1 de janeiro de 2014

TROVA # 30

PLEASE TAKE ME TO 1973!


                 
Será que isto que estou te escrevendo é atrás do pensamento? Raciocínio é que não é. Quem for capaz de parar de raciocinar – o que é terrivelmente difícil – que me acompanhe.
(Clarice Lispector, em seu livro Água Viva, de 1973. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p.30).

Eu ainda sonho com o dia em que eu poderei embarcar em uma máquina do tempo como o carro do filme De Volta Para o Futuro e fazer uma temporada pelo passado. Gostaria de voltar 40 anos no tempo presente e ir para 1973. Não porque foi um ano de glórias para a humanidade e para o Brasil – enquanto a ditadura de Médici e seus comparsas comia livre, leve e solta por aqui, o mundo vivia a crise econômica do petróleo, além de um clima de autoritarismo e repressão que pairava pelos ares. Não foi um momento de glória, mas de várias tentativas de libertação de um sistema que nos cerceava mais e mais...
            A música do planeta, por outro lado, nos trouxe momentos de pura contestação aos valores vigentes e de esperança na humanidade. No Brasil, 1973 foi um dos anos mais revolucionários de toda a história da música brasileira. Na cena internacional, obras-primas foram lançadas e um reencontro marcou a memória musical de ouvidos no mundo inteiro.
            Aí vai mais uma lista (repleta de muita afetividade) de 14 motivos musicais que te fariam sonhar com uma máquina do tempo e embarcar para 1973, este ano riquíssimo em experiências musicais:

14) Led Zeppelin – Houses of the Holy
        

Depois de lançarem quarto discos que continham apenas o nome da banda (Led Zeppelin I, II, III e IV), os rapazes do Led Zeppelin eram autoridades de primeira grandeza e decidiram lançar seu primeiro disco com material inédito. Entre janeiro e agosto de 1972, gravaram várias canções para Houses of the Holy entre estúdios badalados de gravação (Olympic Studios, em Londres, e Electric Lady Studios, em Nova York) e deixaram apenas OITO para o disco. A faixa-título, por exemplo, apesar de ter sido gravada para o quinto álbum do Zeppelin só veio a público em 1975, com o álbum duplo Physical Graffiti.
O disco abre com o clássico “The Song Remains the Same”, canção de Jimmy Page e Robert Plant na qual, Mr. Page, no auge de seu virtuosismo, gravou OITO guitarras diferentes, isso mesmo: OITO guitarras diferentes para a faixa! Outras faixas do disco que se tornaram clássicas foram “Over the Hills and Far Away”, “Dancin’ Days”, “D’yer Maker” (uma contração de “Did you make her” com a palavra “Jamaica”) e “No Quarter”.
 A minha canção preferida deste clássico é justamente a última do disco. “The Ocean” reflete bem o quanto Jimmy Page, Robert Plant, John-Paul Jones e John Bonham trabalhavam bem juntos. Tinham uma sinergia tão perfeita quando estavam em atividade em pleno palco, que a impressão que tenho é a de que eles eram um só. Um zepelim que voava alto e pairava sobre nossos ouvidos sem licença através de riffs de guitarra geniais, de uma voz lancinante, de um baixo e teclados que adornavam a massa sonora condimentada pelo baterista mais genial que já aportou por estas galáxias...


13) Maria Bethânia – Drama, 3.º Ato: Luz da Noite


         Em 1973, Maria Bethânia já não era mais conhecida como “a irmã de Caetano Veloso que cantava música de protesto”. Era uma artista reconhecida por espetáculos nos quais misturava música e poesia, sendo Rosa dos Ventos – O Show Encantado o mais bem-sucedido de toda a sua carreira até então. Drama, 3.º Ato: Luz da Noite é o registro (parcial) em disco do show que levou aos palcos durante o ano de 1973.
            Uma das primeiras canções do roteiro do show, “Baioque” (Chico Buarque), reflete bem não só o espírito do espetáculo, como também é um raio-X fidedigno do espírito do artista brasileiro em 1973: “Quando eu canto que se cuide / Quem não for meu irmão / O meu canto, punhalada / Não conhece perdão / Quando eu rio/ Quando rio, rio seco / Como é seco o sertão, meu sorriso / É uma fenda escavada no chão”. Além disso, havia também um espírito de desbunde e contracultura nos versos finais da canção de Chico quando Bethânia diz (debochadamente) a plenos pulmões que não quer “seguir definhando sol a sol” e quer partir “requebrando um rock and roll” e achar um lugar “ao sol de Ipanema, cinema e televisão” ao invés de dançar o baião que não necessariamente libertaria o corpo de todos as patrulhas que o envolviam em 1973. Apesar de Bethânia ainda não conseguir fazer as respirações nos momentos adequados, por exemplo, sua interpretação é de uma intensidade única na música brasileira – ela canta não apenas com a voz, mas com o corpo inteiro.


