1 de agosto de 2014

TROVA # 34


O Plural (Perdido) de Gal Costa

A felicidade de encontrar um CD raro da musa tropicalista durante minhas férias de verão em São Luís do Maranhão

Gal Costa, Plural (1990)




“Gal dolce still nuovo é a minha dita dicha

Ser plural é detonar toda raiz e detonar-se enquanto raiz

E subdividir-se e multiplicar-se”

(Waly Salomão – Rio de Janeiro, 13 de Julho de 1989)


Um dos meus passatempos preferidos quando viajo de férias é visitar alguma livraria e/ou sebo pela qual estou de passagem. Isto me dá a oportunidade de conhecer um pouquinho melhor a cultura local, como também me dá a oportunidade de garimpar raridades musicais que se encontram indisponíveis dentro do eixo Rio-São Paulo, onde me criei e ainda vivo.

Em São Luís do Maranhão não foi muito diferente de minhas experiências anteriores. Ao caminhar pelas ruas do Centro Histórico da capital maranhense, avistar um sebo cuja área nos permitia acesso a um restaurante de comida típica com ar condicionado era adentrar um verdadeiro oásis, visto que o calor do verão já tinha me cozinhado consideravelmente. Como não tenho vocação para carne de sol (apesar de ser bem moreno), resolvi me apressar e seguir rumo ao restaurante. Depois de alguns minutos já me sentia à vontade para explorar o que o sebo Poeme-se tinha para me oferecer.

Quando o funcionário do sebo me informou que eu poderia me aproximar das estantes de CDs para verificar o que eles possuíam no acervo, fui tomado de uma súbita felicidade misturada com curiosidade e excitação. Música internacional, música clássica, música maranhense, música brasileira... Resolvi me ater à última seção para ver se encontrava algo que realmente valesse a pena. Letra A, letra B, C, D, E, F e nada interessante... Eis que chego à letra G e me deparo com mais uma raridade musical, talvez uma das joias mais raras da MPB: o álbum Plural, lançado por Gal Costa em 1990!

E por que raios este CD ainda é uma pérola rara? Primeiramente porque recebeu pouquíssimas edições; Segundo, porque já tinha perdido as esperanças de ter uma cópia original na minha coleção de Gal porque as ofertas por este disco ultrapassavam a faixa dos 400 reais no Mercado Livre; Terceiro e mais importante de tudo, porque o preço oferecido por esta raridade era irresistível: R$12! Vinil não poderia ter ficado mais feliz diante de situação tão inusitada...

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Gal & Waly

Produzido pelo renomado saxofonista Leo Gandelman, Plural foi o reencontro da parceria Gal Costa – Waly Salomão depois de quase 20 anos sem trabalhar juntos (a última parceria da dupla tinha sido justamente o inesquecível show / disco FaTal: Gal a Todo Vapor, que revolucionou a música brasileira entre 1971 e 1972). O repertório, selecionado pelo poeta baiano, vai de canções de Caetano Veloso – “Nua Ideia (Leila XII) (parceria com João Donato e tema dos personagens de Antônio Fagundes e Cláudia Raia na novela Rainha da Sucata)” e “A Verdadeira Baiana” –, criações inéditas da emergente Axé Music, até parcerias inusitadas de Arnaldo Antunes & Jorge Benjor (“Cabelo”) e João Bosco, Waly e Antônio Cícero (“Holofotes”), passando por clássicos icônicos da canção brasileira – “Fon Fon” (João de Barro & Alberto Ribeiro) e “Alguém me Disse” (Jair Gouveia & Evaldo Amorim) – e standards da canção norte-americana – “Begin the Beguine” (Cole Porter) e “I Didn’t Know What Time It Was” (Richard Rodgers & Lorenz Hart).

O resultado final desta seleção reflete a multiplicidade de estilos e tendências que Gal conseguiu aglutinar em seu canto – daí o título do disco, que resultou em um dos shows mais populares de toda a carreira da artista. Depois de ter amargado um de seus maiores fracassos com o show e disco Lua de Mel como o Diabo Gosta, em 1987, a eterna Musa Tropicalista conseguiu ressurgir para os olhares do público e da crítica com todo o brilho e a pompa merecida!


Gal Costa em cena durante o show Plural



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Gal Costa no Rio de Janeiro em Maio de 1991.


         Depois de ter tido feito o que deveria para poder chamar aquela raridade minha e só minha, aproveitei a chance para almoçar no restaurante anexo ao sebo. Com direito a doses generosas de Guaraná Jesus (a coisa mais importante do Maranhão, depois de Alcione!) evidentemente... Com a minha meta de raridades batida por ora, já estava preparado para poder percorrer as ruas do Centro Histórico de São Luís do Maranhão, fazer um passeio de barco para Alcântara (não, estou mentindo!) e passar uma temporada inesquecível de cinco dias nos Lençóis Maranhenses.

         A trilha sonora daqueles dias lindos no verão maranhense? Gal Costa, claro... Se Gracinha pudesse cantar algo sobre este momento, ela até cantaria algo como “Alguém me disse que Vinil anda novamente / de novo amor, nova paixão, todo contente”; afinal de contas, motivos não me faltavam para tal...