“RIO É AMOR”
(ou “Eu não sei dizer /
nada por dizer”...)
Foto: Nilton Serra |
“Falam de
Paris de LaFrance de L’Amour
Dizendo que
lá tudo é bom
Mas é aqui
que a gente sente
Neste Rio
quente, quente
O verdadeiro
hino do amor.”
(“Rio é Amor”)
“Brasil,
quem te vê e te conhece
Nunca mais
de ti se esquece,
E te traz no
coração”
(“Inspiração”)
(Canções de Bruno Marnet gravadas por Ângela Maria e interpretadas por Ney Matogrosso em seu espetáculo Estava Escrito [1995], em homenagem à
bela Sapoti)
Depois de dez anos longe do Rio de Janeiro, cidade que
me trouxe ao mundo, sempre sinto uma enorme alegria é uma pontinha de tristes
quando faço o caminho do “retorno às origens”. Em primeiro lugar porque a
Cidade Maravilhosa se tornou cada vez mais estranha para mim – apesar de toda a
sua indiscutível beleza; em segundo lugar, porque vejo o Rio em um dos momentos
mais críticos de toda a sua existência.
Foto: Nilton Serra |
A felicidade de poder realizar o lançamento de meu
primeiro livro nesta cidade é algo pelo qual ainda não sei descrever com
exatidão. Poder compartilhar a fina flor do seu trabalho com os meus
conterrâneos e cariocas de coração é simplesmente gratificante. Uma honra. Um
bálsamo. Uma grande realização pessoal. Um desejo realizado. Porém, ao assistir
o noticiário matutino nos informando o andar da carruagem pelos lados de cá, me
deu uma preocupação enorme. Tudo bem que o que está sendo dito por aí era algo
que já constatava pelos jornais e pelas redes sociais dos amigos e conhecidos,
mas ver o discurso na prática foi (e tem sido) bem doloroso.
Foto: Nilton Serra |
A segurança pública nas
ruas é praticamente inexistente – a Polícia anda tão desaparelhada ao ponto de
membros da sociedade se verem obrigados a arrecadar dinheiro para comprar
bicicletas para que os policiais possam ajudar a manter a ordem (isso porque
estamos falando dos bairros mais centralizados). O sistema local de saúde ainda
é o retrato do caos e do descaso dos poderosos com as camadas
mais humildes da população carioca. Vários museus – e boa parte do patrimônio
cultural da antiga Capital Federal – se encontram em um estado digno de pena
enquanto o portentoso e belo Museu do Amanhã expõe as nossas contradições a céu
aberto, ao lado da eternamente imunda Baía de Guanabara. Os servidores públicos
e a Educação se encontram reféns de um Estado moral e financeiramente falido
enquanto muitos se preparam para receber os Jogos Olímpicos de 2016: escolas
ocupadas, servidores em greve e sem perspectivas de reajuste salarial enquanto
muitos se preocupam em saber por onde anda a Tocha Olímpica...
Foto: Nilton Serra |
Em contrapartida, a
ocupação das escolas estaduais e do palácio Gustavo Capanema tem nos
demonstrado que a insatisfação dos cariocas com os rumos que a cidade e o país
vem tomando é bem gritante. Os manifestantes declararam que não pretendem
recuar não for solucionado enquanto o impasse em relação à educação, ao
(brevemente) extinto Ministério da Cultura e ao Governo Federal ilegítimo de
Michel Temer. Em meio ao luxo e ao lixo, aos que possuem muito e aos que mal
conseguem se sustentar com o pouco que têm em mãos, palavras de ordem se
encontram escritas e pichadas por muitos cantos da cidade. O Rio de Janeiro
ainda é sinônimo de amor, apesar de tanto descaso de seus governantes em
relação aos cariocas. Os hinos de amor se apresentam através de protestos
políticos e que pedem mais carinho pela Cidade Maravilhosa amada por tantos...
Foto: Nilton Serra |
Bem, parece que o Cristo Redentor não tem encontrado
muitos motivos para ficar de braços abertos para nós. No entanto, as belezas da
Cidade Maravilhosa estão protegidas pelos artistas eternizados em forma de estátua
– Drummond e Braguinha estão em Copacabana para nos alumiar com a sua
irreverência e sua poesia; Clarice Lispector e Tom Jobim podem ser
(re)encontrados no Leme e em Ipanema para que possamos lhes pedir a bênção e
proteção. Fazer este périplo era uma obrigação para um escritor amador e em
início de carreira como eu.
Nós & Clarice |
Passar um final de semana
prolongado no Rio de Janeiro em um momento tão crítico para lançar um livro
sobre um grupo que é a maior representação de liberdade em forma de música é de uma ironia tremenda. Na verdade
(e digo isso sem a menor pretensão), é algo necessário em meio ao “purgatório da
beleza e do caos” gigantesco que muitos cariocas estão vivendo. Tenho a
esperança de que as canções do Secos & Molhados sejam um alento e um
incentivo não apenas para que a crença na luta por dias melhores ainda esteja
viva, como também possibilite o simples prazer de fazer algo de bom para os
outros...
Foto: Nilton Serra |
PAUSA PARA O
COMERCIAL:
Nosso livro no Moviola Bistrô Foto: Vinícius Rangel |
Se você quiser adquirir o livro “O Doce & O
Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música
brasileira” (Ed. Terceira
Margem), é só entrar em contato comigo por e-mail (vinnieprof@gmail.com) ou
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Lançamento do Livro O Doce & O Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música brasileira no Rio de Janeiro Foto: Nilton Serra |
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