12) The Rolling Stones – Goats Head Soup


         Depois de abandonarem o Reino Unido por causa de problemas com o fisco inglês, os Rolling Stones se instalaram no sul da França para gravar o disco mais importante de toda a sua história, o sensacional Exile on Main St. (1972) e sair em turnê pelos EUA ao lado de Stevie Wonder durante o primeiro semestre de 1972.
            Como os Stones (leia-se o arruaceiro matusalém Keith Richards e sua esposa na época, Anita Pallenberg) não eram bem-vindos em vários países do mundo, um dos poucos países que aceitaram as pedras rolantes em seu território foi a Jamaica. A banda se reuniu no estúdio Dynamic Sound, em Kingston, para gravar boa parte de Goats Head Soup, em novembro de 1972. Ao contrário do que ocorreu no álbum anterior, as gravações não tomaram muito tempo da banda, o que possibilitou a Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Mick Taylor e Bill Wyman o fato de saírem em turnê mundial no ano seguinte.
            O hit principal de Goats Head Soup foi “Angie”, uma das baladas mais importantes de toda a carreira dos Rolling Stones. Muitos acreditaram que a canção era para Angela Bowie (esposa de David) ou para Angela Richards (filha de Keith e Anita), no entanto, Jagger e Richards desmentiram as duas teses anos depois. “Angie” alcançou o topo das paradas de sucesso em vários países do mundo, contrariando as prerrogativas dos executivos da gravadora dos Stones. Vamos relembrar um dos momentos mais interessantes deste disco, a censurada “Star Star”, que trata muitíssimo bem o clichê Sexo, Drogas & Rock ‘n’ Roll.


11) Chico Buarque – Chico canta Calabar


         Em 1973, Chico Buarque de Hollanda era o inimigo n. º 1 da ditadura brasileira. Suas canções eram censuradas sem a menor explicação. Sua peça Calabar, o elogio da traição – que conta a saga do holandês Maurício de Nassau em terras brasileiras – foi proibida de ser montada em território nacional pouco antes de estrear. O disco com as canções compostas para a peça recebeu cortes impostos pelos militares – canções sem letra, chiados inesperados no decorrer de outras, um horror... “Cálice”, sua primeira parceria com Gilberto Gil, foi censurada e impedida de ser executada em pleno festival Phono 73, evento organizado pela sua gravadora na época, a Philips.
Enfim, a maré não estava nada boa para o filho de Sérgio Buarque de Hollanda no decorrer da primeira metade dos anos 1970. Chico canta Calabar é o seu último grito de sobrevivência autoral naquele período. Depois deste disco, diante da paranoia que estava instalada em torno da figura do referido compositor, vieram os álbuns Sinal Fechado e Meus Caros Amigos, álbuns nos quais Chico Buarque teve de se impor uma espécie de autocensura para poder trabalhar.
“Tira as Mãos de Mim” é o meu momento preferido do disco Calabar. O arranjo de cordas sombrio é tão impressionante que demonstra a frieza que sentíamos no decorrer dos anos de chumbo.


