A
SEDUÇÃO ILIMITADA DO MAESTRO DO AMOR
(ou
algumas de minhas memórias sobre Barry White)
Amado Maestro |
“There's
people making babies to my music. That's nice.”
(Barry
White)
Música
sempre foi um assunto sério lá em casa: ela se fazia presente desde a sala de
estar até os quartos de dormir e passava pelos demais cômodos do já saudoso
apartamento em que vivíamos na Ilha do Governador. Por outro lado, tenho
recordações bastante especiais do que ouvíamos nos automóveis que o Sr.
Orlando, meu velho e bom pai, teve no decorrer da vida: The Police, Simply Red,
Rod Stewart, Phil Collins, Genesis e outros nomes de peso do Pop Rock
internacional eram super habituais nas caixas de som dos Fuscas, Passats, Gols,
Fiats que eram os veículos da família. Nenhuma destas minhas memórias são tão
repletas de afetividade quanto a audição dos clássicos de Barry White, que embalou
os momentos mais comuns dos meus pais e, por tabela, os meus.
Barry White no programa de TV Soul Train, em 1973. |
White, que na verdade se chamava, Barry Eugene Carter,
nasceu na cidade texana de Galveston, em 1944. A música não foi apenas a fonte
de suas paixões, mas foi a sua verdadeira tábua de salvação de um futuro que
não lhe prometia sucesso e glória. Ao ouvir a gravação antológica de Elvis
Presley para “It’s Now or Never” em uma prisão (o jovem Barry tinha sido
condenado por roubo qualificado), viu que o seu caminho para encontrar o seu
pote de ouro simbólico era trilhando os passos do Rei do Rock, cujo topete
carcaterístico imitava aberta e descaradamente no decorrer dos enlouquecidos
anos 1970. Começou sua vida artística como homem de Artistas & Repertório (A&R) em uma pequena gravadora na
década anterior. Pouco tempo depois, tornou-se um respeitado produtor musical e
revelou talentos musicais maravilhosos como o trio vocal feminino Love
Unlimited e a fantástica Love Unlimited Orchestra, que fez sons inesquecíveis
para quem teve os seus dias de juventude em meio a penteados afro/black power e calças boca de sino.
Barry White se lançou como cantor em 1973 e logo se
popularizou com um repertório romântico e dançante que misturava Soul, Funk, Disco e Latin Music embalados por uma voz de
baixo-barítono que voava feito um foguete sonoro que desbravava nuvens e céus
com as meninas do Love Unlimited e as cordas e sopros da Love Unlimited
Orchestra como tripulantes de um voo do amor. O tom sussurrado e falado
utilizado por Barry se alternava com os agudos potentes tornaram sua voz em uma
marca registrada e em um padrão de referência para vários homens que decidissem
se aventurar pelos caminhos da canção popular. Os esforços de White, sua
abordagem incomum para emplacar hits
nas paradas de sucesso e um som que era fruto da influência de gênios do porte
de Ray Charles, Aretha Franklin, o som da gravadora Motown lhe renderam mais de
100 milhões de discos vendidos em mais de três décadas de carreira.
Um dos meus álbuns preferidos de Barry White é o obscuro Beware!, lançado em 1981. Lançado após
um período de imenso sucesso – que lhe rendeu sucessos monstruosos como “Let
the Music Play” e a sua versão inesquecível para “Just the Way You Are”, de
Billy Joel e os smash hits “You’re
the First, the Last, My Everything” e “Can’t Get Enough of Your Love, Babe”,
este trabalho marca o flerte intenso do músico texano com o sabor caliente
dos sons latinos que vinham do Brasil. Sua canção dedicada ao Rio de Janeiro é
um dos maiores hinos de amor ao povo carioca e marcou o início de suas várias
idas e vindas pela Cidade Maravilhosa. A gravação da faixa-título, da autoria
de JoAnn Belvin, é um dos momentos mais emocionantes da carreira de White. “I
Won’t Settle for Less than The Best (for You Baby) e “Let Me In and Let’s Begin
with Love”, parcerias de Barry com Vella M. Cameron, são dois retratos intensos
do que podemos fazer de mais honesto e apaixonado em uma relação a dois. Os
vocais açucarados embalados por excelentes músicos e cantores de apoio, além
dos sopros e cordas da Love Unlimited Orchestra são de deixar qualquer músico e
ouvinte sem fôlego.
A capa de Beware! (1981) |
As poucas informações disponíveis acerca da discografia de
Barry White nos levam a crer que Beware!,
apesar de ter feito relativo sucesso no Brasil, não teve uma boa acolhida pela
crítica especializada e pelo público do maestro. Talvez a presença de carga
erótica e latinidade do disco não tenham agradados aos que se animavam com a
chamada New Wave. O que me importa é
que este trabalho de Barry – lançado no mesmíssimo ano em que eu nasci – faz
parte da minha discoteca básica há mais de 20 anos. Ao ouvir p álbum
recentemente (desta vez no HB20 de minha mãe, que tinha as canções do CD em uma
seara de arquivos em MP3 que alimentam o carro de D. Elizabeth), senti que a
beleza desta obra-prima continua intacta.
A capa de Just Another Way to Say I Love You (1975) |
Retomar o contato com a música de Barry White não é apenas
um convite para retomar as memórias familiares mais escondidas em meu recôndito
pessoal. É recordar a origem de minha paixão por vozes grandiosas, arranjos
orquestrados e os balanços e embalos das velhas canções de amor que (ao
contrário do que dizem por aí...) jamais envelhecem. Creio que foi aquele
veludo vocal que me ajudou a ter esta vontade louca e incontrolável de querer
cantar por aí. Enquanto muitas mulheres devem ter se rendido aos encantos de
Mr. White, eu me deixei seduzir pelo talento musical ilimitado do Maestro do
Amor. E assim tem sido e há de ser por muitos anos...
BARRY
WHITE’S TOP 10
1. You’re the First, the Last, My Everything
2. Can’t Get Enough of Your Love, Babe
3. Honey Please, Can’t Ya See
4. I’ve Got So Much to Give
5. Don’t Make Me Wait Too Long
6. Let the Music Play
7. Your Sweetness is my Weakness
8. It’s Ecstasy when You Lay Down Next to Me
9. I’ll Do Anything You Want Me To
10. How Did You Know It Was Me?
BONUS # 1: Around the World (Lisa Stansfield & Barry
White)
BONUS # 2: Under the Influence of Love (Love Unlimited Orchestra)
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