OS
RATOS DA CAPITAL FEDERAL
“Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas
perdidas
Os meus sonhos foram todos
vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar
o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do ‘Grand
Monde’
Meus heróis morreram de
overdose
Meus inimigos estão no poder”
(Cazuza, 1988)
“Rato de rua
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago
Atrás do seu quinhão”
(Chico Buarque & Edu Lobo, 2001)
Se Cazuza estivesse vivo em 2017, ele estaria em estado de
choque tão grande, mas tão grande com as notícias de política, que ele teria
vergonha de ter escrito canções tão emblemáticas como “Ideologia”, “Brasil”, “Burguesia”
ou “O Tempo Não Para”. Pelo simples fato de que, três décadas após o fim da
Ditadura Militar, pouco se aprendeu a respeito desta elite que nos governa.
A eleição de petistas para o Governo Federal – apesar do
fato do PT sempre ter dado as mãos para o “centrão” e o empresariado – jamais
esteve nos planos das oligarquias que sugam as riquezas e as forças de trabalho
deste país. A realização de políticas públicas voltadas para o social sempre
foi motivo de ojeriza imensa por parte das famílias bem-nascidas e alimentadas
do bom e do melhor, afinal, o desmantelamento de serviços como a educação
pública, lembrando o sábio e saudoso Darcy Ribeiro, sempre foi um antigo
projeto.
Nos últimos meses, a Câmara dos Deputados se tornou em um
verdadeiro balcão de negócios de um Presidente golpista, desesperado em manter
o seu cargo para poder desfrutar dos benefícios da cadeira que tomou na base do
tapetão. 200 milhões de brasileiros assistiram bilhões de reais serem liberados
através de emendas parlamentares para que Michel Temer não fosse julgado pelo
STF por crime de corrupção passiva. Enquanto 300 e poucos deputados comemoravam
as maracutaias praticadas por eles em plena luz do dia, os servidores do Rio de
Janeiro padeciam por falta de salário...
Não nos enganemos: o Governo Temer é um vassalo do
empresariado, do GAFE e do capital estrangeiro. A aprovação da reforma
trabalhista é um dos maiores presentes que a elite tanto ansiava, afinal, as
dívidas dos cachorros grandes com a Justiça Trabalhista (para citar apenas um
exemplo) eram estratosféricas. Além disto, as altas cúpulas do Judiciário
brasileiro (sem citar nomes, para não dar processo) sempre estão prontas para
livrar os “compadres” ricaços da cadeia através de uma simples canetada.
Justiça é luxo de quem está de posse do vil metal e não é pobre...
O mantra dos golpistas
neste momento não é “reformar” o Estado Brasileiro. Consiste em colocar o
Brasil a venda mesmo. Sem pensar duas vezes, sem regatear, sem sequer consultar
a sociedade. Em 23 de agosto de 2017 tornaram público de que cerca de 57
privatizações seriam realizadas para poder diminuir o déficit nas contas
públicas. Se a venda de serviços públicos para a iniciativa privada fosse
garantia de qualidade, teríamos excelentes serviços de telefonia e desastres ecológicos
como o ocorrido em Mariana jamais teria acontecido.
No entanto, o que
mais me causou espécie foi a desapropriação da Reserva Nacional do Cobre, uma
área na região da Amazônia correspondente ao território da Dinamarca, para
exploração mineral. Se o Governo Temer deseja uma nova corrida ao ouro como nos
velhos tempos de Serra Pelada, conseguiu. O único problema é que a área está
repleta de vegetação nativa e de indígenas. Um mero detalhe a ser resolvido
pela turminha do agronegócio.
Diante dos acontecimentos mais recentes, pouco mudou nos
últimos 30 anos: Brasília está cheia de ratos. Se ratoeiras ou venenos para
roedores fossem dispostas pelo Congresso, pelo Senado ou pela Esplanada dos
Ministérios ou no Palácio do Jaburu, não teríamos nenhum para contar história.
Enquanto isso, a bandeira do Brasil é roída como se fosse a roupa do Rei de
Roma...