10) David Bowie – Aladdin Sane

        
Depois de sacudir o planeta na pele de Ziggy Stardust, seu personagem / alter-ego mais famoso, David Bowie não tinha absolutamente mais nada para provar para o planeta. Já era um rock star de primeiríssima grandeza, lotando casas de espetáculo, com fotos em capas de revistas e fazendo bastante barulho.
Apesar de ter “executado” Ziggy no show final da turnê The Rise and Fall of Ziggy Stardust & The Spiders from Mars, em meados de 1973, Bowie ainda se ateve ao personagem por, pelo menos, mais um ano. O disco Aladdin Sane (uma brincadeira com a expressão A Lad Insane – em português, um cara maluco) foi descrito pelo próprio artista como uma incursão de Ziggy pelos Estados Unidos, país no qual David Bowie fez história entre 1972 e 1973. O álbum de covers Pin-Ups, lançado no final de 1973, auxiliou o público a fixar a imagem e o som do artista inglês nas retinas e ouvidos do grande público.
Quando Aladdin Sane foi lançado, em abril de 1973, Ziggy ainda não estava morto. Por isso, podemos dizer que este trabalho é uma continuação do trabalho anterior e que lançou David Bowie para o estrelato. Não é conceitual como The Rise and Fall of Ziggy Stardust & The Spiders from Mars, não é intimista como Hunky Dory, mas possui clássicos que fazem parte de qualquer coletânea de Bowie como “The Jean Genie”, “Time”, “Cracked Actor” e um cover delicioso de “Let’s Spend the Night Together”, dos Rolling Stones.
Item obrigatório em qualquer coleção de amantes de David Bowie, Aladdin Sane chega aos 40 anos dando muito banho em muita banda surgida nos anos 2000 ou 2010...


9) Luiz Melodia – Pérola Negra
     
   
         Luiz Carlos dos Santos era um mero negro compositor que morava no Morro do Estácio quando foi descoberto pela trupe dos tropicalistas. Waly Salomão ficou encantado com a poética daquele jovem talento e apresentou-o para Torquato Neto e Guilherme Araújo, que se tornou seu empresário. Antes de ser famoso, Luiz Melodia já tinha tido canções gravadas pelas musas baianas Gal Costa e Maria Bethânia – “Pérola Negra” foi registrada por Gal em Fa-Tal e “Estácio, Holly Estácio” foi gravada por Bethânia em Drama – Anjo Exterminado –, por isso, tinha tudo para ser uma das revelações do ano de 1973.
            Apesar do disco de estreia de Luiz Melodia ser um clássico hoje em dia, Pérola Negra não foi um fenômeno de vendas na época em que foi lançado. Perinho Albuquerque, produtor e arranjador da turma tropicalista, fez arranjos maravilhosos para “Magrelinha”, “Pra Aquietar”, “Vale Quanto Pesa” e a faixa-título. O disco em si reúne estilos dos mais diversos dentro do universo da música brasileira – samba, choro, forró, rock – e até hoje impressiona o ouvinte com a diversidade musical e a poética áspera de Melodia. Um disco que merece ser ouvido e sentido de cabo a rabo!


8) Frank Sinatra – Ol’ Blue Eyes is Back
           

            No início de 1973, havia muita gente que tinha acreditado que Francis Albert Sinatra não cantaria mais devido a um anúncio de aposentadoria feito pelo próprio. Para a alegria de muitos de nós, The Voice decidiu revogar sua aposentadoria e voltou com grande estilo ao disco com Ol’ Blue Eyes is Back em outubro deste ano, graças a um repertório inédito e uma extensiva campanha de marketing.
            O público respondeu prontamente ao retorno de Frank Sinatra: o disco que marcou o seu retorno ao disco foi topo nas paradas nos EUA e no Reino Unido e atestou que os olhos azuis estavam cantando melhor do que nunca. O sucesso mais importante do disco, “Let Me Try Again” (Paul Anka, Sammy Cahn e Michel Jourdan), é considerado como uma das interpretações mais marcantes de Sinatra em todos os tempos. Por isso, não vale a pena escrever muito sobre A Voz, o importante é deixar que ela cante mais uma vez...


