2 de março de 2017

DISCOS DE VINIL # 22

MARINA LIMA - VIRGEM (1987)




Em 1987, o nome de Marina Lima já era mais do que consagrado no panteão da música brasileira. Sua parceria com seu irmão mais velho, o poeta e filósofo Antônio Cícero, lhe rendeu discos de sucesso e canções gravadas por nomes de peso como Gal Costa, Maria Bethânia e Zizi Possi. Além disso, Marina surgiu na virada da década de 1970 para a de 1980 e foi uma das grandes responsáveis pela inserção de elementos da Pop Music na música brasileira.



Virgem é o oitavo álbum de Marina e contou com a produção do saxofonista Leo Gandelman. A artista ficou a cargo da direção artística e Cícero foi responsável pela assessoria conceitual do trabalho. Os arranjos foram distribuídos entre a cantora, Nico Rezende e os músicos da banda que gravou o disco – William Magalhães, Sérgio dela Mônica, Torcuato Mariano, Renato Rocketh, Sidinho, Paulinho Guitarra e Carlos Maia.




A faixa que abre o disco é a balada de cunho filosófico "Pseudo-Blues", parceria de Nico Rezende e Jorge Salomão. Outra canção de destaque do repertório deste disco é "Doce Espera", assinada apenas por Marina. Originalmente gravada por Maria Bethânia em Dezembros (1986), Marina a retomou com direito a uma longa vinheta de introdução capitaneada por Leo Gandelman. Já a releitura lânguida para "Preciso Dizer Que Te Amo", parceria de Dé Palmeira, Bebel Gilberto e Cazuza, ainda toca nas rádios brasileiras com frequência. Por fim, a regravação de "Hearts", de Jesse Barish (um dos ex-integrantes do Jefferson Airplane) é bastante arrojada e entoada com a energia marcante da autora de "Fullgás".



Marina assinou sozinha mais duas faixas do álbum: "Confessional" é uma ode amorosa a um amor impossível e é uma das canções mais apaixonantes de seu repertório - a versão de Karina Zeviani, gravada no belo disco-tributo Literalmente Loucas - As Canções de Marina Lima (Gravadora Joia Moderna) merece uma audição por ser tão lírica quanto a gravação de original de 1987. Já "Primeiro de Abril (Eu Negar?)", regravada pela própria autora em No Osso (2015), mostra as nuances da voz e do violão de uma das artistas mais inquietas que o Brasil já nos ofertou em matéria de música.




Dentre as demais parcerias de Marina Lima e Antônio Cícero que se encontram em Virgem há o rock "Zerando", faixa dois do disco. O riff marcante da canção é uma das marcas registradas do repertório de Marina e é um dos lados B mais interessantes deste repertório. Já "Prestes a Voar" foi uma outra parceria dos irmãos Correia Lima que foi regravada no especial Acústico MTV, em 2003, com uma versão mais tocante do que a original, de 1987.




O grande sucesso de Virgem foi "Uma Noite e 1/2", de Renato Rocketh, que tocou incessantemente durante o verão da temporada 1987/1988. A letra sexy versava sobre a beleza dos corpos nas praias cariocas, falava em mulheres top less e em "bundinhas de fora" e rendeu um enorme sucesso à Marina. A faixa-título, uma das mais belas parcerias de Marina Lima e Antônio Cícero, recebeu um belo videoclipe do Fantástico e é uma das canções mais frequentes em shows e turnês.



Os ouvintes que desconhecem a chama que emana do cancioneiro de Marina encontrará em Virgem uma excelente porta de entrada para um trabalho musicalmente sofisticado e poeticamente incomum - Cícero contou em uma entrevista de que o verso "os inocentes do Leblon / eles não sabem de você" é uma referência a um poema de Drummond. Além disto, eles poderão constatar que mulheres podem se revelar em verdadeiras esfinges ou fortalezas escondidas nas armadilhas do olhar doce, meigo e levemente desafiador que lhes fitam na capa do disco...