Rainha do Mar / Rainha da Canção
(Duas ou três coisinhas sobre Iemanjá)
O choro de Iemanjá
“Iemanjá andava infeliz,
Feliz? Já nem lembrava-se desta sensação,
Algo perturbava seu coração.
Certo dia
Iemanjá leu minha poesia,
Porém fingiu que não entendia,
Que não sentia,
Mas eu sei que entendeu.
Instantes depois ela começou a chorar,
Sete dias sem parar,
E assim formou-se o mar.”
(Jihad Velasco Traya)
Reza certa lenda de
que quando o mundo tal qual conhecemos hoje estava prestes a ser feito, uma
Rainha teve um papel decisivo neste processo. Iemanjá é tida como a
representação do princípio feminino da criação do universo. Por ser mãe do
universo e de todos os orixás, afirma-se que ela está na origem de todas as
coisas. Sendo estes fatos verdadeiros ou não, o fato é de que estamos tratando
de uma entidade muito poderosa e como este espaço não faz restrição a nenhum
credo, por que não falarmos daquela que recebe tantas oferendas que ofertamos
às aguas salgadas do mar?
Iemanjá, como
sabemos, possui vários nomes: Marabô, Janaína, Dandalunda, Mucunã, etc. No
entanto, nós preferimos chama-la apenas de Rainha
do Mar. Seu principal elemento é a água, que simboliza as emoções humanas,
por isso, é a presença que rege todos os mares. Se um dia quisermos que o mar
leve todos os nossos os problemas, não deixamos de pedir para que Ela seja a responsável por tudo isso.
Como escreveu o poeta e. e. cummings, “it’s
always ourselves that we find at the sea” (nós sempre encontramos com nós
mesmos no mar). Para encontrarmos a cada um de nós, não deixamos de ir ao
encontro de Iemanjá.
A entidade era orixá
dos Egbá, uma nação Iorubá que fica entre Ifé e Ibadar, na África. O nome de
Iemanjá, de acordo com a cultura nagô, quer dizer “Mãe cujos filhos são peixes”
(Yeyê = Mãe / Omo = Filhos / Ejá = Peixes) e protegia todos os que viviam às
margens do rio Yemojá. No início do século XIX, devido às guerras entre nações iorubas,
os Egbá foram obrigados a emigrar na direção oeste, o
que significava que eles tinham que abandonar as imediações das águas do rio. Como
não podiam levar as águas sagradas com eles, decidiram, assim, levar os objetos
de adoração para saudar a Rainha do Mar. Daí o grito de saudação Odoiá, que quer dizer Mãe do Rio (odo = rio / iyá = mãe).
No Brasil, quando
nos lembramos de Iemanjá, logo nos vem à mente a imagem de uma bela morena de
seios fartos, longos cabelos negros, com pérolas caindo pelas mãos e uma
sexualidade exuberante. Porém, a beldade passou por uns bons bocados até alcançar o poder pelo qual é tão referenciada. Por exemplo,
enquanto os demais orixás tinham uma atribuição especial (Oxum tinha o zelo
pela feminilidade, Ogum tinha o comando da guerra, Oxóssi era o responsável
pela caça e a fortuna, Oxumaré comandava a chuva, Xangô tinha o poder dos trovões,
Iansã tinha o poder dos raios, Nanã continha a sabedoria dos idosos e por aí
vai...), Iemanjá era obrigada a ficar em casa a par de infinitas atribuições
domésticas.
Enquanto trabalhava
duro, reclamava aos borbotões nos ouvidos de Oxalá, enlouquecendo o marido em
pouco tempo. Para poder curar o seu amado, a Rainha do Mar passou a tratá-lo
com água fresca, pombos brancos, frutas frescas e outras especiarias. Daí o
fato de muitos terem que fazer as chamadas oferendas
para Iemanjá e lançá-las às aguas do mar.
Graças à cura de
Oxalá, a Rainha do Mar passou a auxiliar Olodumaré na criação do mundo. Passou a
governar os mares e logo tomou desgosto pela função, visto que muitos seres
humanos tinham o péssimo hábito de lançar seu lixo às aguas do mar. Depois de
reclamar de que sua casa vivia suja com a imprudência dos outros, Iemanjá
ganhou o dom de devolver às praias tudo
o que os humanos atirassem de ruim em seu reino – daí o surgimento das ondas,
que trazem para a terra firma tudo o que não pertence ao mar. E assim se fez boa
parte da história da humanidade de acordo com os orixás...
