12 de junho de 2016

TROVA # 73

O AMOR EM TEMPOS DE PÓLVORA



Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
(Milton Nascimento & Caetano Veloso, 1978)


There is good and bad in ev'ryone
We learn to live, we learn to give
Each other what we need to survive together alive
(Paul McCartney, 1982)


Twister does anyone see through you
You're a twister, an animal
But you're so happy now
I didn't go along with you
(Dolores O'Riordan & Noel Hogan, 1995)


Se Gabriel García Márquez fosse ainda vivo e tivesse que escrever uma crônica sobre o dia 12 de junho de 2016, ele poderia colocar o título do texto que escrevo neste momento sem a menor sobra de risco. Acordei no dia de hoje com a determinação em escrever algo sobre o Dia dos Namorados, que é comemorado a cada décimo-segundo dia do sexto mês do ano. No entanto, meus planos foram mais uma vez por água abaixo.
Fiquei perplexo em saber que um atirador tinha entrado na Pulse, uma das boates gays mais famosas de Orlando (FL, EUA) e executou 50 pessoas covardemente, deixando vários feridos. Motivado por homofobia, incomodado com a possibilidade de poder fazer justiça de acordo com os seus sentimentos mais perversos, realizou um ato de pura psicopatia e tirou a vida de dezenas de pessoas que estavam ali para se divertir, para celebrar o seu amor e o seu orgulho em não ter que se curvar às convenções e instituições que ainda fiscalizam a vida sexual de cada um.


O que me deixou ainda mais chocado foi saber que ataques à mão armada como o que ocorreu nos Estados Unidos vitimam milhares de habitantes. Ou seja, a maioria dos norte-americanos está completamente acostumada em saber pelos telejornais, por exemplo, de que facínoras saem com armas em punho todo santo dia motivados por uma série de motivos escusos (religiosos, especialmente) para matar qualquer indivíduo que não esteja de acordo com seus princípios antidemocráticos. Nada tão surpreendente para quem viu e viveu eventos históricos sangrentos como a fatídica Maratona de Boston, o massacre de San Bernardino, a execução na Columbine High School, o assassinato de John Lennon por Mark Chapman, o desaparecimento violento de Martin Luther King e dos irmãos Kennedy, os famigerados ataques de 11 de setembro de 2001.
É fato público e notório de que os Estados Unidos da América, obcecados por normas e mais normas de segurança (vide a burocracia infernal que nós, estrangeiros, enfrentamos ao adentrar qualquer aeroporto norte-americano), padecem de uma doença social agudíssima. Para curá-la existe um remédio amargo para alguns e necessário para todos: o desarmamento do cidadão comum. Enquanto armas continuarem sendo vendidas a torto e a direito para qualquer um comprar, o sangue de inocentes continuará a ser derramado em vão.


Lembro de uma polêmica ocorrida com a cantora norte-americana Sheryl Crow na ocasião do lançamento de seu segundo álbum, em 1996. Vale lembrar que só a capa do disco já demonstrava que a mocinha não estava nem um pouco interessada em ser uma pop star fofa e querida como Alanis Morissette ou Mariah Carey. Em uma das faixas do disco, “Love is a Good Thing”, disse a bela Sheryl despreocupada com a opinião de cachorros grandes: “Watch out sister, watch out brother, / Watch our children while they kill each other / With a gun they bought at Wal-mart discount stores” [Se liga, irmã; se liga, irmão / Veja nossas crianças matando umas às outras / Com uma arma que eles compram nas lojas de descontos do Wal-mart]. A resposta dos comerciantes foi o boicote massivo dos CDs da artista de todas as maneiras possíveis. Por outro lado, o respeito dos fãs por Miss Crow ter colocado o dedo em uma ferida tão aberta do povo de seu país só aumentou...



Tenho a esperança de que Sheryl Crow não seja uma voz isolada a cantar a necessidade de atitudes mais humanas e sensatas. Afinal de contas, amar sem barreiras e distinções em tempos de pólvora está se tornando uma tarefa praticamente impossível. Creio no amor como uma maneira de amenizar a cultura do ódio extremista que permeia as relações dos seres humanos no século XXI. Assim, o amor entre iguais – algo intolerável para conservadores, fascistas e facínoras de todos os tipos – deixa de ser visto como uma mera “ditadura da minoria” e passa a ser visto como um direito adquirido e que merece ser respeitado. Minha voz não soa em vão. Ela há de encontrar outras para lutar para que mais ninguém seja penalizado por demonstrarmos o mais puro de nossos sentimentos, Afinal, já diziam os mestres: "qualquer maneira de amor vale a pena"...

Se você se sentir incomodado com estas cenas, recomendamos que você saia à procura de ajuda especializada urgentemente. Homofobia tem cura! Montagem: Ana M. D. Oliveira



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