“THANK YOU, BOB!”
(alguns bons motivos para
celebrar o Prêmio Nobel de Literatura de Bob Dylan)
“Come writers and critics
Who prophesize
with your pen
And keep your
eyes wide
The chance won’t
come again
And don’t
speak too soon
For the wheel’s
still in spin
And there’s no
telling who that it’s naming
For the loser
now will be later to win
Cause the
times they are a-changing”
(Bob Dylan, 1963)
Dentre as notícias tristes e
alarmantes que tem surgido em 2016, eis que acordo no dia 13 de outubro com a
surpreendente notícia de que o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura era ninguém
mais, ninguém menos do que Bob Dylan! Fiquei besta com o fato de que a Academia
Real de Ciências da Suécia nunca tinha concedido tamanha honra a um artista da
canção. E ainda mais surpreso de que Dylan concorria com nomes de altíssimo
prestígio literário como o japonês Harumi Murakami, o norte-americano Philip
Roth e a brasileira Lygia Fagundes Telles – para quem eu estava torcendo, visto
que o Brasil nunca tinha sido agraciado com a premiação mais elevada do
circuito literário.
A justificativa da Academia Sueca para
a premiação de Bob Dylan se baseia no fato (justíssimo, aliás!) dele ter criado
“uma nova expressão poética na tradicional canção americana”. Creio que a
genialidade de Dylan vai além disso: ele não apenas é um artista tão
referencial quanto Cole Porter, George Gershwin ou a dupla Rodgers –
Hammerstein; a poética de “Siñor Bob” fez da canção em língua inglesa um verdadeiro objeto de estudo, de
discussões acadêmicas de polêmicas individuais. Sem contar que a influência de
Bob Dylan sob os Beatles, os Rolling Stones, David Bowie e tantos outros é
inquestionável: um novo padrão de compor canções foi estabelecido pelo mentor
destes artistas. Além disto, as duplas Lennon & McCartney e Jagger &
Richards jamais teriam jeito o que fizeram sem ouvirem o que o Sr. Zimmermann
tem dito ao mundo por mais de meio século.
Nascido Robert Allan Zimmermann em 24
de maio de 1941 em Duluth, Minnesota, Bob Dylan abandonou a universidade e
trocou os estudos pela música no início da década de 1960. Gravou cerca de 70
álbuns e já transitou por diversos estilos musicais (Folk, Rock e Standards, dentre eles) em mais de cinco
décadas de atividades. É o único artista do mundo que pode ostentar um Oscar,
um Globo de Ouro, um Pulitzer e agora um Nobel de Literatura. Além de cantor e
compositor, é pintor, ator, roteirista, poeta (sim, gente: ele publicou um
livro de poesias em 1971) e já publicou um livro de memórias – Crônicas:
Volume Um (2004). E continua fazendo discos e turnês no alto dos
seus 75 anos de idade e atraindo multidões para os seus shows. Um feito e tanto
para um artista de sua geração em uma época na qual os mais jovens pouco se
interessam em comprar discos.
Os integrantes da Academia Sueca
compararam a poética de Bob Dylan ao legado de Homero e Safo. A justificativa
do comitê julgador foi clara e direta: se a Literatura da antiguidade era, na
verdade, feita para ser cantada, se
os trovadores da Idade Média faziam poesia para ser entoada através do
acompanhamento musical, qual é a razão para não reconhecer o legado do maior
trovador moderno vivo? O fato dele não ter escrito romances ou mais livros de
poesia? O fato dele sempre ter sido um ídolo das massas e não um queridinho das
elites intelectuais? Ou o fato de Dylan não se assemelhar à figura empoeirada
de um intelectual?
A turma de críticos ao ganhador do
Prêmio Nobel de Literatura de 2016 se fez presente logo depois do anúncio
oficial da Academia Sueca. Os chatos
acharam um absurdo a hipervalorização de um músico “entediante”. Já os pernósticos de plantão ficaram
indignados com a premiação de um “artista do Rock” com o maior prêmio literário
que poderia ser concedido a alguém.
