O Plural (Perdido) de Gal Costa
A felicidade
de encontrar um CD raro da musa tropicalista durante minhas férias de verão em
São Luís do Maranhão
Gal Costa, Plural (1990) |
“Gal dolce
still nuovo é a minha dita dicha
Ser plural é
detonar toda raiz e detonar-se enquanto raiz
E subdividir-se
e multiplicar-se”
(Waly Salomão – Rio de Janeiro, 13 de
Julho de 1989)
Um dos meus passatempos preferidos
quando viajo de férias é visitar alguma livraria e/ou sebo pela qual estou de
passagem. Isto me dá a oportunidade de conhecer um pouquinho melhor a cultura
local, como também me dá a oportunidade de garimpar raridades musicais que se
encontram indisponíveis dentro do eixo Rio-São Paulo, onde me criei e ainda
vivo.
Em São Luís do Maranhão não foi muito
diferente de minhas experiências anteriores. Ao caminhar pelas ruas do Centro
Histórico da capital maranhense, avistar um sebo cuja área nos permitia acesso
a um restaurante de comida típica com ar condicionado era adentrar um
verdadeiro oásis, visto que o calor do verão já tinha me cozinhado
consideravelmente. Como não tenho vocação para carne de sol (apesar de ser bem
moreno), resolvi me apressar e seguir rumo ao restaurante. Depois de alguns
minutos já me sentia à vontade para explorar o que o sebo Poeme-se tinha para me oferecer.
Quando o funcionário do sebo me
informou que eu poderia me aproximar das estantes de CDs para verificar o que
eles possuíam no acervo, fui tomado de uma súbita felicidade misturada com
curiosidade e excitação. Música internacional, música clássica, música maranhense,
música brasileira... Resolvi me ater à última seção para ver se encontrava algo
que realmente valesse a pena. Letra A, letra B, C, D, E, F e nada
interessante... Eis que chego à letra G e me deparo com mais uma raridade
musical, talvez uma das joias mais raras da MPB: o álbum Plural, lançado por Gal Costa em 1990!
E por que raios este CD ainda é uma
pérola rara? Primeiramente porque recebeu pouquíssimas edições; Segundo, porque
já tinha perdido as esperanças de ter uma cópia original na minha coleção de
Gal porque as ofertas por este disco ultrapassavam a faixa dos 400 reais no
Mercado Livre; Terceiro e mais importante de tudo, porque o preço oferecido por
esta raridade era irresistível: R$12! Vinil não poderia ter ficado mais feliz
diante de situação tão inusitada...
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Gal & Waly |
Produzido pelo renomado saxofonista
Leo Gandelman, Plural foi o
reencontro da parceria Gal Costa – Waly Salomão depois de quase 20 anos sem
trabalhar juntos (a última parceria da dupla tinha sido justamente o
inesquecível show / disco FaTal: Gal a
Todo Vapor, que revolucionou a música brasileira entre 1971 e 1972). O repertório,
selecionado pelo poeta baiano, vai de canções de Caetano Veloso – “Nua Ideia
(Leila XII) (parceria com João Donato e tema dos personagens de Antônio
Fagundes e Cláudia Raia na novela Rainha
da Sucata)” e “A Verdadeira Baiana” –, criações inéditas da emergente Axé
Music, até parcerias inusitadas de Arnaldo Antunes & Jorge Benjor
(“Cabelo”) e João Bosco, Waly e Antônio Cícero (“Holofotes”), passando por
clássicos icônicos da canção brasileira – “Fon Fon” (João de Barro & Alberto
Ribeiro) e “Alguém me Disse” (Jair Gouveia & Evaldo Amorim) – e standards da canção norte-americana –
“Begin the Beguine” (Cole Porter) e “I Didn’t Know What Time It Was” (Richard
Rodgers & Lorenz Hart).
O resultado final desta seleção
reflete a multiplicidade de estilos e tendências que Gal conseguiu aglutinar em
seu canto – daí o título do disco, que resultou em um dos shows mais populares
de toda a carreira da artista. Depois de ter amargado um de seus maiores
fracassos com o show e disco Lua de Mel
como o Diabo Gosta, em 1987, a eterna Musa Tropicalista conseguiu ressurgir
para os olhares do público e da crítica com todo o brilho e a pompa merecida!
Gal Costa em cena durante o show Plural |
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Gal Costa no Rio de Janeiro em Maio de 1991. |
Depois de ter tido feito o que deveria
para poder chamar aquela raridade minha e só minha, aproveitei a chance para
almoçar no restaurante anexo ao sebo. Com direito a doses generosas de Guaraná
Jesus (a coisa mais importante do Maranhão, depois de Alcione!)
evidentemente... Com a minha meta de raridades batida por ora, já estava
preparado para poder percorrer as ruas do Centro Histórico de São Luís do
Maranhão, fazer um passeio de barco para Alcântara (não, estou mentindo!) e
passar uma temporada inesquecível de cinco dias nos Lençóis Maranhenses.
A trilha sonora daqueles dias lindos no
verão maranhense? Gal Costa, claro... Se Gracinha pudesse cantar algo sobre este
momento, ela até cantaria algo como “Alguém me disse que Vinil anda novamente /
de novo amor, nova paixão, todo contente”; afinal de contas, motivos não me
faltavam para tal...