MARINA LIMA - VIRGEM (1987)
Em
1987, o nome de Marina Lima já era mais do que consagrado no panteão da música
brasileira. Sua parceria com seu irmão mais velho, o poeta e filósofo Antônio
Cícero, lhe rendeu discos de sucesso e canções gravadas por nomes de peso como
Gal Costa, Maria Bethânia e Zizi Possi. Além disso, Marina surgiu na virada da
década de 1970 para a de 1980 e foi uma das grandes responsáveis pela inserção
de elementos da Pop Music na música brasileira.
Virgem
é o oitavo álbum de Marina e contou com a produção do saxofonista Leo
Gandelman. A artista ficou a cargo da direção artística e Cícero foi
responsável pela assessoria conceitual do trabalho. Os arranjos foram
distribuídos entre a cantora, Nico Rezende e os músicos da banda que gravou o
disco – William Magalhães, Sérgio dela Mônica, Torcuato Mariano, Renato
Rocketh, Sidinho, Paulinho Guitarra e Carlos Maia.
A
faixa que abre o disco é a balada de cunho filosófico "Pseudo-Blues",
parceria de Nico Rezende e Jorge Salomão. Outra canção de destaque do
repertório deste disco é "Doce Espera", assinada apenas por Marina.
Originalmente gravada por Maria Bethânia em Dezembros
(1986), Marina a retomou com direito a uma longa vinheta de introdução
capitaneada por Leo Gandelman. Já a releitura lânguida para "Preciso Dizer
Que Te Amo", parceria de Dé Palmeira, Bebel Gilberto e Cazuza, ainda toca
nas rádios brasileiras com frequência. Por fim, a regravação de
"Hearts", de Jesse Barish (um dos ex-integrantes do Jefferson
Airplane) é bastante arrojada e entoada com a energia marcante da autora de
"Fullgás".
Marina
assinou sozinha mais duas faixas do álbum: "Confessional" é uma ode
amorosa a um amor impossível e é uma das canções mais apaixonantes de seu
repertório - a versão de Karina Zeviani, gravada no belo disco-tributo Literalmente
Loucas - As Canções de Marina Lima (Gravadora Joia
Moderna) merece uma audição por ser tão lírica quanto a gravação de original de
1987. Já "Primeiro de Abril (Eu Negar?)", regravada pela própria
autora em No Osso (2015),
mostra as nuances da voz e do violão de uma das artistas mais inquietas que o
Brasil já nos ofertou em matéria de música.
Dentre
as demais parcerias de Marina Lima e Antônio Cícero que se encontram em Virgem
há o rock "Zerando", faixa dois do disco. O riff marcante da canção é uma das marcas registradas do repertório
de Marina e é um dos lados B mais interessantes deste repertório. Já
"Prestes a Voar" foi uma outra parceria dos irmãos Correia Lima que
foi regravada no especial Acústico MTV, em 2003, com uma
versão mais tocante do que a original, de 1987.
O
grande sucesso de Virgem
foi "Uma Noite e 1/2", de Renato Rocketh, que tocou incessantemente
durante o verão da temporada 1987/1988. A letra sexy versava sobre a beleza dos
corpos nas praias cariocas, falava em mulheres top less e em "bundinhas de fora" e rendeu um enorme
sucesso à Marina. A faixa-título, uma das mais belas parcerias de Marina Lima e
Antônio Cícero, recebeu um belo videoclipe do Fantástico e é uma das canções
mais frequentes em shows e turnês.
Os
ouvintes que desconhecem a chama que emana do cancioneiro de Marina encontrará
em Virgem uma excelente porta de entrada para
um trabalho musicalmente sofisticado e poeticamente incomum - Cícero contou em
uma entrevista de que o verso "os inocentes do Leblon / eles não sabem de
você" é uma referência a um poema de Drummond. Além disto, eles poderão
constatar que mulheres podem se revelar em verdadeiras esfinges ou fortalezas
escondidas nas armadilhas do olhar doce, meigo e levemente desafiador que lhes
fitam na capa do disco...