Os chatos
de galocha desprezam Dylan por causa de voz roufenha, antimusical e de
difícil apelo popular. Apesar de reconhecerem seu indiscutível talento, acham suas
canções longas demais e nada indies,
ou seja, Bob Dylan pode até ser respeitado pelo vasto e consistente “conjunto
da obra”, mas não é cool como Leonard
Cohen, David Bowie, Iggy Pop ou o Radiohead. Nesta ala ainda há os “protecionistas
da canção brasileira” que lamentam o fato de que talentos nossos do porte de
Chico, Caetano, Gil e Milton (para não citar outros!) jamais seriam agraciados
com um Nobel de Literatura pelo infortúnio irremediável de terem nascido
brasileiros.
A turminha dos pernósticos acadêmicos, por sua vez, ficou enraivecida com o fato
de Bob Dylan estar ao lado de nomes “sagrados” da Literatura Mundial como
Gabriel García-Márquez, Dario Fo, Nadime Gordimer, Samuel Beckett, Alice Munro,
Jean-Paul Sartre, José Saramago, Harold Pinter, Mario Vargas-Llosa, J.M.
Coetzee, Toni Morrison e Pablo Neruda. Violeiro maconheiro comunista
abocanhando o Nobel? E ainda sem ter escrito um romance, ensaio ou peça de
teatro? Sem ter supostamente produzido uma linha sequer de literatura?
Os coleguinhas pernósticos se esquecem
(ou se recusam a entender) que o gênero lírico é composto não apenas da poesia
publicada nos livros (palavra escrita),
como também daquela que está impressa nos encartes dos discos e é cantada pelo
poeta da canção e de outros milhares que o acompanham (palavra cantada). Já os chatos de galocha desvelam o preconceito
contra a voz de Bob Dylan e desconsideram a obra monumental construída por ele
e que não se encaixa em nenhum dos padrões comerciais. Afinal de contas, como
classificar um épico de oito minutos sobre um lendário lutador de boxe?
O prêmio de Dylan é a prova cabal de
que a poética da canção deve ser
definitivamente reconhecida com a mesma qualidade literária de romances,
ensaios, poemas e peças teatrais. Que Mr. Zimmermann seja apenas o primeiro
músico a obter a honra máxima do universo literário; assim, o preconceito e a arrogância
dos que hoje se levantam contra o ganhador do Nobel de Literatura ficará
restrita a círculos elitistas ou aos arquivos da história.
No final da gravação que os Rolling
Stones fizeram para a “Like a Rolling Stone” que está no álbum Stripped (1995), ouve-se a voz de Keith
Richards dizendo: “THANK YOU, BOB!”. E eu as repito com um complemento: “Thank
you, Bob! No one desserves a Nobel Prize more than you do”...
DYLAN’S TOP 10:
1)
Like
a Rolling Stone
2) Blowing
in the Wind
3)
Subterranean
Homesick Blues
4)
Hurricane
5)
Lay,
Lady Lay
6)
Positively
4th Street
7)
Knockin’
on Heaven’s Door
8)
Forever
Young
9)
Jokerman
10) A Hard Rain’s A-Gonna Fall
10 RELEITURAS DE DYLAN:
1) The
Rolling Stones – Like a Rolling Stone
2) Blake Mills & Danielle Haim – Heart of Mine
3) Simply
Red – Positively 4th Street
4) Bryan
Ferry – A Hard Rain’s A-Gonna Fall
5) Gal
Costa – Negro Amor [It’s All Over Now, Baby Blue]
6) Sheryl
Crow – Mississippi
7) Phil
Collins – The Times They Are A-Changin'
8) Guns
‘n’ Roses – Knockin’ on Heaven’s Door
9) The
Pretenders – Forever Young
LINKS:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário!