O Último Sopro de Bobby Keys
Bobby Keys (1943-2014) |
“If you believe in the
magic of Rock & Roll, which I devoulty do, it isn’t in the individual. I’ve
played in bands with A-team players around. But unless they can play together,
it doesn’t do any good. And you can take guys who may not stand on their own up
against a bunch of individuals they might be compared to, but you put’em
together man, and they are unique unto themselves in a way that no one else can
touch. You can get the finest A-team musicians in the world, put’em together,
and there’s no guarantee it’s gonna swing.”
(Bobby Keys, 2012)
De
todos os riffs de guitarra que
fizeram a história do Rock, nenhum me
traz tamanha excitação quanto de “Brown Sugar”, dos Rolling Stones. Quando vejo
Keith Richards empunhando sua guitarra heroicamente entre suas duas pernas para
tocar este clássico, sei que um dos maiores espetáculos do planeta está
chegando ao fim e o que o meu nível de adrenalina se aproxima do ápice. Em que
momento atingimos o auge da excitação? No segundo em que Bobby Keys inicia o
seu solo de sax tenor e deflagra a festa, a orgia e a celebração da liberdade e
do corpo e do espírito em meio a uma sociedade que insiste em cercear os
limites da alucinação e da sexualidade.
Bobby Keys não foi apenas um músico convidado pelos Rolling
Stones: ele foi um dos autores das marcas registradas mais queridas pelos fãs
do grupo inglês. O solo de “Brown Sugar” é apenas um mero exemplo da extensa e
significativa contribuição que Bobby deu para a música dos Stones. Sua
participação nos discos gravados durante o período de ouro da banda
(1969-1974), além de outras gravações avulsas, ajudou Jagger & Richards a
definirem as novas direções a serem seguidas pelo som da banda. Exile on Main St. (1972) não seria a
obra-prima que é sem os metais capitaneados por Bobby e Jim Price.
É por isso tudo que os membros e fãs dos Rolling Stones
receberam com imensa tristeza a notícia de que Bobby Keys tinha morrido por
consequência de uma cirrose aos 70 anos de idade no dia 2 de Dezembro de 2014.
O impacto da perda de Bobby é tão profundo quanto a morte de Ian Stewart em
meados dos anos 1980, visto que, além da amizade e da parceria, trata-se de um
músico que definiu uma bela parte da identidade do som dos Stones.
Bobby ao lado de John Lennon durante as gravações do álbum Walls & Bridges (1974), do ex-Beatle. |
Keith & Bobby nos anos 1970 |
Nascido no Estado do Texas em 18 de Dezembro de 1943 – na
mesmíssima data em que nascera seu melhor amigo, Keith Richards –, Robert Henry
Keys foi um músico profissional por mais de 50 anos. Tocou com outros mestres do Rock & Roll como John Lennon, Elton
John, George Harrison, Eric Clapton, Joe Cocker, Lynyrd Skynyrd, Buddy Holly,
Ringo Starr, B. B. King, além de ter participado de discos de Keith Moon,
Sheryl Crow, Carly Simon, Dr. John, Yoko Ono, Donovan, Barbra Streisand, dentre
outros. No entanto, sua passagem para
a posteridade foi garantida pela sólida parceria que manteve com os Rolling
Stones desde 1969.
Keith & Bobby nos anos 1980 |
Keith & Bobby nos anos 2000
Nota escrita por Keith Richardsna ocasião do falecimento de seu melhor amigo. |
Para que não nos esqueçamos da importância de seu legado,
fizemos um Top 10 com as melhores que Bobby gravou com Mick Jagger, Keith
Richards e cia...
10) “Dance, Pt. I” (1980)
A faixa que abre o álbum que os Rolling Stones lançaram em
1980, Emotional Rescue, é uma das
parcerias bissextas entre Mick, Keith e o guitarrista Ron Wood. Enquanto
Richards ainda vivia os percalços das prisões e das audiências na justiça por
conta do vício e posse de heroína, Jagger passou a dar as cartas em relação aos
rumos que as pedras deveriam rolar. Seguindo o embalo do sucesso de Some Girls (1978), o frontman dos Stones busca repetir a
experiência de “Miss You”, sem conseguir o retorno esperado. Os metais de
“Dance, Pt. 1”, que se destacam no minuto final desta faixa, tornam esta
composição ainda mais dançante.
9) “Loving Cup” (1972)
A nona faixa da obra-prima dos Stones, Exile on Main St., é um dos lados B mais cultuados da discografia
da banda – em 2006, uma regravação deste clássico foi feita com a participação
do cantor e guitarrista Jack White. A versão original de “Loving Cup”, de 1971,
não possuía o arranjo de metais de Bobby e Jim Price, ao contrário da versão
que figura no disco lançado no ano seguinte. A “Loving Cup” de Exile..., graças a Bobby e Price, é muito
mais Soul (portanto, mais dramática!)
e permitiu que Mick Jagger, Keith Richards, Bill Wyman, Mick Taylor e Charlie
Watts alçassem voos inesperados em relação ao som que a banda estava produzindo
naquela época...
