23 de abril de 2021

TROVA # 163

UMA NOITE COM JUDY GARLAND

Relembrando Judy at Carnegie Hall 60 anos depois...

 


The world is a stage

The stage is a world 

of entertainment!

(Arthur Schwartz & Howard Dietz)

 

Weep no more, my lady

Sing that song again for me

(Jean Schwartz, Sam M. Lewis and Joe Young)



 

 

Foi em uma noite de domingo como qualquer outra. Uma mulher de 38 anos e de 1 metro e 51 centímetros subiu ao palco do Carnegie Hall, uma das casas de espetáculo mais prestigiadas do mundo, para mais uma apresentação ao vivo de seu show. No setlist havia canções de amor, de alegria, de tristeza, de desilusão, desespero e até alguns versos que nos trouxessem um toque de leve esperança. O espetáculo seria um evento qualquer se a moça em questão não atendesse pelo nome de Frances Ethel Gumm, mais conhecida entre nós com o nome artístico de Judy Garland.

 



 


Quando Judy Garland subia em cima de um palco ela deixava de ser uma mulher frágil e insegura de 1,51 m para se transformar em uma verdadeira gigante. Ao interpretar os clássicos de Harold Arlen, Johnny Mercer, Richard Rodgers, Lorenz Hart, Howard Dietz, Dorothy Fields, Jimmy McHugh, dos irmãos George e Ira Gershwin e tantos outros baluartes da canção norte-americana, ela parecia ser bem mais velha do que os 38 anos que ela tinha naquela noite. Suas apresentações ao vivo eram repletas de intensidade, de muita energia, sarcasmo e bom humor e quem estivesse em sua plateia garantia que um show de Judy era sempre um evento inesquecível. Ela cantava cada nota dando o máximo de sentimento que sua voz pudesse oferecer para o ouvinte, a ponto de que poderia desfalecer no minuto seguinte. Seus admiradores a amavam por causa disso, outros nem tanto, pois achavam tudo aquilo um tanto over.

 





Judy precisou de um pouco mais de duas horas para escrever seu nome na história do entretenimento com a apresentação que deu origem ao álbum Judy at Carnegie Hall, lançado como LP duplo em julho de 1961. O disco fez um enorme sucesso na época e foi o primeiro trabalho gravado por uma mulher a ganhar o Grammy de Melhor Álbum do Ano e é o registro oficial do que batizaram de “a maior noite na história do show business”. Ao ouvi-lo seis décadas depois de seu surgimento, ainda podemos sentir todo o magnetismo de uma das maiores artistas que o mundo já assistiu.


 

Apesar do êxito comercial de seu álbum ao vivo, Judy Garland já tinha garantido seu nome na galeria das maiores lendas de Hollywood ao dar vida à jovem Dorothy Gale em O Mágico de Oz (1939). Ao ser alçada para o estrelato, seguiram-se os percalços: a celebridade, o vício em álcool e drogas, os relacionamentos fracassados, seus três filhos e vários escândalos. Tal qual outras lendas de seu tempo como Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe ou Carmen Miranda, Judy foi tragada pelo star system que fez dela um dos nomes mais importantes do entretenimento do século XX. Infelizmente, o sucesso foi o combustível da maior parte de sua tragédia. Porém, sua arte sempre falou mais alto.

 


Considerada um dos maiores ícones da comunidade LGBTQIA+, Judy Garland influenciou uma quantidade significativa de astros e estrelas de outras gerações. Rufus Wainwright, cantor canadense e ícone gay, é tão aficcionado pela artista que chegou a gravar um álbum ao vivo refazendo o roteiro de Judy at Carnegie Hall. Liza Minnelli, sua filha mais velha, seguiu os passos da mãe e se tornou uma cantora e atriz respeitável. Barbra Streisand, que já possui seis décadas de serviços prestados ao entretenimento, sempre foi fã da intérprete de “Over the Rainbow”. Por aqui no Brasil, temos em Maria Bethânia uma devota confessa da arte de Ms. Garland. É mais do que notório que Judy deixou um legado importante para seus fãs e sucessores quando morreu, em julho de 1969. Artistas de sua estatura são cada vez mais raras nos tempos atuais. Por isso, jamais devemos nos esquecer dela e de tudo de bom que ela já fez.


 

Por isso, 23 de abril de 1961 deve ser uma data que sempre deve ser lembrada como uma das noites mais importantes da história do entretenimento. Judy at Carnegie Hall  traz uma artista com toda a sua vivacidade em cena.. Uma cantora e atriz que desafia as leis da física, da lógica e da emoção ao arriscar as tonalidades mais agudas para transmitir o sentimento de cada verso que ela cantava em cima de um palco. Uma aula de interpretação musical que não deve ser esquecida com o passar das décadas, apesar da vontade de relegar a arte à ignorância e ao ostracismo...




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