7) Elis Regina – Elis


         No primeiro semestre de 1973, Elis Regina andava com o prestígio meio abalado com várias pessoas do meio artístico. Convocada (forçadamente, segundo a própria) a cantar nas Olimpíadas do Exército, em 1972, em pleno auge da ditadura militar brasileira, Elis passou a ser crucificada pela esquerda e por parte do público. A contrapartida da Pimentinha foi a realização de um álbum rascante, de repertório mais moderno e que estivesse em sintonia com os tempos sombrios que marcavam a primeira metade da década de 1970.
            O disco Elis, lançado por Elis Regina no primeiro semestre de 1973, foi outra guinada na discografia da estrela. Canções de Gilberto Gil e da frutífera parceria João Bosco – Aldir Blanc dominaram 80% do repertório do disco. “Oriente”, de Gil, abria o disco para que a Pimentinha deixasse muito claro de que o recado a ser dado por ora era de que todos nós deveríamos nos orientar diante de tanto som e fúria que empesteavam os ares do Brasil. As releituras para os sambas “Folhas Secas” (Nelson Cavaquinho & Guilherme de Brito) e “É Com Esse Que Eu Vou” (Pedro Caetano) são definitivas não apenas pela precisão da voz da Maior Cantora do Brasil, como também pelo dedilhar de piano indefectível de César Camargo Mariano.
            A interpretação mais marcante deste disco é a do belíssimo tango “Cabaré”, de João Bosco & Aldir Blanc. Os agudos de Elis lembram vagamente os agudos de Ângela Maria (sua maior influência) e narram a saga de uma crooner que canta em um inferninho decadente (“Na porta lentas luzes de neon / Na mesa flores murchas de crepom / E a luz grená filtrada entre conversas”) e que precisa se debater com “um silêncio de morte” em meio ao “drama sufocado em cada rosto / A lama de não ser o que se quis / A chama quase morta de um sol posto” e a lembrança vaga de ter sido uma bela “dama de um passado mais feliz”. Com este trabalho irretocável, Elis Regina veio para dizer para a sociedade mundial que não fazia música para alegrar a sociedade e sim para provocá-la com seu canto insubstituível.


6) Paul McCartney & Wings – Band on the Run


         Band on the Run é considerado por muitos fãs como o melhor disco lançado por um Beatle após Let It Be (1970). Concordo plenamente! Por mais que All Things Must Pass (George Harrison, 1970) e Imagine (John Lennon, 1971) sejam discos importantes, nenhum disco solo de um Fab Four conseguiu alcançar a eficiência musical que Paul McCartney, Linda McCartney e os Wings (o guitarrista e pianista Denny Laine, o baixista Henry McCullough e o baterista Denny Seiwell) conseguiram com este álbum.
            Apesar de constar entre um dos álbuns mais vendidos de 1974, o caminho para o sucesso foi árduo. Depois de comporem as faixas do disco em sua casa de campo na Escócia, Paul e Linda queriam gravar o disco longe do Reino Unido – de preferência em um local bastante exótico. Quando o casal McCartney estava com tudo pronto para partir para Lagos, na Nigéria, duas surpresas desagradáveis ocorreram: McCullogh e Seiwell abandonaram o barco, reduzindo o Wings a um trio. Quando chegaram em seu local de destino, encontraram um país assolado por miséria e corrupção de um governo militar, um estúdio em péssimas condições de trabalho. Para somar a estadia nigeriana, Paul e Linda foram roubados, o ex-Beatle sofreu um espasmo respiratório devido ao excesso de nicotina e a cereja do bolo foi um arranca-rabo homérico com o músico e ativista nigeriano Fela Kuti (que acusava os McCartney de se apropriar da cultura africana indevidamente ao supostamente incluí-la nas novas canções do Wings). Quando a trupe retornou para a Inglaterra em 23 de Setembro de 1973, com todas as bases de Band on the Run gravadas, todos devem ter sentido o alívio do dever cumprido diante de tamanha precariedade.
            As nove faixas que constam no disco original (“Band on the Run”, “Jet”, “Bluebird”, “Mrs. Vanderbilt”, “Let Me Roll It”, “Mamunia”, “No Words”, “Picasso’s Last Words” e “Nineteen Hundred and Eighty-Five”), somadas às outras duas faixas-bônus (“Helen Wheels” e “Country Dreamer”) são o atestado definitive de que Paul McCartney não estava nem um pouco a fim de se religar ao seu passado de glória e fama e queria escrever um novo capítulo musical de sua trajetória. É, sem dúvida, o seu melhor disco pós-Beatles. Por isso, merece (e muito!) ser ouvido…


