"PERDOAI-OS, PAI: ELES SÓ SABEM O QUE FAZEM"...
COM 54 MILHÕES DE VOTOS
"PERDOAI-OS, PAI: ELES SÓ SABEM O QUE FAZEM"...
para Angela Rô Rô e Dilma Rousseff, duas mulheres brasileiras injustiçadas pela lei dos homens do Brasil
"Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem
Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem
Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem
Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem
Eu quero uma cruz de pinho selvagem
Alguma bebida pra me dar coragem
Meu sangue ser água, matar minha sede
Que todos recusem carinho pra mim
Mas nunca se esqueçam, eu nunca padeço
Mas nunca se esqueçam de mim
Mas nunca se esqueçam de mim"
(Angela Rô Rô & Sérgio Bandeyra –
"Perdoai-os, Pai", faixa que abre o
álbum Escândalo!, lançado por Rô Rô
em 1981)
Até a manhã de 12 de maio de 2016, dia em que o Brasil foi duramente atingido por um golpe
democrático e saiu do Estado Democrático de Direito para o Estado de Direito Mínimo, os defensores da Direita defendiam o fato de que tudo de ruim que
acontecia neste país era culpa da Presidente Dilma e do Partido dos
Trabalhadores.
A partir da consagração do golpe de Estado, a justificativa
para o ataque dos simpatizantes é a de que os 54 milhões de votos concedidos à
Dilma legitimaram Michel Temer como o atual Presidente da República.
Diante disso, cabe esclarecer alguns fatos:
1) Os 54 milhões de votos foram para o programa de governo
defendido por Dilma Rousseff, não pelo seu então Vice-Presidente;
2) Os 54 milhões de votos foram dados para quem se expôs
publicamente diante de debates, horário eleitoral obrigatório, de adversários
políticos despreparados e desequilibrados, sob a chancela e o apoio de uma
mídia partidária, pertencente a oligarquias interesseiras, que não se isenta da
realidade dos fatos e acontecimentos;
3) Os 54 milhões de votos foram dados para quem se
comprometeu na execução de programas sociais que amenizassem a desigualdade
social que sempre assolou este país;
4) Os 54 milhões de votos foram dados à primeira mulher que
fora designada ao cargo político mais importante da nação, dona de uma
reputação moral irrepreensível, avessa a conchavos políticos típicos de
integrantes do seu partido ou de integrantes da base aliada;
5) Os 54 milhões de votos foram dados a uma chapa política
composta por uma Presidente e um Vice-Presidente que deveriam ter trabalhado
juntos pelos interesses comuns da sociedade brasileira, não para que ele
conspirasse contra à sua companheira de governo;
6) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a alguém que tem
em um político arrogante, desonesto e asqueroso como Eduardo Cunha como homem
de confiança. Esperava-se do Vice-Presidente que realizasse a articulação
política do governo com a oposição de forma limpa e honesta;
7) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a alguém que
pertence a uma tradição política neoliberal, que exclui os pobres do chamado
"progresso da nação". Dilma foi a eleita com a promessa de que iria
fazer um governo para todos - não conseguiu, por ter cometido erros graves e
por ter sido vítima de um golpe de estado -, algo que nunca foi prioridade para
o PMDB;
8) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a um estadista que
desrespeita a Educação, a Cultura, as minorias (mulheres, negros, LGBTs...), as
empresas estatais e a segurança pública descaradamente ao nomear o seu
Ministério;
9) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a um estadista que
concede foro privilegiado a SETE investigado pela Operação Lava-Jato. Todos os
petistas que foram réus em processos de corrupção foram julgados e
implacavelmente condenados, ao contrário dos aliados tucanos, do DEM e de
outros partidos da antiga oposição;
10) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a quem foi
declarado "ficha-suja" e inelegível por oito anos, segundo o TSE. Tal
qual foi muitíssimo bem dito pelas redes sociais, se quiséssemos um bandido na
cadeira presidencial, estes votos seriam dados ao Sr. Aécio Neves, não para a
Sra. Dilma Rousseff.
Vinícius Rangel Bertho da Silva
Professor, pesquisador e autor do livro "O Doce & O Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música brasileira" (Ed. Terceira Margem, 2015).