SECOS & MOLHADOS - SECOS & MOLHADOS (1973)
O que é, o que é: qual o nome que se dá ao cruzamento de um músico
português, de um jovem compositor e de um cantor tímido e magricelo com um
timbre de voz agudo que se transformava em pleno palco?
Some-se a isso muita purpurina, maquiagem pesada, um som que ia do rock
clássico ao folclore português, sem deixar de passar por ritmos brasileiros e
com um discurso poético baseado em poemas de autores consagrados convertidos em
canção, além de letras originais…
Ah, e claro: uma boa pitada de contestação dos valores morais, estéticos
e, consequentemente, políticos da época na qual surgiu e o nome mais insólito
que uma banda brasileira poderia ter…
Se você, leitor, pensou no grupo Secos & Molhados, a sua resposta
está definitivamente COR-RE-TA!
A charada acima dá uma vaga ideia de que foi até fácil para que três
rapazes, cada um com o seu respectivo papel, revolucionasse a música do planeta
com apenas UM disco! E em apenas 12 meses! E, melhor de tudo, sem precisar
recorrer ao puro escracho que beirava os limites da baixaria, tal qual os
Mamonas Assassinas assim fizeram nos anos 1990.
O Secos & Molhados tinha tudo, menos uma receita pronta para o
estrondoso sucesso que fez na época, que tem feito há décadas e que ainda fará
por muitas outras: um vocalista com voz de mulher, um compositor de mão cheia,
o compositor “One Hit Wonder” mais significativo da história da música popular
brasileira e um som estranho para os padrões da época eram apenas alguns dos
elementos que NENHUMA gravadora de grande porte acreditaria hoje em dia!
E o que mais faz do disco de estreia do Secos & Molhados um dos
discos mais importantes dos últimos tempos? Vamos te dar 10 motivos para que
você possa saber:
1) A voz de
Ney Matogrosso ainda tem o poder de encantar gerações e mais gerações, de
crianças de 9 anos a senhorinhas de 90 anos;
2) As
composições originais de João Ricardo (em parceria com Luhli e Paulinho
Mendonça) conseguem fazer as pessoas cantarem, dançarem, pularem com versos
inesquecíveis como “Vira vira vira homem / vira vira / vira vira lobisomem” ou
“E o que me importa é não estar vencido”;
3) “Rosa de
Hiroshima”, poema de Vinícius de Moraes musicado por Gerson Conrad, é mais do
que uma ode às pessoas que sofreram os horrores da guerra, é um dos hinos
pacifistas mais belos em toda a história de versos, sons e ritmos da língua
portuguesa;
4) As
maquiagens utilizadas por Gerson Conrad, João Ricardo e Ney Matogrosso sempre
vão nos dar a impressão de que eles não são cantores e músicos, mas sim
criaturas que vieram de outro mundo!
5) A música do
Secos & Molhados, brasileira e da maior qualidade, mescla ritmos dos mais
diversos – Rock, Fado, Folk, Era do Rádio. Uma mistura de Bob Dylan com Crosby,
Stills, Nash & Young, conduzido pelo canto de uma Ângela Maria glitterizada
e com riffs de guitarras que parecem ter saído de The Rise & Fall of Ziggy Stardust & The Spiders from Mars.
6) Foi um dos
poucos discos da música brasileira que tocou todas as faixas (sim, as treze
faixas do disco!) nas ondas do rádio do Oiapoque ao Chuí!
7) A capa
deste disco é, sem dúvida nenhuma, a capa de disco mais ousada que já foi feita
neste planeta: quatro cabeças sendo servidas como pratos principais em uma mesa
de jantar!
8) Os refrões
das canções deste disco são fáceis de memorizar e, nem por isso, são pobres ou
desprovidos de inteligência musical!
9) Os músicos
de apoio que tocaram neste disco – Emilio Carrera, John Flavin, Willie
Verdaguer, Sérgio Rosadas, Marcelo Frias – fizeram dos teclados, guitarras,
baixo, flauta, bateria e percussão elementos de uma massa sonora complexa e de
uma riqueza extraordinária de sons e ritmos;
10) Este disco
vendeu cerca de 1 milhão de cópias em um ano de lançamento e desbancou o “Rei”
Roberto Carlos como o artista que mais vendia discos neste país! Além disto, o
Secos & Molhados conseguiu lotar o Maracanãzinho em uma apresentação
histórica em fevereiro de 1974.
Com o seu aclamado álbum de estreia e com a inesperada receptividade do
público e da crítica, o Secos & Molhados deixou de ser um mero conjunto pop
para se transformar em uma espécie de Beatlemania à brasileira e com toques e
temperos glitter. A consequência
imediata de tamanha popularidade foi a dissolução da formação clássica do grupo
em agosto de 1974, quando Ney Matogrosso decidiu abandonar o grupo alegando
“diferenças irreconciliáveis” com o seu companheiro de banda, João Ricardo.
Com apenas 13 faixas, o “disco das cabeças cortadas” se tornou uma das
pérolas mais brilhantes da canção brasileira! A cada audição deste disco, somos
transportados ao universo atemporal de “corujas e pirilampos” que falam e
dançam “entre os sacis e as fadas”.
Afinal, sempre haverá uma maneira de iluminarmos “a dança, a roda, a
festa”! E você pode ouvir este disco na íntegra aqui:
O LINK ORIGINAL ESTÁ NO PEQUENOS CLÁSSICOS PERDIDOS DESDE O DIA 2 DE JANEIRO DE 2014:
ESTE TEXTO E OUTRAS CURIOSIDADES SOBRE O GRUPO SECOS
& MOLHADOS TAMBÉM SE ENCONTRA NO LIVRO O
DOCE & O AMARGO DO SECOS & MOLHADOS:
SAIBA MAIS SOBRE O LIVRO AQUI: