ANJOS CAÍDOS
"Heaven, is this heaven where we are?
See them walking, if you dare, if you call that
walking
Stumble, stagger, fall and drag themselves along the
streets of heaven"
(Natalie Merchant & Robert Buck, 1987)
Ser uma
estrela do Rock deve ter, sem a menor sombra de dúvida, os seus atrativos: você
adquire fama por aquilo que você gosta e acredita, faz amigos e pode fazer
música pelos palcos dos quatro cantos do mundo. Uma vida de prazer, luxúria e
diversão, supostamente.
No entanto,
a realidade descrita acima nunca aconteceu para os astros da música. John Lennon
e Kurt Cobain, por exemplo, tiveram uma infância infeliz e uma vida adulta
traumática; Elton John e Eric Clapton viveram anos e anos às voltas com as
drogas e o alcoolismo; Além das drogas, Neil Young teve dois filhos com
paralisia cerebral; Robert Plant e Keith Richards perderam dois filhos com
menos de cinco anos enquanto estavam no auge da fama.
Se formos
buscar ainda mais exemplos de histórias tristes que compõem o universo dos
artistas do Rock ‘n’ Roll, chegaremos
à obvia conclusão de que a mídia e a publicidade criaram o mito do self made man realizado através de fama,
dinheiro e notas musicais através do combustível sexo, drogas e Rock ’n’ Roll. Quando lemos ou ouvimos
notícias de desgraças ocorridas com estes astros, o choque é logo substituído pela
reação instantânea: “Como esse cara foi cometer suicídio se ele tinha uma bela
família, dinheiro e fama”?...
Chris Cornell (1964-2017) |
Confesso que
me senti deste jeito ao ouvir da morte de Chris Cornell (ex-vocalista do Soundgarden
e Audioslave) em 18 de maio e de Chester Bennington (ex-vocalista do Linkin
Park e do Stone Temple Pilots) em 20 de julho de 2017. Ambos se suicidaram por
enforcamento e apresentavam quadros bastante agudos de depressão. Os dois
tinham um extenso histórico de abuso de drogas e álcool e viviam em estado de
angústia plena. Nunca fui fã do Soundgarden, gostava do som do Audioslave, sempre
achei Linkin Park um tanto teen
demais para os meus ouvidos e morreria sem saber que Chester tinha se
aventurado na tarefa de substituir o lendário Scott Weiland como vocalista do
Stone Temple Pilots. Porém, fiquei muito triste em saber do fim trágico dos
dois artistas.
Chester Bennington (1976-2017) |
A depressão
é o verdadeiro mal do século XXI. Se não for tratada com terapia e medicamentos
controlados, induz o paciente ao suicídio. Não é preciso fazer uma pesquisa
extensa para comprovarmos este fato. Por outro lado, as relações econômicas e
profissionais que aí estão nos desviam de uma discussão tão fundamental para a
compreensão de onde e como devemos enfrentar os desafios do terceiro milênio: o
sistema vende figuras de homens sadios, perfeitos e felizes para que possamos
nos espelhar nesses arquétipos e, como consequência, elevar o nível de consumo
e de dividendos para os artífices destas “imagens perfeitas”.
Suicídio é
coisa muito séria: é o último recurso de quem não tem absolutamente mais nada a
perder para poder cessar com a amargura e o sofrimento que castigam o corpo e
adoecem a alma. O grande problema de pessoas que invertem as leis naturais ou
do destino e optam por dar um fim às suas próprias vidas fazem com que os
membros de suas famílias morram um pouco junto do ente que se suicidou. Isto é
o mais dolorido: morrer junto de quem nós mais amamos...
Penso nas
famílias de Chris Cornell e Chester Bennington e imagino a dificuldade de suas
esposas e filhos em poder aceitar os fatos de que seus maridos e pais não
existem mais por uma arapuca montada pela depressão. O lendário ex-vocalista do
Soundgarden escolheu a última canção que cantou em cima de um palco – um trecho
de “In My Time of Dying”, do Led Zeppelin. Chester escolheu a data de sua
partida – o dia do aniversário de seu amigo Chris Cornell. Macabras coincidências?
Sim, infelizmente! Mas que teriam sido evitadas se tivéssemos descoberto os
pedidos de ajuda escondidos em cada gesto, em cada ato público de tristeza.
Por isso,
devemos lutar bravamente contra este mal silencioso e perverso para que não
encontremos outros anjos derrubados pela depressão e pelo suicídio. Por eles,
por seus entes, por nós...
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