*
Fevereiro é mês de
Iemanjá. E creio que nenhuma orixá foi tão celebrada através de belas canções
como a Rainha do Mar – Dorival Caymmi, Paulo César Pinheiro e Vinícius de
Moraes que o digam... Confesso que fico impressionado com a enxurrada de
homenagens à dona do Reino das Águas nas redes sociais todo dia 2 de fevereiro.
Na verdade, fiquei encantado com o que já se produziu em termos de canção
popular no que diz respeito à Iemanjá. E o mais impressionante para mim foi a
diversidade de intérpretes destas canções tão belas: Mariene de Castro, Clara
Nunes, Maria Creuza, Marisa Monte, Margareth Menezes, Gal Costa, Alcione, Rita
Ribeiro (não adianta me dizer que hoje ela se chama “Rita Benneditto”, para mim
ela vai ser sempre Rita Ribeiro! rsrs), Nana Caymmi, Maria Bethânia e por aí
vai...
Por isso, vamos
celebrar o legado de Iemanjá e pedir para que ela sempre nos proteja e abra os
nossos caminhos. Odoiá!
10 ODES MUSICAIS À IEMANJÁ QUE VOCÊ PRECISA OUVIR:
Marisa Monte representando Iemanjá durante a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres (2012). |
10)
Gal Costa – Caminhos do Mar
“O canto vinha de longe
De la do meio do
mar
Não era canto de
gente
Bonito de
admirar”
|
9)
Mariene de Castro – Prece de Pescador
(Canto a Iemanjá)
“Mas se a tristeza tem dia
Tua força me
guia meu caminho é o mar
E que me lancem
as pedras
Yemanjá faz
areia pra não machucar”
|
8)
Alcione – Brasil com Z é pra Cabra da
Peste
“Padim Padre Ciço, faça chover alegria
Pra que cada
gota seja o pão de cada dia
Jogo flores ao
mar pra saudar Iemanjá
E na lavagem do
Bonfim, eu peço axé”
|
7)
Maria Creuza – Maria Vai com As Outras
“Maria que não foi com as outras
Maria que não foi pro mar
No dia dois de fevereiro
Maria não bincou na festa de Iemanjá
Não foi jogar água de cheiro
Nem flores pra sua Orixá
A Iemanjá pegou e levou
O moço de Maria para o mar”
|
6)
Monica Salmaso – Canto de Iemanjá
“Se você quiser amar
Se você quiser
amor
Vem comigo a
Salvador
Para ouvir
Iemanjá”
|
5)
Maria Bethânia – Iemanjá, Rainha do Mar
“O que ela gosta?
O que ela adora?
Perfume,
Flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Pra ela se enfeitar.”
|
4)
Marisa Monte – Lenda das Sereias
“Ela mora no mar
Ela brinca na
areia
No balanço das
ondas
A paz, ela
semeia
Ela mora no mar
Ela brinca na
areia
No balanço das
ondas
A paz, ela
semeia”
|
3)
Família Caymmi – Dois de Fevereiro
“Dia dois de fevereiro
Dia de festa no
mar
Eu quero ser o
primeiro
A saudar Iemanjá”
|
2)
Rita Ribeiro – Rainha do Mar
“Minha sereia é rainha do mar
Minha sereia é
rainha do mar
O canto dela faz
admirar
O canto dela faz
admirar
Minha sereia é
moça bonita
Minha sereia é
moça bonita
Nas ondas do mar
Aonde ela habita”
|
1)
Clara Nunes – Conto de Areia
“Quem foi que mandou
O seu amor
Se fazer de
canoeiro
O vento que rola
das palmas
Arrasta o
veleiro
E leva pro meio
das águas
de Iemanjá
E o mestre
valente vagueia
Olhando pra
areia sem poder chegar
Adeus, amor”
|
. . . Salve a Rainha do Mar . . .
ResponderExcluirOdoiá!!! ;-)
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