8) “Rocks Off” (1972)
A faixa que abre Exile...
relata experiências típicas do universo dos Rolling Stones: tesão, atração,
fissura, obsessão sexual... Os riffs e
acordes desconcertantes das guitarras de Richards e Taylor, a argamassa de
Wyman e Watts e o piano de Nicky Hopkins que compõem a argamassa da batida dos
Stones se juntam à brass section
encorpada de Bobby Keys e Jim Price para que os vocais indefectíveis de Jagger
conseguissem alcançar a estridência suficiente para pegar o ouvinte da
obra-prima da banda a partir do primeiro minuto. Em suma: “Rocks Off” foi o
primeiro capítulo de um álbum se transformou em um item obrigatório na coleção
de qualquer amante do Rock & Roll!
7) “Rip this Joint” (1972)
A segunda faixa de Exile
on Main St... é um dos petardos mais indigestos de toda a obra dos Rolling
Stones. A batida e os riffs de “Rip this Joint” são diluídos através dos gritos
de Mick Jagger e entrecortados por dois solos demolidores de Bobby Keys. Um
detalhe relevante sobre esta canção: os próprios Stones tocaram esta em poucas
turnês – até onde sabemos, “Joint” só foi apresentada nas turnês Exile... e Voodoo Lounge.
6) “All About You” (1980)
Canção que encerra o controvertido álbum Emotional Rescue e pertence à lavra de
Keith Richards. Uma das baladas mais marcantes do grupo, “All About You” é um
lamento sofrido de Keith ao amigo Mick Jagger, cuja egolatria se espraiava por
limites que levariam os Rolling Stones a uma crise sem precedentes no decorrer
de toda a década de 1980. A participação de Bobby Keys nesta faixa oferece um
tom mais jazzístico para esta bela criação: seu sax tenor se acentua no
decorrer dos 4 minutos desta gravação antológica!
5) “Casino Boogie” (1972)
O solo de Bobby Keys para a quarta faixa de Exile... é o diferencial desta gravação.
Em meio a lances de dados e as amarras impostas pelo tempo anunciados por Mick
Jagger, as guitarras de Keith Richards e Mick Taylor dialogam com o baixo de
Bill Wyman e batida jazzística de Charlie Watts e o sax tenor de Bobby com
dinamismo de uma partida de Poker.
4) “Sweet Virginia” (1972)
Este country
composto por Jagger & Richards para Exile
on Main St... é uma das faixas mais belas da história da música. A balada
percorre territórios desérticos, perpassa episódios de tristeza e solidão e
possui um dos solos mais brilhantes da carreira de Bobby Keys.
3) “Live with Me” (1969)
A longa parceria de Bobby Keys com os Rolling Stones se
iniciou com esta faixa, incluída no icônico álbum Let it Bleed (1969). “Live with Me” é um dos cartões-visita dos
Stones: defende um estilo de vida anárquico, completamente distinto dos pilares
da tradição inglesa – beber o chá das cinco ás três da tarde, enfileirar-se
para utilizar o banheiro às 7h35 em uma casa que necessitaria desesperadamente
de um “toque feminino” para recobrar os valores da moral e dos bons costumes,
são alguns dos vários manifestos de libertação que as pedras rolantes defendiam
em face ao conservadorismo da Inglaterra do final da década de 1960.a participação
de Bobby anuncia, através de seus acordes dissonantes e com um volume
estridente, um caos reinante
defendido por Mick, Keith e cia.
2) “Can’t You Hear Me Knocking?” (1971)
A quarta canção de Sticky
Fingers (1971) ocupa pouco mais de sete minutos do álbum e, originalmente,
não era para ter sido a jam session na
qual se tornou se Mick Taylor e Bobby Keys não tivessem contribuído com seus
improvisos para esta gravação. O solo de Bobby, juntamente com o de Taylor,
propõe uma atmosfera hipnótica a partir da bateria de Charlie Watts e das
congas de Rocky Dijon após Jagger ter literalmente berrado suas obsessões em
forma de canção e de Keith ter criado mais um de seus riffs antológicos.
1) “Brown Sugar” (1971)
Nenhum show dos Rolling Stones pode ser dado por completo se a banda não tocou “Brown
Sugar” em algum momento do espetáculo. Este clássico é uma ode à liberdade do
corpo e do espírito através da tríplice aliança entre Sexo, Drogas e Rock & Roll. Quando Mick Jagger acabava de
cantar o segundo refrão e anunciava: “Bobby!”
para que o músico do Texas fizesse seu solo era um momento de verdadeira de
verdadeira excitação, pois o solo de sax para esta canção é tão marcante a
ponto da mesma sequência de acordes ter que ser repetida à risca em toda
apresentação dos Stones desde 1971.
A contribuição de Bobby Keys para diversas gravações dos
Rolling Stones lhe deu um lugar permanente no panteão dos músicos mais
importantes de toda a história do Rock
& Roll. Seu desaparecimento é um dos golpes mais duros para a banda e
para a comunidade musical como um todo. Este texto é uma singela homenagem ao
legado de um senhor de 70 anos que nutria uma enorme paixão pela arte que
fazia. Que seu corpo possa descansar em paz e sua música faça do nome de Robert
Henry Keys uma das referências principais do sax tenor.
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