DAVID BOWIE É… SOM & VISÃO
(UM MINI-DIÁRIO DE
VISITAS DA PASSAGEM DA
EXPOSIÇÃO DAVID BOWIE IS... POR SÃO PAULO)
Antes
da Visita
Em
meados do 1.º Semestre de 2013, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo anunciou
que a exposição David Bowie is... viria
para o Brasil. Diretamente do Victoria
& Albert Museum, de Londres, a mostra sobre Bowie impressionou público
e crítica por ser uma retrospectiva extensa dos figurinos, videoclipes, fatos e
curiosidades em torno do velho camaleão. Não pude me conter de tanta felicidade
e anunciei aos quatro ventos pelas redes sociais de que Bowie estava a caminho
do Brasil...
Para
a felicidade geral dos fãs e especialistas em Cultura Pop, o David Bowie Archive
concedeu acesso ilimitado para que o Victoria
& Albert fizesse um apanhado generoso da vida e obra de um dos artistas
mais revolucionários de toda a História das Artes. As influências, as ideias, as
imagens icônicas, as fases musicais, os figurinos, os manuscritos, os
instrumentos musicais, além de suas expressivas incursões no cinema: todo o
universo de David Bowie para entendidos e não-entendidos no assunto em questão
estava a caminho de São Paulo. Haja vista que o astro desmentiu todos os
rumores de que se apresentaria ao vivo para divulgar o álbum The Next Day (2013),
David Bowie is... não deixava de ser uma espécie de consolo para o grande
público.
A
partir do final de dezembro de 2013, a imprensa cultural e as redes sociais
ferviam em torno do nome de Bowie. Minha paixão pelo astro ficou tão evidente
nestes últimos meses que várias pessoas do meu círculo de contatos (amigos,
alunos, colegas de trabalho...) associavam os posts no Facebook a mim quando o assunto era o evento sediado pelo MIS-SP. O
jeito era esperar até o primeiro final de semana no qual a mostra estaria em
São Paulo para poder visitar o velho Camaleão
Inglês.
1.º
Dia de Visita
Depois
de esperar alegremente pela queridíssima Marie Silvie para seguirmos de carona
elegante da Barra Funda até o Jardim Europa, sabia que o tempo de espera pela
exposição David Bowie is... não seria
longo! Fomos surpreendidos pelo tamanho da fila que estava formada para o
evento, visto que não passava das três da tarde de um sábado de verão – as
pessoas poderiam estar em um shopping, em um restaurante, tomando sol na piscina,
jogando conversa fora na frente da TV, mas preferiram visitar a mostra de David
Bowie, para nossa completa surpresa.
Depois
de tirar fotos com a foto da entrada da exposição, uma longa fila para deixar
os pertences no guarda-volumes, outra fila nas escadarias do MIS para ver
Bowie. Como era sábado, dia de folga e como o “anfitrião” merecia o nosso
sacrifício, 40 minutos de espera e um desaforo de um imbecil que estava na fila
do bebedouro não tiraram o meu bom humor e a minha excitação. Quando finalmente
entramos na primeira galeria do Museu, tenho a surpresa agradável de que necessitamos
de um aparelho que capta o som de cada um dos aparelhos de TV presentes na
mostra. Depois disto, estaríamos devidamente prontos para adentrar no universo
camaleônico...
E o
início se deu com “Space Oddity” e a fascinação de David Bowie pelos mistérios
do espaço sideral, com direito a influencias de Stanley Kubrick e o belíssimo
macacão de vinil de Kansai Yamamoto para certificar de que David Robert Jones
nunca pertenceu a este planeta. Depois
desta entrada memorável, estávamos prontos para conhecermos/reencontramos os
manuscritos, as capas dos discos mais importantes, os livros lidos por Bowie em
sua juventude e os figurinos que lhe tornaram um verdadeiro astro das artes
deste planeta.
As
vestes de Ziggy Stardust, a camisa e
as calças do Thin White Duke, o
figurino de Jareth (de Labyrinth), os
rabiscos de “Rebel, Rebel” e “Starman”, a capa polêmica (e censurada!) de Diamond Dogs (1974), a inacreditável maquete
do palco da Diamond Dogs Tour
(inspirado em Metropolis, de Fritz
Lang), trechos da trilogia Low - Heroes -
Lodger (1977-1979), a apresentação antológica de “The Man Who Sold The
World” no Saturday Night Live em
1979, imagens do longa The Rise and Fall
of Ziggy Stardust ... and The Spiders from Mars e da turnê Glass Spider, com direito à comoção de
“Rock ‘n’ Roll Suicide” e os excessos de coreografias para as canções do controvertido
álbum Never Let Me Down (1987) – tudo
isto convivia com todo a força do som e da fúria que David Bowie inventou para
si e que influenciou tantos artistas de gerações posteriores como Madonna,
Morrissey e Lady Gaga (para não citarmos outros). Os fãs saíam estupefatos com
a força do conjunto da obra de um artista singular. Os não-fãs saíam admirados
com a originalidade de um dos homens que traçaram o mapa da Cultura Pop por mais de três décadas de
atividades ininterruptas.
Não é
nem preciso dizer que o autor destas linhas não tinha a menor vontade de
abandonar o Museu da Imagem e do Som. Abandonei o templo camaleônico, não sem
antes de adquirir souvenirs da
mostra: um DVD do filme Labyrinth, dois
broches para decorar o meu crachá do trabalho, e quatro ímãs de geladeira para
embelezar os espaços de minha convivência mais intensa – o meu ambiente de
trabalho e o lugar onde moro. Tinha uma ecobag
linda com uma imagem icônica do Bowie que eu queria muito levar para casa, mas
levar tamanha bagatela para casa pela modesta quantia de R$ 70,00 era um
desaforo que o meu bolso infelizmente não podia permitir. Fui jantar depois em
uma padaria na Rua Estados Unidos feliz e contente, como se tivesse visto David
Bowie in person...
Depois
da Visita
Como
fui visitar a mostra do MIS-SP no primeiro final de semana, vários conhecidos
meus conferiram a mostra e compartilharam suas impressões nas redes sociais.
Alguns se lembraram carinhosamente de mim durante suas visitas ao velho
camaleão inglês, principalmente, pelo fato de que eu procuro tocar David Bowie
sempre que posso (seja na sala de aula, seja compartilhando vídeos no Blog e/ou no Facebook).
Além
disto, tive a oportunidade de participar de algumas conversas bem interessantes
sobre David Bowie. Alguns diziam que não entendiam o fato da mostra ter se
concentrado tanto nos figurinos do artista – procurava justificar dizendo que a
essência incomum do tema da mostra residia no fato de que a som e visão
precisam caminhar juntos para que possamos entender a complexidade da arte do
velho camaleão. Outros vinham conversar comigo e não escondiam a surpresa
diante do fato de Bowie ser um artista tão completo. E o melhor de tudo: ganhei
de presente de aniversário o livro-catálogo da mostra David Bowie is... com direito às imagens e textos de especialistas
sobre um dos artistas mais inventivos dos últimos tempos. Minha biblioteca de
música ficou muito mais rica e colorida com o presentaço que ganhei!
Pensei,
no calor de minha inocência daquele rapaz de 19 anos de idade, que iria visitar
o Bowie tantas vezes enquanto ele estivesse no MIS-SP como se fosse uma
Beatlemaníaca que assistir A Hard Day’s
Night ou Help! de oito a dez
vezes. Afinal, para um indivíduo que vive e trabalha na Zona Leste de São
Paulo, uma ida semanal ao Jardim Europa não é algo tão simples de se fazer
quando há tantas responsabilidades rotineiras pela frente (este Blog querido e empoeirado, dentre
elas!). O Museu da Imagem e do Som de São Paulo registrou recordes e mais
recordes de público por causa de David Bowie (foi a segunda mostra mais
visitada em todo o histórico do museu). Até o final desta temporada histórica,
o velho Vinil não vai deixar de assinar o seu modesto nome na lista das
multidões que foram venerar a arte indefectível do Velho Camaleão...
Apesar
de (quase) todo o legado do David Bowie
Archive estar relegado a um “museu de grandes novidades”, o som e a visão
de David Bowie jamais demonstra sinais de envelhecimento! Simplesmente porque
são atemporais e, principalmente, porque previram a beleza e a frieza das
relações humanas em tempos de, como diria Zygmunt Bauman, plena liquidez. No entanto, a densidade de
artistas do quilate de David Robert Jones foram os grandes diferenciais para
que possamos viver o tempo presente com mais encanto e lucidez...
2.º Dia
de Visita
Os
astros gostam de fazer ironias com algumas pessoas e devo confessar que estou
no TOP 10 das pessoas que mais recebem brincadeirinhas deste tipo. Depois de
uma série de encontros e desencontros, lá estava Vinil velho de guerra na fila
para a penúltima noite de exibição da mostra David Bowie Is... Ao contrário dos 40 minutos da primeira visita,
tivemos que esperar um pouco mais de QUATRO HORAS para poder rever David Bowie
em som e visão. Sim, sou louco! Mas não poderia deixar de perder a oportunidade
de rever meu camaleão preferido pela última vez...
Desta
vez, meu foco estava voltado para algumas coisas específicas: queria revisitar
a parte da exposição dedicada aos “Sons de Berlim”, os ternos que Bowie usou
para cantar “Young Americans” e “Life on Mars?” e para encarnar o Thin White Duke, a sala oval que tocava
os vídeos de “Rock ‘n’ Roll Suicide” (com direito a lágrimas que escorriam
livremente) e trechos da turnê Diamond
Dogs em um caleidoscópio de imagens e sons inebriantemente ensurdecedores.
Valeu a pena ficar um pouco mais de 240 minutos em fila esperando por Bowie.
Especialmente porque o MIS-SP, editou um catálogo exclusivo da mostra que
passou por São Paulo que foi adquirido sem pestanejar, além da possibilidade de
poder tirar fotos (sem flash!) dos
manuscritos, figurinos e outros instrumentos que fizeram de David Robert Jones
um dos arautos mais incontestes de toda a história da Arte.
Saí
exausto do Jardim Europa, porém renovado de uma maneira como se tivesse
assistido a David Bowie no Morumbi, no Maracanã, em Wembley ou (por que não
ousar dizer?) na minha sala de estar com toda a beleza que os padrões de alta
definição de imagem e som poderiam me proporcionar. Que adolescente nunca
sonhou com uma experiência de tamanha magnitude? Eu tive, no alto dos meus 33
anos de adolescência...
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