UMA FLOR QUE CANTA E DANÇA
“Toda sequência tem uma rotina
Toda rotina te causa estrago
Todo estrago merece um
conserto
Todo conserto te modifica.”
(Tulipa
Ruiz & Gustavo Ruiz)
Certas flores, quando entram
em contato com a brisa do dia, dançam com a naturalidade com o vento. A flor
que será o tema do nosso texto de hoje não apenas consegue dançar com as
brisas, como também possui o talento irresistível do canto. Tulipa Ruiz é uma cantora de muita sorte: dona de uma voz
invejável, com um timbre de alcance insólito. Além disto, é dotada de outros
talentos que vão além do binômio cantora/compositora – é uma desenhista de mão
cheia, para não citar outros exemplos.
O som de Tulipa chegou aqui
em casa logo após o lançamento de seu primeiro CD, Efêmera (2010), que rendeu muito entusiasmo por parte das pessoas. Dois
anos depois, o mundo inteiro se apaixonou por Tudo Tanto (2012), que fez de Tulipa Ruiz uma verdadeira estrela da
canção dos anos 2010. Confesso que não me entusiasmei muito com o primeiro
disco da flor cantante: cheguei até a receber um convite para ver uma
apresentação da turnê de Efêmera no
SESC Belenzinho, teatro que fica relativamente perto aqui de casa; no entanto, por
motivos muito menos nobres, recusei um convite para ir ao show e ainda perdi a
possibilidade de conseguir um autógrafo e de dar dois beijinhos na bela flor
cantante.
Resolvi matar a curiosidade e
fui ver Tulipa Ruiz ao vivo em um show da Tudo
Tanto Tour no SESC Santana e confesso que não dei o devido valor para a
jovem cantora que comandou um show excelente! À frente de uma banda afiadíssima
(mano Gustavo Ruiz na guitarra e na produção musical, Luiz Chagas – seu pai e
ex-escudeiro de Itamar Assumpção na lendária Isca de Polícia – na outra
guitarra, Marcio Arantes no baixo e Caio Lopes na bateria), Tulipa se revelou
como uma cantora extremamente madura e inteligente em suas interpretações ao
vivo. Cumprimentei-a rapidamente após a apresentação, pegamos seu autografo
(não me lembro se tiramos foto), mas ainda faltava algo maior para que eu fosse
finalmente seduzido pela sua arte.
Minha paixão por Tulipa Ruiz
se deu de vez com o lançamento de Dancê
(2015), seu terceiro CD. Primeiramente porque ela teve peito o suficiente para
dar um nome incomum para o seu disco. Segundo porque ela se utilizou de uma
tática semelhante à de David Bowie em 1983: ao fazer todo mundo dançar,
produziu canções de primeiríssima qualidade. Sua parceria musical com Gustavo
Ruiz rendeu canções assumidamente Pop,
porém inteligentes, com groove e com
muito conteúdo.
E este conteúdo foi azeitado
por músicos de primeiríssima qualidade: além da banda que já acompanha Tulipa, a
presença de convidados especiais fizeram de Dancê
um deleite para os amantes da boa música. João Donato canta e toca o piano
Fender Rhodes em “Tafetá”, o grupo Metá Metá (que conta com os vocais
inconfundíveis de Juçara Marçal) fizeram de “Algo Maior” um dos números mais
marcantes do disco, Kassin empresta seus dotes de instrumentista e produtor em
“Físico” e Lanny Gordin toca sua lendária guitarra em “Expirou”, nos ofertando
um solo belíssimo.
Dancê
leva Tulipa Ruiz para um outro patamar em relação às cantoras de sua geração.
Suas canções inteligentes, repletas de influências da tradição da melhor MPB (quem
conhece bem o trabalho de Gal Costa e acompanha a bela flor cantante sabe que
Gracinha é uma de suas maiores influências musicais), fazem com que seus três
discos sejam exemplos de uma bela obra em progresso. Melhor de tudo, é um disco
que não apenas te faz dançar, mas que também te obriga a pensar e a ver algumas
coisas de uma maneira diferente. Por isso, de acordo com a filosofia pregada
por Tulipa, é dançando que se resolve os problemas desta vida!
P.S. # 1: Escrevi um texto
sobre o Dancê para o Pequenos
Clássicos Perdidos,
do nosso querido mestre e guru Fábio Bridges. Para ler o texto, é só conferir o
link a seguir: http://pequenosclassicosperdidos.com.br/2015/05/26/tulipa-ruiz-dance-2015/
P.S. # 2: Um mea culpa se faz necessário... Tive a
terceira oportunidade de ver Tulipa Ruiz
cantando ao vivo em São Paulo foi na estréia da Dancê Tour, nos dias 22, 23 e 24/05/2015 no Teatro Paulo Autran,
em pleno SESC Pinheiros (SP). Por motivos de força maior, tivemos que recusar os
convites para uma das noites (que tínhamos conseguido quase que na base do
tapa), para minha total desolação. Enquanto Tulipa e sua trupe não voltam para
cá com a missão de fazer Sampa dançar, vou bailando ao som do CD mesmo... Este link dá uma prévia bem interessante do
que foi a estréia do bailão da Tulipa: http://www.noize.com.br/um-novo-patamar-para-tulipa-ruiz
ALGUNS
VERSOS QUE FAZEM DE DANCÊ UM CONVITE
PARA O SEU PENSAMENTO:
Começou
Agora você
vai tomar conta de si
Das tuas
minhocas, caraminholas,
das
encucações, dos teus pepinos
Das
pérolas, das abobrinhas,
dos
abacaxis, dos nós, dos faniquitos.
