UM E-MAIL PARA UMA VOZ INESQUECÍVEL
Em memória de Natalie Cole (1950-2015)
Dear
Natalie Cole,
Meu nome é Vinícius, me chamam de Vini ou Vinnie, por
estas bandas eu sou o Vinil que é dono destas humildes Trovas. Sou apaixonado por versos e sons e mantenho um Blog como
uma maneira de me comunicar com os outros através da nossa tão amada música.
Sou brasileiro, com orgulho ferido e com um amor inabalável pelos sons do meu
país e pela música do mundo, especialmente dos EUA, país que te deu régua e
compasso, tal qual falamos por aqui.
Em meio a tanta gente boa que nos deixou em 2015,
tivemos mais uma baixa lastimável! Você nos deixou discretamente no último
dia do ano, enquanto celebrávamos os 365 dias que iam embora e esperávamos os
366 bissextos que estavam por chegar, vítima de uma hepatite C e de um
transplante de rim, depois de anos e anos de luta contra a doença. O universo
te concedeu apenas 65 anos entre nós. Em um mundo cada vez mais carente de
belas vozes, sua partida tão precoce é muito, muito sentida...
Natalie, eu me lembro de ouvir sua voz lindíssima
quando estava entrando na adolescência, por causa de sua regravação de
"Unforgettable", tema de uma das personagens da novela "O Dono
do Mundo", de Gilberto Braga. Eu devia ter uns 10 anos de idade e fiquei
encantado com aquela melodia tão doce, romântica e adoravelmente nostálgica -
isto lá pelos idos de 1991/1992 era sinônimo de "música de velho"
durante o auge dos movimentos musicais de Seattle. A trilha sonora que ouvíamos
no carro do Rio para Santos, onde meu Pai morou por alguns anos durante o
início da década de 1990, eram as fitas K7 com as trilhas sonoras de novela.
Sua voz, Ms. Cole, estava lá. A de seu pai também. E foi deste jeito que eu fui
iniciado à música de primeiríssima qualidade.
Minha Tia Marlene adorava ouvir a sua voz. Ela
tinha alguns de seus CDs, que volta ouvia quando eu ia visitá-la em seu
apartamento da Tijuca em meados dos anos 1990. Fecho os olhos e ainda me lembro
dos acordes da orquestra tocando "Take a Look" e "Cry Me A
River" ecoando pelos cômodos daquele modesto apartamento. Quando ouço
essas gravações de anos e anos atrás, me aproximo daqueles que não estão mais
aqui para apreciar os clássicos da música. Isso ajuda a amenizar um pouquinho a
velha saudade que temos daqueles que já se foram...
E devo a ti, Natalie Cole, o fato de ter conhecido
a obra de seu Pai, Nat King Cole, um dos maiores gênios da música deste
planeta. Se eu pudesse ter tido um encontro face
to face contigo, eu gostaria de te agradecer pelos três discos belíssimos
nos quais você reverencia o legado de um dos pilares da música norte-americana,
sua referência musical primeira, seu Mestre maior, nossa referência de bom
gosto. Trazer a música de Nat King Cole para os barulhentos anos 1990 e a
nefasta década de 2000 com reverência e respeito é uma tarefa que só poderia
ser executado por uma portadora de um DNA musical, ou seja, pela herdeira
musical de um dos maiores nomes do jazz
norte-americano.
O que eu achava mais encantador nas poucas vezes em
que vi seus shows pela TV ou pelo YouTube
eram a sua elegância e o seu sorriso. Isso sem mencionar a beleza e a extensão
da sua voz. E só fui saber depois da sua partida deste plano que você regravou
Neil Young, Sting e Caetano Veloso, para minha plena surpresa. E graças aos
serviços de streaming, consegui me lembrar da sua regravação de
"Criminal", de Fiona Apple, uma das compositoras de que eu mais gosto
e da qual as pessoas não costumam lembrar muito. E como não esquecer o seu
dueto memorável com Frank Sinatra no primeiro CD Duets, que o artista dono dos olhos azuis mais musicais
do planeta nos ofertou em 1993? Cantar os irmãos Gershwin através da sua voz
aveludada foi um rito de iniciação perfeito para a nata da canção
norte-americana. Devo esta a Sinatra, assim como devo a ti.
Descanse em paz, Natalie Cole! Que os anjos te
recebam cantando tão belamente quanto você cantou para todos nós! E quando este
mundo estiver tão triste e pesaroso de se viver, eu terei o meu pensamento mais
profundo na beleza da sua voz: assim eu terei a certeza mais profunda de que
ainda há beleza nas coisas que fazemos, vivendo em um tipo de sonho. Daqueles
que só uma voz inesquecível sabe nos conduzir, sem ter vontade de acordar...
Unforgettable... With Love (1991) |
Um
beijo musical do seu admirador brasileiro
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