy. Uma parceria musical da Pimentinha com o casal mais ilustre da MPB (na qual
Elis seria autora dos versos) estava programada, porém nunca aconteceu: a maior
cantora do Brasil morreu em janeiro de 1982;
7c) Rita & Ney - Foi graças a Ney Matogrosso que os destinos de Rita Lee e Roberto de
Carvalho (guitarrista que o acompanhava durante a turnê Bandido, em 1976) se cruzaram e nunca mais se separaram. Além de um grande intérprete das canções de Rita, a voz principal do
grupo Secos & Molhados foi o cupido de um dos casamentos mais duradouros da
música brasileira;
7d) Rita & Tim - Colegas de gravadora no início da década de 1970, Rita Lee e Tim Maia,
insatisfeitos com as políticas comerciais da Philips, quebraram todo o
escritório de André Midani, o Big Boss da gravadora na época.
Ao sair de lá, Tim diz para a secretária, atônita: "Nada pessoal viu,
lindinha!"...
8) Rita Lee desfere todo o seu rancor - Ferina e venenosa, Rita não perdoa vário desafetos, a saber:
8a) Arnaldo Baptista - o ex-marido e ex-companheiro de banda teve algumas intimidades
conjugais reveladas no livro, com alfinetadas à atual esposa de Arnaldo,
Lucinha Barbosa (um clone de "Rita Lee", segundo a autora das memórias)
e com relatos tristes de episódios de insanidade de Lóki - o episódio do fim de
Charles, o Jeep ano 1951, e do incêndio na casa alugada da Cantareira são dois
exemplos bem tristes do desequilíbrio de um dos músicos mais brilhantes do
Brasil;
8b) Mônica Lisboa - A ex-empresaria de Rita Lee só foi citada no livro através do apelido
pejorativo de "Governanta". Ex-assistente de Guilherme Araújo,
empresário de Gil, Gal e Caetano, foi acusada pela autora de "Esse Tal de
Roque Enrow" de ser controladora demais, dentre outros pecados mortais;
8c) Luís Sérgio Carlini - Foi acusado por Rita de ter feito vários motins dentro da banda contra
a band leader (Ritz) e de ter roubado o nome da banda "Tutti Frutti"
ao registrar o título sob sua propriedade intelectual exclusiva;
8d) Okky de Souza - Casado com uma prima de Roberto de Carvalho, foi padrinho de Antônio,
terceiro filho do casal Rita & Roberto. Rita Lee diz que ele passou a fazer
parte da maioria absoluta de jornalistas que sempre falaram mal dela na grande
imprensa;
8e) Ezequiel Neves - Rita Lee o acusa o anjo protetor de Cazuza de ter espalhado um boato de
que ela estava com leucemia (o que rendeu uma música hilária que fecha o LP de
1985). A Rainha do Rock Brasileiro chegou até a ensaiar uma trégua com o
"Abominável das Neves" em 1990, quando Cazuza estava em seu leito de
morte e implorava por uma reconciliação. Rita confessa que chegou a doar uma
quantia em dinheiro para custear um tratamento médico na época em que Zeca
estava prestes a morrer, em 2010;
8f) Carlos Calado - Jornalista de respeito, biógrafo e autor de A Divina Comédia dos
Mutantes (Ed. 34), Calado não escapou da escrita ferina de Rita Lee, por ter
supostamente escrito "masturbações literárias";
8g) Zélia Duncan - Parceira de Rita Lee e amiga de infância até o episódio do revival dOs
Mutantes, entre 2005-2007, Zélia Duncan chegou até a receber a bênção da Rainha
do Rock Brasileiro para integrar a "nova" formação do grupo. Rita
chegou a receber vários convites para reintegrar o grupo, porém
declinou todos. Arnaldo, em tom de revanche, deu várias declarações para a
imprensa dizendo que ZD era bem superior à Rita, o que deve ter agigantado o
ego e a mágoa de Madame Lee. A autora das memórias não chega a dirigir nenhuma
palavra de ódio contra Zélia, mas lhe destina o pior de todos os castigos: o da
indiferença, mesmo depois de ZD ter gravado uma canção em homenagem à Rita;
9) Rita Lee nos oferta belas imagens
de arquivo - Fotos do
arquivo pessoal da família Jones ("unida e jamais vencida") se juntam
às fotos de Rita ao lado de Roberto, dos filhos Beto, Juca e Tui e de momentos
marcantes de uma carreira musical vitoriosa. Cá, para nós: ver Madame Lee
fazendo topless na praia ou posando
seminua para as câmeras, às vésperas do nascimento de dois de seus filhos, somados
aos momentos de intimidade ao lado de seus bichinhos é algo belo e inusitado;
10) Rita Lee está acompanhada de
Phantom, um fantasminha pra lá de camarada - Phantom,
na verdade uma intervenção bem-humorada do jornalista Guilherme Samora,
esclarece fatos, datas, aponta curiosidades e chega até a criticar a inaptidão
de Rita em precisar momentos e datas. Um dos fatos curiosos mais interessantes
apontados pelo fantasminha foi de que o show Acústico
MTV continha
uma versão acapella de "Dias
Melhores Virão", algo que todos os fãs gostariam de ver e ouvir.