Prumo
Tulipa
Ruiz & Gustavo Ruiz
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Cada um
tem seu formato
Apertado,
colado, justo
Largo,
folgado, amplo, vasto
Cheio,
graúdo, forte, farto
Esguio,
fino, compacto.
Visto GG,
você P
Você P, eu
GG
Visto GG,
você P
Você P, eu
GG
Proporcional
Tulipa Ruiz & Gustavo Ruiz
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Fino
Só
você
Elegante
Sabe
bem
Muito
trato
Combinar
Na lapela
Tem
o dom
Tem um
padrão
Já
que tem
Desenhado
Sabe
usar
Tem casaco
Dégradé
Engomado
Tafetá
Tafetá
Tulipa
Ruiz & Gustavo Ruiz – Part. Esp.: João Donato
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Apaga,
filtra, manera
Massageia
o esqueleto
A cuca, a
cabeça, a traqueia
Cotovelo
do esqueleto
A
lombriga, clavícula, pé e a costela do esqueleto
Dormir é o
meu sonho principal
Legado aos
olhos como se fosse elixir
Dormir é o
meu sonho principal
Legado aos
olhos como se fosse elixir
Zero
reflexão, zero
Zero
reflexão, zero
Zero
reflexão, zero
E entra no
estado zen.
Elixir
Tulipa
Ruiz & Gustavo Ruiz
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Trato
azedume, mau-olhado, ‘quebrante’, vício
Trato
treta de trabalho
Trabalho
com amarração
Resolvo o
seu problema com baralho, com pôquer, bingo
Pra bituca
de cigarro eu tenho a solução
Trago seu
amor de volta se me fizer uma visita
A gente
faz uma combinação, você acerta e acredita
No duro,
dá certo
Nunca
houve reclame.
Reclame
Tulipa
Ruiz, Gustavo Ruiz, Caio Lopes, Marcio Arantes & Luiz Chagas
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Sinto
falta de um tempo que ouvi dos amigos
Tava
escrito num livro
Tocou numa
vitrola
Foi
dançado, cantado, recitado, falado
Publicado,
sentido, decupado, contado
Mas eu não
tava ali
Quando é
que a saudade daquilo que a gente não viveu passa?
Se passa,
parece que já foi, mas quando você vê volta
Volta
porque tem a sua cara, tem a ver com a sua história.
Expirou
Tulipa Ruiz & Gustavo Ruiz – Part. Esp.:
Lanny Gordin
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Todo
motivo te leva a querer
Todo
querer te faz ter vontade
Toda
vontade te faz ter impulso
Todo
impulso sempre me estimula
Jogo do Contente
Tulipa
Ruiz & Gustavo Ruiz
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Era pra
ficar no chão
Deu pé,
decolou
Era pra
ter sido em vão
Como é que
durou?
Era pra
ficar ali e por aí caminhou
Era pra
ser menos sério
Mais
cara-de-pau
Era para
ser só nuvem e precipitou
Podia não
ter dado em nada
Então como
é que virou?
Virou
Tulipa Ruiz,
Felipe Cordeiro, Gustavo Ruiz, Manoel Cordeiro & Luiz Chagas – Part.
Esp.: Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro
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Tudo que
eu gosto tá em você
É
puramente físico
(...)
O formato
do nariz
Osso
pontudo do pescoço
Lóbulo da
orelha
Desenho da
sobrancelha
Pintas
pela pele
Pelos,
tornozelo
Dedo,
nuca, calcanhar, cabelo
Da boca
pra fora
Fora de
fora pra dentro
(...)
Você veio
assim sem defeito.
Físico
Tulipa
Ruiz & Gustavo Ruiz – Part. Esp.: Kassin
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Vai ter
tempo de sobra
Mesmo
sendo velho, sabe sobre tudo
Sempre pra
valer
Volta e
meia, cê volta
Nunca é
tarde, pelas tantas recomeça
Vence em
convencer
Não tem
fim, nem começo
O agora é
agora, voa
Já passou,
olha, passou
E fica
também na sua memória
Sempre
você
O tempo e
você.
Old Boy
Tulipa
Ruiz
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Tá pra
nascer algo maior
que vá
tirar do lugar as coisas que cismam em não andar
Tá pra
nascer algo maior
que tudo o
que você já viu, leu, sentiu, soube ou ouviu
Não sinta
medo nem dó de ser feliz e se soltar,
de saber
bem o que lhe convém
Tá pra
nascer quem viva só,
pois de
me, myself and I já basta eu, você e nada mais.
Algo Maior
Tulipa
Ruiz, Gustavo Ruiz & Luiz Chagas – Part. Esp.: Metá Metá
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