1 de novembro de 2013

TROVA # 24

UM E-MAIL PARA O POETINHA



Vinícius de Moraes (1913-1980)

 
Vinícius de Moraes: Meu Caro Poetinha,

 
Perdoe-me esta correspondência atrasada e improvisada, mas não pude deixar de te escrever nesta ocasião tão especial. Se você estivesse vivo, teríamos comemorado seu 100.º Aniversário no último dia 19 de Outubro com direito a muita música, poesia e whisky!


Sinceramente, Vinícius, o mês de Outubro deveria ser considerado como "O Mês do Poeta". Não apenas por tudo que você escreveu, mas principalmente por tudo que você viveu. Carlos Drummond de Andrade, seu colega de gauche profissão, disse, certa vez, que você não viveu como um homem, e sim como um verdadeiro Poeta. Frank Sinatra, em outra ocasião, disse que viver a vida do jeito que ele viveu já bastava. O mesmo podemos dizer de ti, pois os 67 anos que você viveu foram de tremenda intensidade.
 
 

 
Quando eu, este reles blogueiro que te escreve, era criança, sempre tive milhares de conflitos em torno do nome que recebemos. Não gostava de meu nome, achava-o feio. Talvez por ser incomum para meninos da minha época, ou por ser difícil para uma criança o pronunciar, provavelmente porque não conhecia ninguém que tivesse um nome tão diferente. E te confesso que a primeira aula sobre Diversidade que a vida me deu foi em relação ao nome Vinícius. Só na idade adulta entendi que nós, incautos de nome Vinícius somos privilegiados por sermos plurais. Afinal, você mesmo afirmou que se não foste tantos em um só, seu nome seria Vinício de Moral.

Vinícius & Baden Powell


Poeta camarada, sua obra continua sendo reverenciada como nunca nos dias de hoje. A Companhia das Letras reeditou seus livros com muito apuro e elegância. Seus discos foram remasterizados e reeditados em uma bela caixa com encartes riquíssimos em informação. Miguel Faria Jr. fez um documentário belíssimo sobre ti. José Castello escreveu uma biografia essencial sobre sua vida. Suas filhas Georgiana e Maria ficaram responsáveis pela divulgação de seu legado através da VM Cultural. O respeito pela sua poesia cresce cada vez mais. Por outro lado, o Brasil continua numa caretice sem tamanho, você acredita? Ainda existem pessoas que ficam escandalizadas com o fato de você ter se casado nove vezes. Alguns colegas seus de Música Popular acham que biografias não devem ser escritas se não houver "prévia autorização". Enfim, você precisaria de uns dois cachorros engarrafados para ter que suportar tanta cafonice. Ou, quem sabe, passar muitas tardes em Itapuã enquanto esta onda bizarra passa...


Vinícius & Tom Jobim


Sua família tem agido como guardiã sensata de seu trabalho. Graças a eles, novas gerações tem tido a oportunidade de ler e ouvir tudo o que você produziu. Apesar de seus livros constarem na lista dos vestibulares mais importantes e concorridos do país, não encontro pessoas no mundo acadêmico que estudam (ou queiram estudar) a sua obra. Muitos integrantes da dita "Academia" demonstram preconceito (velado) ao fato de você ter deixado de escrever poemas que figuravam nos livros para a elite letrada e ter se "debandado" para a turma do Samba e da Bossa Nova. É uma lástima que não possamos debater seu ofício até a exaustão em aulas, seminários, congressos, mesas de bar.

Vinícius & Toquinho


Poeta da pesada, não poderia existir um dia da semana mais perfeito para o seu 1.º Centenário do que um sábado. Isto quer dizer que aos sábados podemos celebrar casamentos e divórcios, renovar esperanças, brindar o "bom funcionamento" dos maridos perante suas esposas e por aí vai e, acima de tudo, propor um brinde à sua memória. Que nas noites de 19 de Outubro, os copos possam tilintar em sua homenagem, que sonetos de amor sejam lidos e escritos com ardor, que amores façam e se desfaçam para dar prosseguimento a este enorme ciclo que chamamos de vida. Que a sua Arca de Noé possa ser lida e ouvida por muitas crianças e adultos que já se apaixonaram ou ainda irão se apaixonar por sua poesia!


Saravá, Poetinha! Feliz Aniversário!
São os votos muito carinho do xará




Vinícius