5) Gal Costa – Índia*
        

Em 1973, Gal Costa deu a sua guinada mais importante em sua carreira até aquele momento. Deixou de lado a agressividade característica de sua fase tropicalista para dar espaço a uma postura mais brejeira e sexy. Com o lançamento de Índia, Gal adotou o princípio de resgatar clássicos da canção brasileira (“Desafinado” e a bela guarânia que dá nome ao disco) e fez a capa de disco mais sensual de todos os tempos.
            É lógico que os militares acharam um AB-SUR-DO uma capa com um close nas partes íntimas de Gal. Na data do lançamento, o vinil precisou sair com um invólucro preto para que fosse vendido, o que chamou ainda mais a atenção para o que Gal Costa tinha a dizer naquele momento. Canções inesquecíveis de Lupicínio Rodrigues (“Volta”) e Tom Jobim (“Desafinado”) integram o repertório do disco ao lado de criações de Caetano Veloso (“Da Maior Importância”, “Relance” – parceria de Caê com Pedro Novis), Gilberto Gil (responsável pela adaptação de “Milho Verde”, uma cantiga do folclore português), Luiz Melodia (“Presente Cotidiano”), Tuzé de Abreu (“Passarinho”), Jards Macalé e Waly Salomão (“Pontos de Luz”).
O time de músicos que contribuíram com seus talentos para Índia é invejável. Sob a direção musical de Mestre Gilberto Gil (que pilotou boa parte dos violões do disco), Roberto Silva e Chico Batera ficaram responsáveis pela bateria, percussão e efeitos, Luiz Alves pelo contrabaixo e Toninho Horta pela guitarra. As participações especiais de Roberto Menescal (em “Desafinado”), Wagner Tiso, Arthur Verocai e Chacal azeitaram a sonoridade deste clássico. Entretanto, devemos destacar a contribuição essencial de dois artistas que foram fundamentais para este trabalho: o Maestro Rogério Duprat (arauto erudito dos Tropicalistas), que recriou “Índia” com um arranjo orquestral épico e Dominguinhos, que trouxe seu indefectível acordeom para várias faixas do disco. Sem a presença destes dois, o canto de Gal não teria atingido a mesma força, pois não teria a precisão dramática do que o Tropicalismo nos ofertou de melhor.
Esqueçam as outras cantoras brasileiras que gostam de se dizer sexy e cool: Índia, lançado por Gal Costa em 1973, é uma das provas cabais de como Gracinha é a cantora brasileira mais sensual e afinada de todas as galáxias pré e pós-tropicalistas!

* Tive a honra de escrever sobre este disco fantástico para o blog Pequenos Clássicos Perdidos, do meu guru Fábio Bridges. Por isso, as informações sobre este disco antológico de Gal Costa são uma mera compilação do texto que está disponível no link a seguir: http://pequenosclassicosperdidos.wordpress.com/2013/07/25/gal-costa-india-1973/

       
    
4) Elton John – Goodbye Yellow Brick Road


         O sétimo álbum de Reginald Kenneth Dwight foi a pedra do gênesis definitiva para que Elton John (nome artístico de Reg) entrasse de vez para a história da música do planeta. Goodbye Yellow Brick Road é uma obra-prima, não só por demonstrar que Elton estava no auge da forma como músico e cantor (o mesmo pode-se dizer de seus companheiros de banda), como também pelas letras inspiradíssimas de seu parceiro, Bernie Taupin. Um detalhe interessante: Taupin escreveu as letras do disco em menos de TRÊS SEMANAS, repetindo: em menos de TRÊS SEMANAS! Boa parte das canções foi finalizada por Elton em, aproximadamente, TRÊS DIAS!
            Elton John já era famoso pelos surtos e exigências que fariam qualquer Diva ruborizar de vergonha naquela época. Quis gravar seu disco na Jamaica apenas pelo simples fato de que os Rolling Stones tinham gravado Goats Head Soup na terra de Bob Marley. Quando as dificuldades começaram a surgir em janeiro de 1973, no início das gravações do disco, Elton e a trupe se mudaram de mala e cuia para o belo Château d'Hérouville, na França, onde os álbuns Honky Château e Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player foram gravados no ano anterior. Assim que os trabalhos se iniciaram no Château, as sessões de gravação duraram apenas DUAS SEMANAS! Só Frank Sinatra teria feito mais rápido do que isso...
            Goodbye Yellow Brick Road vendeu cerca de 31 milhões de cópias no mundo inteiro. Isto se deve não apenas aos clássicos do disco (“Candle in the Wind”, “Bennie & The Jets”, “Saturday Night’s Alright for Fighting” e a faixa-título não podem faltar em nenhum show de Elton John!), mas também aos lados B que compõem o disco: “Sweet Painted Lady”, “Harmony”, “I’ve Seen That Movie Too”, “Roy Rogers”, “All the Girls Love Alice”, “Your Sister Can't Twist (But She Can Rock 'n Roll)” e “ The Ballad of Danny Bailey (1909–34)”. Não é a toa que este disco é considerado como o preferido de muitos fãs de Elton...

