LADY SHARON
Em memória de Sharon
Jones (1956-2016)
"Music is my happiness, my joy, and when my body wasn't right I couldn't get into my music without being healed, without being healthy."
(Sharon Jones)
Nunca escondi minha predileção pelos artistas negros. Não
apenas por eles carregarem anos e anos de experiência, luta e sofrimento no
canto, como também pelo fato de que a extensão vocal deles coloca muito
branquelo no chinelo. Se você canta "bem", você canta como uma lenda
do Jazz, do Blues ou do Soul, estilos
musicais inventados e reinventados por ex-escravos.
Sharon Lafaye Jones, mais conhecida como Sharon Jones, foi
uma lenda do canto. Antes de ter sido consagrada como artista, trabalhou como
agente penitenciária em um presídio nos EUA. Aprendeu a cantar na velha e
infalível "escola" de 11 entre 10 negros na terra do Tio Sam: nas
igrejas! Cantava Soul. Lançou seu
primeiro disco depois de completar 40 anos de idade.
Sharon era um monstro em cima do palco: cantava, grunhia,
dançava (sozinha ou com os fãs que chamava ao palco), se chacoalhava ao som do Soul que cantava e respirava. Herdeira
de Aretha Franklin e tinha influência descaradíssima de Tina Turner. Cantava
com uma energia e atitude impressionantes, colocando muita menininha Pop Star de 20 e poucos anos no
chinelão. Ao saber que tinha um câncer pancreático e que a luta seria longa e
difícil, Sharon Jones passou a levar a máxima "faça este show como se
fosse o último" ao pé da letra.
Conheci o som de Ms. Jones à frente dos The Dap-Kings na
época do lançamento do quarto disco deles: I Learned the Hard Way (2010). Graças ao Pequenos Clássicos Perdidos de Fábio
Bridges, este verdadeiro agitador cultural das searas internéticas, pude ter a
oportunidade de conhecer melhor o trabalho do grupo que acompanhou Amy
Winehouse em Back to Black (2006). Mark Ronson, que não era nem bobo nem
nada, viu o excelentíssimo conjunto de apoio de Sharon Jones como o trampolim
perfeito de Amy para o sucesso. "Rehab", "Wake up Alone" e
"You Know I'm no Good" não teriam sido os hits que foram sem aqueles músicos tão brilhantes. E, arrisco
dizer, a influência de Lady Sharon teve um peso marcante: o que era retrô se
tornou vintage...
Sharon nos deixou em 18 de novembro de 2016, aos 60 anos de
idade. Em plena atividade, em constante ebulição, em um momento no qual o mundo
carece de vozes fortes e marcantes em um mundo cada vez mais caduco e
conservador, ouvir a Soul Music de
Sharon Jones & The Dap-Kings não é apenas ouvir música de qualidade, é
também um ato político: diante da onda reacionária e racista que cresce a olhos
vistos, é uma cantora de enorme representatividade para os negros, para as
minorias e para aqueles que ainda de importam com princípios humanitários e
expressões artísticas de tamanha autenticidade.
Descanse em paz, Lady Sharon! Muito obrigado por ter lutado
até o fim! O mundo sentirá muito a sua falta...
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