O AMOR EM TEMPOS DE PÓLVORA
“Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá”
(Milton
Nascimento & Caetano Veloso, 1978)
“There
is good and bad in ev'ryone
We
learn to live, we learn to give
Each
other what we need to survive together alive”
(Paul McCartney, 1982)
“Twister
does anyone see through you
You're
a twister, an animal
But
you're so happy now
I
didn't go along with you”
(Dolores O'Riordan & Noel
Hogan, 1995)
Se Gabriel García Márquez
fosse ainda vivo e tivesse que escrever uma crônica sobre o dia 12 de junho de
2016, ele poderia colocar o título do texto que escrevo neste momento sem a
menor sobra de risco. Acordei no dia de hoje com a determinação em escrever
algo sobre o Dia dos Namorados, que é comemorado a cada décimo-segundo dia do
sexto mês do ano. No entanto, meus planos foram mais uma vez por água abaixo.
Fiquei perplexo em
saber que um atirador tinha entrado na Pulse, uma das boates gays mais famosas
de Orlando (FL, EUA) e executou 50 pessoas covardemente, deixando vários
feridos. Motivado por homofobia, incomodado com a possibilidade de poder fazer
justiça de acordo com os seus sentimentos mais perversos, realizou um ato de
pura psicopatia e tirou a vida de dezenas de pessoas que estavam ali para se
divertir, para celebrar o seu amor e o seu orgulho em não ter que se curvar às convenções
e instituições que ainda fiscalizam a vida sexual de cada um.
O que me deixou ainda
mais chocado foi saber que ataques à mão armada como o que ocorreu nos Estados
Unidos vitimam milhares de habitantes. Ou seja, a maioria dos norte-americanos
está completamente acostumada em saber pelos telejornais, por exemplo, de que
facínoras saem com armas em punho todo santo dia motivados por uma série de
motivos escusos (religiosos, especialmente) para matar qualquer indivíduo que
não esteja de acordo com seus princípios antidemocráticos. Nada tão
surpreendente para quem viu e viveu eventos históricos sangrentos como a
fatídica Maratona de Boston, o massacre de San Bernardino, a execução na
Columbine High School, o assassinato de John Lennon por Mark Chapman, o
desaparecimento violento de Martin Luther King e dos irmãos Kennedy, os
famigerados ataques de 11 de setembro de 2001.
É fato público e
notório de que os Estados Unidos da América, obcecados por normas e mais normas
de segurança (vide a burocracia infernal que nós, estrangeiros, enfrentamos ao
adentrar qualquer aeroporto norte-americano), padecem de uma doença social
agudíssima. Para curá-la existe um remédio amargo para alguns e necessário para
todos: o desarmamento do cidadão comum. Enquanto armas continuarem sendo
vendidas a torto e a direito para qualquer um comprar, o sangue de inocentes continuará
a ser derramado em vão.
Lembro de uma
polêmica ocorrida com a cantora norte-americana Sheryl Crow na ocasião do
lançamento de seu segundo álbum, em 1996. Vale lembrar que só a capa do disco já
demonstrava que a mocinha não estava nem um pouco interessada em ser uma pop
star fofa e querida como Alanis Morissette ou Mariah Carey. Em uma das faixas
do disco, “Love is a Good Thing”, disse a bela Sheryl despreocupada com a
opinião de cachorros grandes: “Watch out sister, watch out brother, / Watch our
children while they kill each other / With a gun they bought at Wal-mart
discount stores” [Se liga, irmã; se liga, irmão / Veja nossas crianças matando
umas às outras / Com uma arma que eles compram nas lojas de descontos do Wal-mart].
A resposta dos comerciantes foi o boicote massivo dos CDs da artista de todas
as maneiras possíveis. Por outro lado, o respeito dos fãs por Miss Crow ter
colocado o dedo em uma ferida tão aberta do povo de seu país só aumentou...
Tenho a esperança de
que Sheryl Crow não seja uma voz isolada a cantar a necessidade de atitudes
mais humanas e sensatas. Afinal de contas, amar sem barreiras e distinções em
tempos de pólvora está se tornando uma tarefa praticamente impossível. Creio no
amor como uma maneira de amenizar a cultura do ódio extremista que permeia as
relações dos seres humanos no século XXI. Assim, o amor entre iguais – algo intolerável
para conservadores, fascistas e facínoras de todos os tipos – deixa de ser
visto como uma mera “ditadura da minoria” e passa a ser visto como um direito
adquirido e que merece ser respeitado. Minha voz não soa em vão. Ela há de
encontrar outras para lutar para que mais ninguém seja penalizado por
demonstrarmos o mais puro de nossos sentimentos, Afinal, já diziam os mestres: "qualquer maneira de amor vale a pena"...
Se você se sentir incomodado com estas cenas, recomendamos que você saia à procura de ajuda especializada urgentemente. Homofobia tem cura! Montagem: Ana M. D. Oliveira |
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