          
3) Raul Seixas – Krig-Ha, Bandolo!
   
     
         Quando Raul dos Santos Seixas começou a tocar incessantemente entre nós a partir de 1973, já pudemos ver de cara que o baiano fã de Elvis Presley não tinha vindo para este mundo de estrelas musicais a passeio. Raulzito veio para fazer muito, mas muito barulho! Deixou para trás uma respeitada carreira de produtor musical para dar início a uma carreira individual vitoriosa e brilhante. O título de sua estreia musical: Krig-Ha, Bandolo! (título retirado de uma história de quadrinhos) quer dizer, nada mais nada menos do que, “Cuidado, lá vem o inimigo!”. Na foto da capa do disco, vemos um cantor que contraria toda a lógica do star system da Música Brasileira de 1973 – Raul se mostra magro, esquelético, de olhos entreabertos (efeitos da cannabis?), uma tatuagem na mão e um cordão dourado no centro do peito.
         As canções que Raul reuniu em seu primeiro disco demonstram o talento inacreditável que ele tinha de misturar Rock com baião, forró, ponto de macumba e baladas que carregavam muito lirismo. Krig-Ha, Bandolo! era um disco que mostrava muito deboche da vida brasileira que se vivia em 1973 – críticas ao consumismo (“Ouro de Tolo”), à política (“Al Capone”), ao bom gosto (“Mosca na Sopa”) e que tocou fundo o coração e os ouvidos dos brasileiros. Foi um dos maiores sucessos comerciais daquele ano e levou Raul Seixas para a galeria dos compositores mais importantes da música brasileira.


2) Pink Floyd – The Dark Side of the Moon


            Nenhum disco foi tão genial na cena internacional do que a obra-prima que o Pink Floyd nos ofertou em 1973. Muito já foi escrito sobre The Dark Side of the Moon e muito ainda vai faltar para explicar tudo o que David Gilmour, Roger Waters, Richard Wright e Nick Mason fizeram em apenas 10 faixas. O fato é que este disco é um dos mais importantes de toda a história da música no mundo. É o mais importante da década de 1970, sem sombra de dúvida e, por isso, não podemos deixar de falar sobre ele aqui.
            Primeiramente é importante deixar claro que The Dark Side of the Moon é uma experiência sensorial indescritível. Batidas de coração, pessoas correndo, autofalantes de aeroporto, batidas ensurdecedoras de relógios, gritos de desespero, caixas-registradoras tilintando o som de verdinhas, um arco-íris que se faz, refaz para (enfim) se esfacelar e gestos de loucura para que tudo se exploda assim que o eclipse lunar esconda o sol e dar início a um novo ciclo. Poderíamos descrever este álbum do Pink Floyd apenas pelos sons, se quiséssemos. Letra e música comungam de um credo que uma não chega a se justapor à outra e aí está a genialidade de Gilmour, Waters, Wright e Mason.
Quando eles tocavam juntos, nesta época, era um trabalho dividido de forma equânime: 25% de brilhantismo para cada um. Quando Roger Waters quis tomar os louros da genialidade para si a partir de Wish You Were Here (1975), o Floyd deixou de ser o mesmo. Os álbuns seguintes, Animals (1977) e The Wall (1979), apesar de serem muito bons, não conseguiram dar a mesma continuidade ao feito que eles conseguiram com The Dark Side of the Moon: um disco de banda, não o produto da egolatria de um homem só (Waters, no caso).
Por isso, prefiro me apropriar de um verso recente de Gerson Conrad que diz “que deixemos viver o mito”. Cada vez ouvimos como o lado obscuro da lua pode nos dizer tanto, uma alma é salva em nome do Rock ‘n’ Roll.


