TIM MAIA REVIVIDO...
POR CERCA DE DUAS HORAS E MEIA!
“Mais grave!
Mais agudo!
Mais eco!
Mais retorno!
Mais tudo!”
(Tim Maia, citado por Nelson Motta em Noites Tropicais, seu livro de solos, improvisos e memórias musicais.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p.7)
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p.7)
O poster do musical baseado na vida e obra de Tim Maia |
Existem noites que fazem bastante diferença nas memórias das
pessoas. Existem noites que são inesquecíveis. Existem noites que são
simplesmente antológicas. A noite que separa os dias 09 do dia 10 de junho de
2012 se enquadra justamente no terceiro caso que eu acabei de citar aqui. Isto se
deve graças a um dos grandes reis magos das trilhas sonoras noturnas de muitos brasileiros, Sebastião Rodrigues Maia, mais conhecido entre nós como Tim
Maia.
Não, eu não estive em nenhuma sessão de mesa branca, em
nenhum terreiro de macumba, em nenhum templo espiritista ou em nenhum
estabelecimento onde se crê na seita Universo
em Desencanto! Eu estive em um local bem distinto para quem curte o melhor
das chamadas “Noites Paulistanas”: Rua Augusta 2823, Teatro Procópio Ferreira; em
cartaz: Tim Maia Vale Tudo – O Musical.
Texto de Nelson Motta (autor de Vale Tudo
– O Som & A Fúria de Tim Maia, a biografia oficial de Tim, além de
amigo pessoal do mestre), direção de João Fonseca, direção musical de Alexandre
Elias, produção geral de Sandro Chaim e Tiago Abravanel revivendo um dos
personagens mais carismáticos e controvertidos da música brasileira em todos os
tempos.
Tiago Abravanel em sua caracterização impressionante de Tim Maia |
É chocante a fidelidade e a entrega de Abravanel ao papel
principal. Seu Tim Maia consegue ser tão verborrágico, carismático, cômico e
(levemente) dramático como o original que o Brasil inteiro conheceu. Seu desempenho
vocal chega a ser tão fiel às gravações em estúdio e ao vivo que fizeram de Tim
um mito que alguns tiveram a impressão que estávamos diante do Maia que foi
nascido e criado no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. Os clássicos escolhidos
para a interpretação do jovem autor foram os mesmos que todos nós esperávamos
em um evento como este: “Vale Tudo”, “Azul da Cor do Mar”, “Você”, “Não Vou
Ficar”, “Me Dê Motivo”, “Um Dia de Domingo”, “Imunização Racional (Que Beleza)”,
“Bom Senso”, “Chocolate”, “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)” ficaram
muitíssimo bem executadas e não nos trouxe a menor nostalgia de ouvir os discos
em casa... Um primor de interpretação dos atores e dos músicos de apoio que
conseguiram soar tão autênticos quanto o som riquíssimo da Banda Vitória Régia,
que acompanhou Tim por palcos e roubadas de todo o país.
O mesmo não
pode se dizer dos figurinos, das vozes e da caracterização do ator principal e do restante
do elenco: são de uma perfeição indiscutível! Viajamos através das décadas numa
simples troca de adereços: conseguimos ir das esquinas musicais tijucanas que
fervilhavam ao som do Rock ‘n’ Roll
aos embalos das noites regadas a Tim Maia
Disco Club ou aos dias intensos de Universo
em Desencanto em pouco menos de um minuto.
O elenco de Tim Maia Vale Tudo - O Musical
Os demais integrantes do elenco também não devem em absolutamente
nada ao talento de Abravanel. Lilian Valeska, Pedro Lima, Reiner Tenente e
Evelyn Castro possuem um desempenho impecável em cada um dos vários personagens
que interpretam neste trabalho, como Jeanette (a primeira esposa de Tim), Sr.
Altivo Maia (pai de Tim), Sr. Manoel Jacintho (guru da seita Universo em
Desencanto), Roberto Carlos (que cantou com Tim no grupo vocal Os Sputniks
antes de ser coroado Rei), Nelson Motta,
D. Maria Imaculada Maia (mãe de Tim), etc. etc. etc. O cast ainda conta com as presenças (corpos e vozes de talento em sincronia plena!) de Izabella Bicalho, Pablo Áscoli, Bernardo La Rocque, Andreh Vieri, Aline Wirley e Letícia Pedroza.
O texto, dividido em dois atos, consegue contar vários
episódios marcantes das trajetórias profissional e pessoal de Tim Maia: seus
dias de Tijuca, sua temporada nos EUA, a escalada para o sucesso, o encontro
memorável com Elis Regina, o encantamento e a desilusão com a religião, os
encontros e desencontros amorosos, as drogas e a solidão... Porém, o musical
retratou a vida de Tim com muito bom humor – inclusive nos momentos mais
difíceis de seus 55 anos de vida intensamente vividos como o uso intenso de
drogas, as dificuldades financeiras, a saúde precária no decorrer dos seus
últimos anos de vida, além das inúmeras idas e vindas com as mulheres. Além disso,
a voz de Nelson Motta – em off –
indica o início e o fim de uma história que é contada em flashback a partir do
dia 08 de Março de 1998 no Teatro Municipal de Niterói, em que Tim fez sua
derradeira aparição nos palcos.
Tim Maia abraça Nelson Motta em meados da década de 1990. Nelsinho, além de grande amigo, seria seu biógrafo anos mais tarde. |
Tim Maia Vale Tudo –
O Musical é um programa e tanto. Primeiro por se tratar de excelentíssimo
teatro musical, com vozes, canções e arranjos que fazem muito bem para a alma. Segundo
porque resgata o legado e o talento de um dos maiores ídolos da música
brasileira. Terceiro, por razões estritamente pessoais e sentimentais, porque
me trouxe “de volta” a presença de uma das vozes que mais povoaram minha
infância e adolescência na Ilha do Governador: por pouco mais de duas horas e
meia pude reviver um pouquinho do pomposo som e da doce fúria de Sebastião
Rodrigues Maia em persona. Longe das
polêmicas e para além dos aforismos que são bastante citados por aí, Tim Maia
sempre preenche nossos ouvidos e nossos corpos com bastante suingue e alegria. Sempre
após vários pedidos para que se aumentassem os ecos, os agudos, os graves e
tudo o mais! Afinal, para um mago dos sons, música sempre deve ser apreciada a
partir de todas as suas nuances. Não sou tão expert neste assunto, mas devo
confessar que neste aspecto concordo com Tim Maia em gênero, número e grau!
Veja o trailer do musical aqui: