A LIÇÃO DE PLANT
(ou a linha tênue do meu amor e do meu ódio
por Robert Plant)
Já tentei odiar Robert Plant. Não consegui. O motivo? Uma banal
implicância de fã xiita de Led Zeppelin: o fato dele se recusar a cantar os
hits do Zep em uma turnê em parceria com Jimmy Page e/ou em uma possível
reunião com o que sobrou da banda que levou "Black Dog" e
"Stairway to Heaven" para os ouvidos do mundo inteiro...
Minha paixão pela figura e pela arte inconfundível e
indefectível de Robert Anthony Plant vem desde a segunda metade da década de
1990. Enlouqueci com o som dos caras quando fui para a Faculdade de Letras, aos
19 anos de idade: comprei uma cópia usada de No Quarter (a primeira reunião bissexta de Page e Plant) e pirei
com a reunião de guitarras com instrumentos marroquinos, um ensemble egípcio e
uma orquestra inglesa. Tudo isto em um mesmo palco! Era algo muito insólito
para 1994, na mesma época em que Kurt Cobain tinha dado um tiro não apenas em
sua própria cabeça, mas na cachola do movimento grunge, na época em que o Pop precisava se reinventar, em uma era
na qual velhos dinossauros como os Rolling Stones saíam novamente em turnês
mundiais, lotando estádios e varrendo públicos do mundo inteiro. Era uma
tentativa de Jimmy Page de reviver o Led Zeppelin. O guitarrista parcialmente
conseguiu tal façanha ao se reunir com Robert Plant.
2007 trouxe uma novidade considerada impossível para os fãs mais
esperançosos de Led Zeppelin. Page e Plant se uniram a John-Paul Jones e a
Jason Bonham (filho de John, o MAIOR BATERISTA DE ROCK que já existiu em 2000 e
poucos anos depois de Cristo!) para uma única apresentação do Led Zeppelin na
recém-inaugurada 02 Arena, em Londres. O motivo não foi um presente aos fãs,
muito menos um surto de camaradagem ou uma vontade de levantar cifrões por
parte da banda (não podemos afirmar que este seja necessariamente o caso de
Jimmy, mas isto vou deixar para depois...): a verdadeira razão foi uma
homenagem que a banda fez a Ahmet Ertegun, um executivo egípcio que fundou a
Atlantic Records, selo da Warner Music que colocou o Zep no mapa da música
mundial. Por se tratar de um milagre que ocorreria em uma única noite, os
ingressos acabaram em questão de minutos! Para que os que não puderam ter o
privilégio de assistir a esta apresentação histórica, ficamos com o filme desta
noite, que mostra o Led Zeppelin em pleno vapor de sua atividade.
Robert Plant, ao contrário de Jimmy Page, conseguiu reconstruir
sua vida profissional com o fim prematuro do Led Zeppelin. O vocalista
deixou o luto pela morte do baterista John Bonham para trás e saiu em carreira
solo. Fez discos de Pop Rock um tanto interessantes, gravou um disco
maravilhoso e premiado com a cantora country Alison Krauss e, em seus trabalhos
mais recentes, tem flertado com os sons e ritmos com a chamada World
Music. Álbuns como Fate of
Nations e Dreamland ganharam não
apenas o respeito da crítica, como também a admiração do público em geral (não
necessariamente fã do Zep).
Como eu andava de relações cortadas com Plant até recentemente
por causa do fato dele ter esnobado Page e John-Paul Jones em uma possível
reunião da banda, dei umas férias para os seus discos e vídeos disponíveis na
Internet. Graças ao Vio Ray, meu admirado Professor de Canto que compartilhou
um vídeo de Robert Plant no Facebook, refiz as pazes com a obra deste cantor
lendário. É fato que a voz dele não alcança mais aqueles agudos insólitos de
"Black Dog" e "Whole Lotta Love", mas o brilho dos graves e
de alguns agudos continuam. A intensidade das interpretações e o fraseado de
Robert continuam mais fortes do que nunca estiveram. E, no alto de seus
sessenta e poucos anos, Robert ainda arranca suspiros de minha gente...
Poucos dias depois de ver o vídeo de Plant no YouTube (santa Internet!), soube que
havia um disco gravado e que estava para ser lançado. Lullaby... and the Ceaseless Roar, gravado em pareceria com os
Sensational Space Shifters é um tremendo petardo musical: ritmos de matrizes
africanas são justapostos a blues,
rock, bluegrass, folk e (por
quê não dizer?) Pop, resultando em uma
massa sonora densa e de grande complexidade. A voz de Robert Plant continua
trazendo efeitos lancinantes e hipnóticos para aqueles que ainda sentem prazer
em ver um CD na loja, comprá-lo e ouvi-lo no seu PC ou no seu aparelho de som.
Isto sem mencionarmos a capa do álbum, que traz uma concha envolta em um fundo
cinzento e nebuloso. Ouça a Lullaby de
Plant e dos Space Shifters, mas não deixe de apertar os cintos para esta viagem
musical turbulenta.
Lullaby...
and the Ceaseless Roar
foi o motivo necessário para que eu declarasse trégua a Robert Plant. Decidi,
inclusive, jogar fora uma carta imaginária que eu iria enviar à eterna voz do
Led Zeppelin que pensei em postar aqui. Primeiramente: o disco é maravilhoso;
Segundo: porque não senti saudades do Zep (caso eu sinta, posso ver e/ou ouvir Celebration Day no aparelho de som e/ou
no aparelho de DVD); Terceiro e mais importante: porque a beleza da voz de
Plant é atemporal e ele faz questão de olhar para o futuro e não se vangloriar
dos feitos do passado. Afinal, como tudo nesta vida, precisamos olhar para a
frente e não precisamos revirar os baús e arquivos em busca de feitos brilhantes
(certo, Jimmy Page?).
Valeu pela lição, Robert Plant. Queria cantar e/ou compor tão
bem como vc. Se eu tivesse um centésimo do seu talento, eu certamente seria um
músico de verdade... ;-)
5 MOMENTOS SOLO DE ROBERT PLANT QUE NÃO NOS DÃO A MENOR SAUDADE DO LED ZEPPELIN:
1) 29 Palms
2) Sea of Love
3) Song to the Siren
4) If I were a Carpenter
5) I Believe
E não deixe de conferir a participação de Plant no Tonight Show with Jimmy Fallon:
http://consequenceofsound.net/2014/09/led-zeppelins-robert-plant-conquers-jimmy-fallon-with-two-song-performance-watch/
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