OS PRAZERES DO SILÊNCIO
“Words
like violence break the silence
Come crashing in into my little world
Painful to me, pierce right through me
Can't you understand, oh my little girl
All I ever wanted, all I ever needed is here in my
arms
Words are very unnecessary, they can only do harm
Vows are spoken to be broken
Feelings are intense, words are trivial
Pleasures remain, so does the pain
Words are meaningless and forgettable
All I ever wanted, all I ever needed is here in my
arms
Words are very unnecessary, they can only do harm
All I ever wanted, all I ever needed is here in my
arms
Words are very unnecessary, they can only do harm
All I ever wanted, all I ever needed is here in my
arms
Words are very unnecessary, they can only do harm”
(Martin Gore, 1990)
Sou
um amante do barulho de forma geral – os sons do rádio, da TV e o trânsito de
cidade grande me dão a dimensão de quem eu sou, um típico animal urbano,
buscando se integrar ao coletivo. No entanto, na medida em que comecei a
trabalhar em ambientes profissionais cada vez mais barulhentos, comecei a
esquecer desta paixão. Se no passado, eu chegava em casa e ligava o aparelho de
som para que a música preenchesse os espaços vazios e silenciosos, hoje em dia
eu só me acalmo com a ausência de qualquer espécie de ruído. Passei a amar o
silêncio, sob todas as formas.
Quem
me dera que todo o som e a fúria dos seres humanos estivesse restrita apenas à
Literatura de Shakespeare ou de Faulkner. Em tempos nos quais as relações humanas
são cada vez mais frias e fugazes (isto seria a tal da modernidade líquida de
Bauman), a comunicação essencial se faz esquecida, o entendimento entre os
pares se torna mitológico, o tempo individual é convertido em um bem precioso,
as palavras soltas por aí são espinhos prestes a nos ferir a qualquer momento.
Sempre
acreditei na força extraordinária da palavra enquanto recurso de comunicação. Não
só aprendi a respeitá-las, como também passei a amá-las e até a cultivá-las. Há
quase duas décadas que eu vivo entre contos, crônicas, romances, notícias de
jornal, redes sociais, poemas e letras de música para tentar compreender o
mundo. Porém, o excesso de desinformação é tão grande que deixei de acreditar
na eficácia total do verbo falado e escrito para sanar os males do mundo.
Depois de passar um final de semana
inteiro em casa em pleno silêncio. Para a insanidade e a imbecilidade, o
silêncio é a cura. Para a reflexão e pensar no rumo das coisas também. Ouvir a
voz do outro apenas no que é essencial, afinal, as palavras são mais do que
desnecessárias diante da era de plena mediocridade que vivemos.
O silêncio é ouro. Especialmente em tempos
nos quais todo mundo tem voz para falar não apenas o que pensa, como também
para dar asas a todos os seus ódios e preconceitos para quem quer que possa ler
ou ouvir. O silêncio é uma arma de ouro. Especialmente porque é uma defesa de
quem procura um mínimo de sensatez em meio ao caos dos grandes centros urbanos.
A música mais bela, os escritos mais inteligentes,
a literatura mais bacana, os recados mais perfeitos e as decisões mais
ajuizadas foram tomadas depois de muito silêncio. Por isso, desfrute dos
prazeres da ausência de ruídos em alguma parte do seu dia. Faça uso de mais
reticências nos seus textos, elas servem para ventilar suas ideias. Pratique o
silêncio em algum momento de sua jornada diária e faça da sua vida e de seu
semelhante algo melhor. Não existe contraindicação.
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