19 de fevereiro de 2017

TROVA # 112

TEMPESTADES & FORTALEZAS


Para Ciça Carvalho, uma das fortalezas que me inspiram

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
(Clarice Lispector)


         Desde que a vida começou a me ensinar as lições mais amargas da existência que eu ouço o velho e surrado ditado: “Após a tempestade, vem a bonança”. Apesar de sempre carregar uma pontinha de otimismo dentro de mim, sempre odiei chuvas – as verdadeiras e as simbólicas. O desconforto se sente no corpo e na alma, todavia só construímos nossas fortalezas depois de muitas crises e sem direito a sombrinha ou guarda-chuva para nos reconfortar.


  Tempestades são cursos intensivos de aprendizagem e autoconhecimento, pois nos ensinam a juntar os cacos de mundos que são desfeitos com a agressividade do vento e dos raios. Tempestades nos fazem aprender sobre a importância da dor e do sofrimento para cada um de nós. Tempestades são dolorosamente necessárias, pois são instrumentos de amadurecimento.


        As intempéries doem simplesmente pelo fato de que não possuem tempo determinado para acabar: podem durar minutos, horas, dias, anos ou uma vida inteira. No entanto, sempre haverá o momento no qual o frio passa e o céu se abre para que tudo se renove, se transforme e novos caminhos se abram. Nem sempre as trilhas são lógicas. As trilhas nunca são em linha reta. Porém, elas nunca falham. E, por isso, devemos sempre agradecer aos astros por cada coisa boa e ruim que nos acontece.


   Sempre me julguei uma pessoa forte. No entanto, ao tomar conhecimento da vida de uma de minhas amigas, concluí de que preciso de muito arroz, feijão e experiência de vida para ter metade da força que ela tem. Minha amiga é uma verdadeira fortaleza: sempre disposta a superar seus próprios limites, é corajosa, determinada, guerreira e dona de uma gargalhada inconfundível. Mãe coragem, profissional dedicada e sempre aberta ao aprendizado. Vítima do mal que assola milhares de brasileiras, foi vítima de violência de um antigo companheiro. Tem expiado a dor e a decepção se mostrando ainda mais forte por dentro, mesmo que fragilíssima por fora e sem se esquecer de seu belo sorriso. E ainda consegue tempo para participar de uma bateria de um bloco de Carnaval.


       Já que falei de festividades, os dias de fevereiro são geralmente de bastante celebração por causa do Carnaval que arrasta milhões de pessoas para as ruas de todo o Brasil. Ótima oportunidade não apenas para deixar nossos dilemas de lado, como também é um momento e tanto para exorcizar nossos demônios e protestar contra o que existe de mais torto em matéria de política neste país. E, em meio ao calor acachapante do verão brasileiro, a chuva que cai nas nossas costas é sinal de refresco e de purificação.



   Este Vinícius que vos escreve, hoje tão avesso aos excessos carnavalescos (calor e muita gente não me fazem bem!), pede ao Rei Momo para que muitas pessoas se animem a pular, dançar e cantar o Carnaval a São Pedro para que muita chuva seja enviada para as terras de cá. Afinal de contas, promessas de vida são precisas para que as fortalezas humanas floresçam e resistam diante das tempestades que vem por aí...    


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