11) Rita Lee fala de suas canções
mais importantes e nos conta um pouquinho sobre o processo de criação - Madame Lee
fala sobre todos os discos dOs Mutantes dos quais participou, dos seus discos à
frente da banda Tutti Frutti e dos discos gravados em parceria com Roberto de
Carvalho até 1990. A partir daquele período, suas memórias e/ou sua vontade se
tornam mais seletivas. No entanto, há três fatos que devem ser elencados:
11a) as
"parcerias" entre Rita, Sérgio e Arnaldo que na verdade não
aconteceram, visto que todos tinham uma espécie de acordo em colocar seus nomes
em todos os créditos de composição do repertório dos álbuns dOs Mutantes;
11b)
"Baila Comigo" foi composta depois de um sonho: grávida de João Lee,
seu segundo filho, Rita acordou e compôs esta canção em poucos minutos, em um
momento de plena inspiração;
11c)
"Arrombou a Festa", uma canção esculachando a MPB da época, chegou a
ser um dos maiores sucessos de Rita, em 1977. A Rainha do Rock chegou a gravar
a segunda versão em seu álbum de 1979 e uma versão zombando de políticos da
época em 1983. Uma quarta versão - Arrombou a Festa número pi" -
chegou a ser composta em 1993, mas foi vetada pela própria Rita Lee, pois
anarquizava sem dó com os artistas da época: "Marisa traz dos montes as
cantoras mais ecléticas / Quebrando o padrão das sapatas mais atléticas /
Senhoras e senhores, o negócio é ser famoso / Quem nasce pra Lulu jamais chega
a cão raivoso".
12) Rita Lee lembra de alguns
acontecimentos incríveis ao lado de outros famosos - Madame Lee conta algumas situações inusitadas ao lado de lendas do showbiz, das quais selecionamos algumas:
12a) Hebe chegou a encontrar Rita doidona de
drogas, na sarjeta em uma rua de São Paulo. A lenda da TV levou Ritz para casa
e lhe deu banho e comida, além de implorar para que ela jamais passasse por tal
vexame novamente;
12b) Um
rapaz loiro e magricela sempre vinha trocar ideias com Rita e Os Mutantes na
época do programa Divino, Maravilhoso na TV Tupi. Tempos depois, ela descobriu
que o rapaz era Stuart Angel, filho
de Zuzu Angel;
12c) Ulysses Guimarães chegou a ser um dos
pretendentes de D. Romilda, a mãe de Rita. No entanto, a paixão dela pelo Dr.
Charles deixou o velho Ulysses a ver navios...
12d) Sonia Braga trabalhava como assistente
de palco do programa de Ronnie Von na década de 1960 e fez amizade com Rita,
que chegou a convidá-la a integrar Os Mutantes. La Braga, ciente de que o seu
amor maior era pelo teatro e pelo cinema, declinou do convite;
12e)
Durante a turnê do disco Flerte Fatal, Rita escolhia uma gostosona ou uma transexual
para se vestir de Miss Brasil 2000 com apenas uma capa de miss e... nada mais!
Em Porto Alegre, a escolhida a abrir a capa por poucos segundos e se mostrar
para o público como veio ao mundo foi ninguém mais, ninguém menos do que Adriana Calcanhotto antes da fama;
12f) Mick Jagger ficou tão encantado com a apresentação de Rita na abertura
do primeiro show da turnê dos Rolling Stones pelo Brasil que liberou as
passarelas laterais do gigantesco palco da Voodoo
Lounge (geralmente vetadas para os números
de abertura) para que Madame Lee fizesse o que ela quisesse em cena. Detalhe: durante
o show de Santa Rita de Sampa, Jagger estava de câmera em punho para fotografar
a nudez da "Miss Brasil 2000" daquela noite;
12g) Em um
jantar de gala oferecido para Shirley
MacLaine, Rita ouviu da lendária atriz hollywoodiana que elas pareciam
irmãs;
12h)
Indignada com o tratamento que Alice
Cooper dava para as cobras que ele utilizava em seus shows, Rita adentrou o
backstage e roubou as duas
coitadinhas em represália ao roqueiro;
12i) Antes
de sua apresentação no Hollywood Rock,
em 1975, Madame Lee recebeu a visita ilustríssima de Eric Clapton e sua esposa na época, Pattie Boyd - ex-George Harrison e musa inspiradora de
"Layla", de Clapton. Detalhe: foi Pattie quem ajudou Rita a costurar
o figurino no corpo minutos antes do show;
12j) Em
uma de suas tentativas de querer alisar os cabelos crespos, Mary Lee Jones (a
irmã mais velha de Rita) chegou a raspar os cabelos e teve que pedir uma
peruca emprestada para o namorado do farmacêutico do bairro. Anos depois, o
dono da peruca seria conhecido por todo o Brasil como Clodovil.
