CARLY SIMON – SPY (1979)
No final da década de 1970, Carly
Simon já era uma artista consagrada tanto como cantora, mas também como
compositora. Em um espaço de quase dez anos de carreira, lançou sete álbuns
solo, teve discos no primeiro lugar das paradas de sucesso (o primeiro deles
foi o belo álbum No Secrets, de 1972), teve convidados especiais de
peso em seus projetos – Paul McCartney, Ringo Starr, Rita Coolidge, Linda Ronstadt e Carole
King são alguns deles –, gravou uma canção-tema de filme de James Bond – 007: The Spy who Loved Me – e firmou uma
parceria musical e afetiva de peso com James Taylor, com quem teve dois filhos.
O sucesso de Carly Simon agradava
muitos e incomodava alguns. Dentre os incomodados com a popularidade dos discos
da filha de Richard Simon estava James Taylor, que desde meados da década de
1970 amargava vendas medianas de seus trabalhos. O casamento deles já não
andava muito bem naquele tempo – o vício em narcóticos de James, somado às
crises de ciúmes de ambas as partes e a saúde frágil de Ben Taylor (segundo
filho do casal) foram alguns dos fatores que levaram os dois a pedir o divórcio
no início dos anos 1980. Em meio à crise, Carly produzia intensamente: Spy,
seu nono trabalho de estúdio, veio a público em junho de 1979 e foi o último trabalho da estrela a ser lançado
pelo selo Elektra, da Warner Bros. Records.
O título do disco surgiu de uma frase
atribuída à escritora Anaïs Nin: “I am an
international spy in the house of love” [Sou uma espiã internacional na casa
do amor]. As nove canções do disco, gravadas entre dezembro de 1978 e abril de
1979, versam sobre o sentimento amoroso em algumas de suas variantes –
vingança, desejo, abandono tristeza, saudade, tesão... – e foram produzidas
pelo renomado produtor Arif Mardin, que já tinha trabalhado com Carly Simon em Boys in the Trees (1978).
“ (…) You’ve taken your half out of middle
Time and time again
But now I’m damned if I’ll give you an inch
Till I get even (…)”
“Just Like You Do” é uma bela love song com um alvo provável: James Taylor!
O verso “But let’s try to return / To
that brave inocence we once knew” é um petardo certeiro para o homem com
quem ela estava casada há sete anos e é pai de seus dois filhos. A canção
chegou a fazer sucesso no Brasil na época – chegou a fazer parte da trilha
sonora internacional da novela global Água
Viva, de Gilberto Braga – e ainda toca nas rádios brasileiras
especializadas em flashback até hoje.
Já “We’re So Close”, segundo hit single
do disco, ganhou um belo videoclipe com Carly sentada ao piano cantando os
versos tristíssimos da canção:
“(…) Sometimes I go out to the car,
Turn on the headlights
Intending to leave –
Sometimes I need to hear the words,
My imagination’s not as strong as you’d believe (…)”
Outra faixa de Spy que
merece destaque é “Never Been Gone”, uma parceria de Carly Simon com o letrista
Jacob Brackman. A canção foi regravada duas vezes por Carly: a primeira no
álbum ao vivo Greatest Hits Live! (1988) e a segunda em Never
Been Gone (2009), trabalho no
qual a autora de “You’re So Vain” revisitou as principais canções de seu
catálogo musical. Os belos versos de Brackman, entoados por Carly e um coral são alguns
dos poucos sinais de otimismo presentes no disco:
“ (…) I’m bound for the island
The tide is with me
I think I can make it by dawn
It’s night on the ocean
I’m going home
And it feels like I’ve never
I’ve never been gone (…)”
“Coming to Get You” e “Pure Sin”
(Carly Simon & Frank Carillo) são faixas que tratam abertamente de ciúme e
traição. A figura feminina, em nenhum momento, se encontra abaixo da presença
masculina e fará de tudo não apenas para manter o seu amor, como também para
dar o troco para as humilhações sofridas:
“Last night you called me from Arkansas
So that’s where you are!
I’m coming to get you, let there be no mistaking
So they think they can take you can away from your Ma –
I’m coming to get you, let there be no mistaking”
“ (…) Do you know what I’ll do, do you know what I’ll
do
When I go out in the street?
Pure sin, pure sin
The kind you won’t mind
The kind there could be trouble in”
“Love You By Heart” e a faixa-título
são duas belas declarações de amor. A primeira, uma parceria de Carly Simon,
Jacob Brackman e Libby Titus, trata do eterno desejo de amar quem mais
desejamos (as más línguas dizem que é um pedido desesperado dela para que o marido largasse a heroína de vez). A segunda, por sua vez, é uma parceria de Carly com James Taylor e o
produtor Arif Mardin e aborda o mistério e o tesão presente em toda a paixão:
“I’m right
here beside you
There’s nobody
else to set you straight
To shake you
And let you
know
That it’s
still not too late
I want to show
you my heart
I want to know
you by heart
And love you
by heart”
“Got my eye on
you
Nothing’s
slipping by
I come here
every night
I’m like a
firefly
Moving through
the strobe lights
Like a spy”
Spy
fecha com um épico de quase oito minutos: “Memorial Day” retrata um crime
passional com uma letra semelhante a um roteiro cinematográfico de um Filme B:
“So strong was
the message
And the man
who planned her life
commanded all
that followed:
Well they
bellowed and they hollered
And they threw
each other down
Down in this
valley
This cruel and
lovely valley
Oh it should
have been an alley
In some low
part of town”
“Memorial Day” é entrecortada por
solos de alguns dos músicos excelentes que acompanharam Carly Simon neste disco.
Dentre estes profissionais, destacam-se os nomes de David Sanborn e Michael
Brecker(sax), Mike Manieri, Warren Bernhardt, Don Grolnick e Richard Tee
(vibrafone e teclados), Steve Gadd (bateria), Will Lee (baixo), David Spinozza,
John Hall e Joe Caro (guitarras), Libby Titus, Lucy Simon e James Taylor
(vocais de apoio). Arif Mardin produziu um disco atemporal, pois ele não possui
os cacoetes musicais clássicos da década de 1970 e se baseia em um tema que
nunca estará fora de moda.
Arif Mardin, o produtor do disco |
Spy é um dos álbuns essenciais da discografia de
Carly Simon. Ouvir este disco décadas depois de seu lançamento é garantir que a
música Pop já nos legou pepitas musicais
de grande valor. Vale a pena ouvir este clássico e nos certificar de como
classe, elegância e bom gosto podem andar juntos em um trabalho musical tão
elaborado.