1) Secos & Molhados – Secos & Molhados


         Nada, mas nada neste mundo causou tanto furor quanto este grupo em 1973! Com a impressão de que tinham surgido em outro planeta, o Secos & Molhados foi um dos acontecimentos mais revolucionários da música brasileira: dois compositores de mão cheia, um cantor magrelo que cantava e dançava como nunca se tinha visto antes, uma sonoridade que ia do rock ao folclore português, sem deixar de passar por ritmos brasileiros e com um discurso poético baseado em poemas de autores consagrados convertidos em canção, além de letras originais... Ah, e claro: uma boa pitada de contestação dos valores morais, estéticos e, consequentemente, políticos da época na qual surgiu e o nome mais insólito que uma banda brasileira poderia ter...
O Secos & Molhados tinha tudo, menos uma receita pronta para o estrondoso sucesso que fez na época, que tem feito há exatos 40 anos e que ainda fará por mais 40 bilhões de anos: um vocalista com voz de mulher, um compositor de mão cheia, o compositor One Hit Wonder mais significativo da história da música popular brasileira e um som estranho para os padrões da época eram apenas alguns dos elementos que NENHUMA gravadora de grande porte acreditaria hoje em dia!
40 anos depois, a voz de Ney Matogrosso ainda tem a capacidade de seduzir plateias de todas as idades. É praticamente impossível não ficar parado quando “O Vira” começa a tocar em qualquer aparelho de som e dançar ao som de corujas e pirilampos entre sacis e fadas. É praticamente impossível não se emocionar com “Sangue Latino” e “Rosa de Hiroshima”, canções de tom pacifista que eram um grito de liberdade em pleno clima de austeridade imposto pela ditadura militar. O disco de estreia do Secos & Molhados foi um dos poucos discos que tocou TODAS as faixas, repetindo TODAS as faixas do disco (sim, as treze faixas do disco!) nas ondas do rádio do Oiapoque ao Chuí!
Já a capa deste disco é, sem dúvida nenhuma, a capa de disco mais ousada que já foi feita neste planeta: quatro cabeças sendo servidas como pratos principais em uma mesa de jantar!  Os músicos de apoio que tocaram neste disco – Emilio Carrera, John Flavin, Willie Verdaguer, Sérgio Rosadas, Marcelo Frias – fizeram dos teclados, guitarras, baixo, flauta, bateria e percussão elementos de uma massa sonora complexa e de uma riqueza extraordinária de sons e ritmos. O resultado de tamanho esforço coletivo foi a venda de cerca de 1 milhão de cópias em pouco menos de um ano de lançamento, desbancando Roberto Carlos como o artista que mais vendia discos no Brasil.
Com o seu aclamado disco de estreia e com a inesperada receptividade do público e da crítica, o Secos & Molhados deixou de ser um mero conjunto Pop para se transformar em uma espécie de Beatlemania à brasileira e com toques e temperos glitter. A consequência imediata de gigantesca popularidade foi a dissolução da formação clássica do grupo em agosto de 1974, quando Ney Matogrosso decidiu abandonar o grupo alegando “diferenças irreconciliáveis” com o seu companheiro de banda, João Ricardo. Com apenas 13 faixas, o “disco das cabeças cortadas” se tornou uma das pérolas mais brilhantes da canção brasileira!


* Tive a honra de escrever sobre este disco fantástico para o blog Pequenos Clássicos Perdidos, do meu guru Fábio Bridges. Por isso, as informações sobre este disco antológico do Secos & Molhados são uma mera compilação do texto que está disponível no link a seguir:  http://pequenosclassicosperdidos.com.br/2014/01/02/secos-molhados-secos-molhados-1973/




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            Estes são os meus 14 motivos musicais para querer entrar em uma máquina do tempo. Quem sabe um Delorean aparece na porta da minha casa com um cientista que seja mais maluco do que eu e pede que eu volte por uns tempos para 1973? Boa música para ouvir era algo que certamente não iria faltar...

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