CARTOLA – CARTOLA (1974)
Angenor de Oliveira: também
conhecido como Divino; ou chamado de Poeta das Rosas; foi também o marido de
Dona Zica da Mangueira e um dos fundadores da Escola de Samba de sua
comunidade. Para o resto do mundo, ficou conhecido apenas como Cartola.
Não podemos escrever a história
da Música Brasileira sem mencionarmos a importância da obra deste gênio para
todos nós. Cartola é considerado o maior sambista de toda a história da nossa
canção: influenciou gerações e gerações, foi regravado por artistas que fazem
parte do universo do Samba e da chamada “MPB” e gravou quatro discos
antológicos na década de 1970 e que são fundamentais na coleção de qualquer
amante da arte musical.
No entanto, a relação do Divino
com o samba vem desde a década de 1920: em 1925 fundou um bloco de Carnaval que
seria o embrião da Estação Primeira de Mangueira; na década de 1930 compôs (e
vendeu) sambas para Francisco Alves, Mário Reis e Aracy de Almeida. Chegou a
atuar como cantor de rádio na década de 1940, mas, aos poucos – motivado por
dramas pessoais e por desavenças com a diretoria da Mangueira nos anos 40 – ,
deixou o meio musical.
A sorte de Cartola mudou em 1952,
quando Stanislaw Ponte Preta encontrou o sambista trabalhando em condições
modestas como flanelinha em um bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. O Poeta
das Rosas, que tinha sido dado como desaparecido ou morto, foi levado a fazer
algumas apresentações em rádios e restaurantes. No entanto, o que lhe trouxe o
verdadeiro sucesso foi a união entre música (o samba da Mangueira) e comida (a
lendária feijoada de D. Zica): o Zicartola era mais do que um simples
restaurante: era um centro cultural no qual a Rua da Carioca fervilhava com
encontros entre sambistas do morro, poetas-letristas, jornalistas, novos talentos,
velhos bambas: Elizeth Cardoso, Hermínio Bello de Carvalho, Nelson Cavaquinho,
Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Sérgio Cabral, Nara Leão, Zé Kéti, Carlos
Cachaça e João do Vale eram alguns dos nomes que apareciam por lá…
Apesar de ter participado de algumas
faixas avulsas de discos coletivos e de ter sido gravado por nomes de enorme
prestígio como Paulinho da Viola, Clara Nunes, Nara Leão e Elza Soares, a
consagração definitiva ainda estava por vir: prestes a completar 66 anos,
Cartola ainda não tinha gravado seu próprio disco. O anjo da guarda que
realizou este feito foi o publicitário, pesquisador musical e produtor de
discos Marcus Pereira, que decidiu produzir o disco do Mestre Mangueirense.
Este álbum, que já nasceu
clássico, reuniu o melhor do cancioneiro que Cartola produziu em uma vida
inteira. Afinal, ninguém conseguiu a primazia de reunir no mesmo disco pérolas
do naipe de “Acontece”, “Tive Sim”, “Amor Proibido”, “Disfarça e Chora”, “Corra
e Olha o Céu”, “Sim”, “O Sol Nascerá (A Sorrir)” e “Alvorada”. Nestas canções,
o sambista expôs sua visão, por assim dizer, anticonvencional do sentimento
amoroso em versos tão belos e bem escritos – Cartola era leitor de poesia,
especialmente de Castro Alves.
A estreia de Cartola em disco é
um atestado de que o samba é uma de obra de arte imortal. A poesia deste Mestre
fez com que o nome de Angenor de Oliveira transcendesse o universo das escolas
de samba para ocupar um lugar dentre os gênios que levaram a música deste país
um patamar de inventividade tal qual o fizeram Jobim, Villa-Lobos e alguns
outros…
Salve, Cartola!
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