13) Rita Lee fala, sem deixar uma
certa dose de ironia e deboche de lado, a respeito de sua depressão, de
bipolaridade e de outros episódios tristes - Madame Lee deixou bastante claro em suas memórias de que sua depressão,
dentre outros aspectos, era fruto da falta de coragem em ter que encarar as
mortes em sua família - Mary, Charles, Chesa, amigos mortos pela AIDS, etc.
Além disto, ela relata um estupro sofrido na primeira infância e em um aborto
realizado em 1977. O primeiro episódio é tratado com serenidade, enquanto o
segundo é tratado com tristeza, mas com uma honestidade impressionante;
14) Rita Lee adiciona mais um fato à
histórica polêmica envolvendo o grupo Secos & Molhados e a banda
norte-americana KISS - Madame Lee afirma, com plena convicção de que os americanos realmente
copiaram a maquiagem do grupo que revelou a voz e o talento de Ney Matogrosso
para o Brasil e o mundo. Diz Rita: "Entre outros papos, comentamos que o
KISS, por meio da estilista brasileira Maria Contessa (que confeccionava o
figurino deles), teria sugerido aos gringos a maquiagem inspirada na dos Secos
& Molhados. A história procede, uma vez que os Secos aconteceram antes do
KISS, portanto pioneiros no quesito 'pintar a cara de branco e preto' (p.
142)".
15) Rita Lee e a ajuizada decisão em
sair dos holofotes, aos 65 anos de idade - A autora
explica em suas memórias alguns de seus motivos para abandonar os palcos (saúde
bastante debilitada, falta de disposição para as exigências do showbiz são as principais), além de
deixar claro que não deseja vivenciar os clichês que marcam o fim da vida de um
roqueiro: morrer de overdose ou de AIDS, se converter a uma religião radical ou
ter que (re)viver por aí em revivals
oportunistas, em turnês bilionárias para alimentar o bolso ou o ego não são
opções do agrado de Rita Lee, que prefere seguir seus próximos dias como
"Tiranassaura Regina" (pp.236-237).
Em uma linguagem bastante coloquial e "adolescente" (segundo
críticos mais ferrenhos), Rita Lee deixa claro o seu ódio por jornalistas e
críticos. Não se preocupa em verificar datas e nomes de determinados
acontecimentos, entretanto oferece um material riquíssimo para quem um dia
quiser se lançar no trabalho monumental de escrever sua biografia definitiva.
Rita faz um balanço de uma vida inteira dedicada à música e aos que ela sempre
amou. E sem se esquecer daqueles que a admiram de paixão.
Se eu pudesse ter a oportunidade de conversar com Rita Lee novamente
(tive esta honra duas vezes, assunto para outro texto!), eu lhe faria a
seguinte indagação - "Mas afinal de contas, Lady Ritz, conta uma coisa
aqui no ouvido da gente (juro de pés juntos que não conto pra ninguém!): quem é
a tal cantora famosa em início de carreira com quem você trombou no apartamento
do Jorge Ben quando você foi pedir repertório para o primeiro disco dOs
Mutantes, hein?".
Eu tenho minhas suspeitas de quem seja a tal fulana, mas ouvir a resposta de um milhão de dólares
dos lábios de Santa Rita de Sampa seria de um prazer inenarrável... Espero, de
coração, que ambos possamos estar por aqui para vivenciarmos isto...
DUAS LEITURAS SOBRE RITA LEE: UMA AUTOBIOGRAFIA
Belo texto, mas permita-me uma correção no título: ao invés de má-comportada o certo é malcomportada. Mal,advérbio, não flexiona em gênero e não há hífen neste caso.
ResponderExcluirOi, Álvaro! Obrigado pela sua observação! Já fiz a mudança no título e no texto... Um abraço
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