UMA NOITE COM JUDY GARLAND
Relembrando Judy
at Carnegie Hall 60 anos depois...
“The world is a stage
The stage is a world
of entertainment!”
(Arthur Schwartz & Howard Dietz)
“Weep no more, my lady
Sing that song again for me”
(Jean Schwartz, Sam M. Lewis and Joe
Young)
Foi em uma noite de domingo como
qualquer outra. Uma mulher de 38 anos e de 1 metro e 51 centímetros subiu ao
palco do Carnegie Hall, uma das casas de espetáculo mais prestigiadas do mundo,
para mais uma apresentação ao vivo de seu show. No setlist havia canções de amor, de alegria, de tristeza, de
desilusão, desespero e até alguns versos que nos trouxessem um toque de leve
esperança. O espetáculo seria um evento qualquer se a moça em questão não
atendesse pelo nome de Frances Ethel Gumm, mais conhecida entre nós com o nome
artístico de Judy Garland.
Quando Judy Garland subia em cima de um
palco ela deixava de ser uma mulher frágil e insegura de 1,51 m para se
transformar em uma verdadeira gigante. Ao interpretar os clássicos de Harold
Arlen, Johnny Mercer, Richard Rodgers, Lorenz Hart, Howard Dietz, Dorothy
Fields, Jimmy McHugh, dos irmãos George e Ira Gershwin e tantos outros
baluartes da canção norte-americana, ela parecia ser bem mais velha do que os
38 anos que ela tinha naquela noite. Suas apresentações ao vivo eram repletas
de intensidade, de muita energia, sarcasmo e bom humor e quem estivesse em sua
plateia garantia que um show de Judy era sempre um evento inesquecível. Ela
cantava cada nota dando o máximo de sentimento que sua voz pudesse oferecer
para o ouvinte, a ponto de que poderia desfalecer no minuto seguinte. Seus
admiradores a amavam por causa disso, outros nem tanto, pois achavam tudo
aquilo um tanto over.
Judy precisou de um pouco mais de duas horas para escrever seu
nome na história do entretenimento com a apresentação que deu origem ao
álbum Judy at Carnegie Hall, lançado como LP duplo em julho de 1961. O disco fez um enorme
sucesso na época e foi o primeiro trabalho gravado por uma mulher a ganhar o
Grammy de Melhor Álbum do Ano e é o
registro oficial do que batizaram de “a maior noite na história do show
business”. Ao ouvi-lo seis décadas depois de seu surgimento, ainda podemos
sentir todo o magnetismo de uma das maiores artistas que o mundo já assistiu.
Apesar do êxito comercial de seu álbum ao vivo, Judy Garland já
tinha garantido seu nome na galeria das maiores lendas de Hollywood ao dar vida
à jovem Dorothy Gale em O Mágico de Oz (1939). Ao ser
alçada para o estrelato, seguiram-se os percalços: a celebridade, o vício em
álcool e drogas, os relacionamentos fracassados, seus três filhos e vários
escândalos. Tal qual outras lendas de seu tempo como Elizabeth Taylor, Marilyn
Monroe ou Carmen Miranda, Judy foi tragada pelo star system que
fez dela um dos nomes mais importantes do entretenimento do século XX.
Infelizmente, o sucesso foi o combustível da maior parte de sua tragédia.
Porém, sua arte sempre falou mais alto.
Considerada um dos maiores ícones da comunidade LGBTQIA+, Judy
Garland influenciou uma quantidade significativa de astros e estrelas de outras
gerações. Rufus Wainwright, cantor canadense e ícone gay, é tão aficcionado pela
artista que chegou a gravar um álbum ao vivo refazendo o roteiro de Judy at Carnegie
Hall. Liza Minnelli, sua filha mais velha,
seguiu os passos da mãe e se tornou uma cantora e atriz respeitável. Barbra
Streisand, que já possui seis décadas de serviços prestados ao entretenimento,
sempre foi fã da intérprete de “Over the Rainbow”. Por aqui no Brasil, temos em
Maria Bethânia uma devota confessa da arte de Ms. Garland. É mais do que
notório que Judy deixou um legado importante para seus fãs e sucessores quando
morreu, em julho de 1969. Artistas de sua estatura são cada vez mais raras nos
tempos atuais. Por isso, jamais devemos nos esquecer dela e de tudo de bom que
ela já fez.
Por isso, 23 de abril de 1961 deve ser uma data que sempre deve ser lembrada como uma das noites mais importantes da história do entretenimento. Judy at Carnegie Hall traz uma artista com toda a sua vivacidade em cena.. Uma cantora e atriz que desafia as leis da física, da lógica e da emoção ao arriscar as tonalidades mais agudas para transmitir o sentimento de cada verso que ela cantava em cima de um palco. Uma aula de interpretação musical que não deve ser esquecida com o passar das décadas, apesar da vontade de relegar a arte à ignorância e ao ostracismo...