CAUBY PEIXOTO – CAUBY INTERPRETA ROBERTO (2009)
A dupla Roberto & Erasmo é composta
por dois dos compositores mais queridos da música de todo o Brasil: desde os
anos 1960, são autores das canções mais amadas pelo público brasileiro em todos
os tempos. Nara Leão e Maria Bethânia foram as primeiras intérpretes de peso do
nicho da MPB que gravaram álbuns dedicados ao repertório gravado por Roberto
Carlos. Nara fez uma releitura personalíssima do repertório do Rei. Bethânia,
por sua vez, fez um álbum clássico, com direito a arranjos grandiloquentes de
cordas e metais.
Cauby interpreta
Roberto, lançado por Cauby Peixoto no final de 2009, transita
por estas duas tendências. Ao mesmo tempo que possui releituras nada
convencionais do repertório de El Rey, há (bastante) espaço para arranjos de
cordas, metais conduzidos por músicos competentíssimos – Hanilton Messias (piano
e flauta), Ronaldo Rayol (violão e guitarra ), Eric Budney (baixo acústico) e
Nahame Casseb (bateria) –, fazendo com que a voz de Cauby reverberasse com a
intensidade de seu talento.
A voz de Cauby Peixoto, apesar de não
estar mais viçosa e com o mesmo brilho dos anos em que esteve no auge de sua
carreira musical, ainda soava muito bem aos 78 anos de idade – ano em que gravou
e lançou este disco. Senhor pleno de seu ofício, valorizou os tons graves em
cada interpretação das canções de Roberto e Erasmo (de apelo extremamente
popular) com enorme sutileza e elegância. “Proposta”, lançada por Roberto Carlos
em 1973, abre o disco e atesta o talento e a vasta experiência de Cauby na arte
da interpretação musical.
“De Tanto Amor” (1971) recebeu uma
releitura bastante “econômica”: sem arranjos de cordas ou metais e sem os
vibratos e dós de peito tão característicos do intérprete de “Conceição”. A emoção
da dor de versos como “Eu nada vou dizer, perdoa se eu chorar” está,
justamente, no fato de ser entoada de maneira sincera e contida e Cauby o faz
com uma precisão quase cirúrgica. É uma das melhores faixas de Cauby interpreta Roberto. Outra faixa na
qual o talento de Cauby Peixoto se destaca foi para a releitura de “Olha” (1975),
na qual o cantor é acompanhado apenas pelo piano de Keco Brandão. Sugestão do
próprio Roberto Carlos para ser gravada por Cauby neste projeto, é outro momento
de brilhantismo deste CD.
A terceira faixa do CD, “A Volta”, foi composta
por Roberto e Erasmo para o repertório da dupla Os Vips em 1966 e gravada pelo
Rei em seu disco de 2005, recebeu um arranjo sóbrio, bem ao estilo
bossanovístico, algo não muito comum para Cauby. A quarta faixa do disco é “Sentado
à Beira do Caminho”, gravada originalmente por Erasmo Carlos no final da década
de 1960 e regravada pelo Tremendão ao lado de El Rey para o álbum Erasmo Carlos
Convida... (1980). Levemente dramática e com arranjo de cordas,
é a única canção não incluída nas tracklists
de álbuns de Roberto. Certamente, uma das escolhas menos óbvias do repertório
gravado por Cauby neste disco.
As demais canções escolhidas para Cauby interpreta Roberto são clássicos absolutos na voz de Roberto Carlos.
A sexy e lasciva “Os Seus Botões” (1976) recebeu um belo arranjo de sax tenor
de Ubaldo Versolato; “Música Suave” (1978), gravada originalmente com uma big band, ganhou contornos jazzísticos,
típicos de uma gafieira elegante embalados pela interpretação sutil de Cauby; “Desabafo”
(1979) se tornou em um tango argentino elegantíssimo, com um arranjo de cordas
contundente de Cintia Zanco; “As Flores do Jardim da Nossa Casa” (1969), “À
Distância” (1972) e “Não Se Esqueça de Mim” (1977), como não poderia ser
diferente, ganharam releituras românticas, com violinos, cellos e violas para
acentuar o trabalho competente da banda e da voz belíssima de Cauby Peixoto.
O encerramento de Cauby
interpreta Roberto se dá com uma das canções mais emblemáticas
do repertório de Roberto Carlos: “O Show Já Terminou” (1973) poderia ser uma
marca tão registrada de Cauby (“O show já terminou / vamos voltar à realidade /
Não precisamos mais / usar aquela maquiagem”) quanto “Bastidores” – composta por
Chico para a voz de sua irmã, Cristina Buarque – sempre o foi. A produção
sóbria de Thiago Marques Luiz faz justiça às canções da dupla mais românticas
do Brasil e ao talento de uma das vozes mais belas que o mundo já conheceu: a
de Cauby Peixoto.
Cauby interpreta Roberto merece ser ouvido e (re)descoberto por ouvintes e
estudiosos da música brasileira. É um álbum que jamais sairá dos autofalantes
daqui de casa, muito menos de minha memória afetiva. Uma pena que o show deste
trabalho nunca gerou um DVD para que um registro audiovisual atestasse a prova
de que Cauby Peixoto era um artista extraordinário...