12 de outubro de 2016

DISCOS DE VINIL # 3

NORAH JONES - DAY BREAKS (2016)


Desde o início de sua brilhante carreira, Norah Jones surpreendeu o público. Seu disco de estreia, o hiper premiado Come Away With Me (2002), vendeu milhões de cópias no mundo tudo e conquistou fãs de todas as idades. Em pouco tempo, Ms. Jones foi considerada como uma das mais novas "musas do Jazz", o que não deve ter agradado a mocinha de 20 e poucos anos naquela época. Afinal de contas, tratava-se de uma imensa responsabilidade.
Em 15 anos de carreira, Norah gravou seis discos solo, fez participações especiais em inúmeros projetos, sem contar a quantidade imensa de trabalhos paralelos. No entanto, depois de uma década e meia andando pelo mundo, depois de dois filhos e de muito sucesso, a filha de Ravi Shankar desejou retornar às suas origens musicais, isto é, à sonoridade do Jazz que lhe tornou famosa. O resultado deste esforço é Day Breaks, o sexto álbum solo de Norah Jones, que teve lançamento mundial em 7 de outubro de 2016.


O disco possui 12 faixas, contando com três regravações e nove composições inéditas. Dentre as inéditas, Norah escolheu a balada "Carry On" como primeiro single do CD - o videoclipe mostra a artista tocando piano na cozinha embalando um casal da terceira idade vivendo a plenitude de seu amor e de suas inúmeras lembranças. As outras duas canções escolhidas para divulgar Day Breaks até a data de lançamento foram "Flipside", um jazz rápido e certeiro que me lembrou bastante os números interpretados por Nina Simone, e o belíssimo blues "Tragedy".


As três canções escolhidas de repertórios alheios comprovam o brilho de Day Breaks, mostrando o quanto Norah Jones se destaca como intérprete. "Don't Be Denied", de Neil Young, foi gravada pelo cantor e compositor canadense em 1973 no renegado álbum Time Fades Away, que nunca recebeu uma edição em CD. Norah adaptou alguns trechos da letra não apenas para poder se expressar no feminino, como também para cantar algumas de suas glórias e dores pessoais. "Peace", de Horace Silver, já tinha recebido uma gravação de Jones em 2002 e chegou a figurar entre as faixas bônus de Come Away With Me; no entanto, a releitura de 2016 contou com o apoio luxuoso de músicos do porte de Brian Blade (bateria) e Wayne Shorter (saxofone). São estes mesmos músicos, inclusive, que fazem da versão de "Fleurette Africaine (African Flower)", de Duke Ellington, o momento mais sublime do disco: a filha de Ravi Shankar dedilha o piano e apenas sussurra enquanto Shorter nos transporta para outra dimensão através de seu sax extraordinário.



Dentre as canções inéditas, "Burn" (Norah Jones / Sarah Oda) e a faixa-título (Norah Jones / Peter Remm) me lembram um pouco da Joni Mitchell de Court and Spark (1974) e The Hissing of Summer Lawns (1975). Já "Sleeping Wild", "It's a Wonderful Time for Love" e "Once I Had a Laugh" são três provas que Jazz é o que Norah sabe fazer melhor, apesar dela ter se enveredado muito bem pelo Folk, pelo Rock, pelo Country, pelo Indie e até pela música Pop. É através do piano que a filha de Shankar consegue expressar melhor seus sentimentos em música e despertar o que há de mais sublime e romântico em cada um de nós.



Day Breaks não é apenas o retorno de Norah Jones ao disco depois de quatro anos longe da música. É o retorno de uma das artistas mais bem-sucedidas do século XXI às suas raízes, ao Jazz, e, tomara, ao merecido sucesso.

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