TEMPESTADES
& FORTALEZAS
Para Ciça Carvalho, uma das fortalezas que me inspiram
“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”
“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”
(Clarice Lispector)
Desde que a vida começou a me ensinar
as lições mais amargas da existência que eu ouço o velho e surrado ditado: “Após
a tempestade, vem a bonança”. Apesar de sempre carregar uma pontinha de
otimismo dentro de mim, sempre odiei chuvas – as verdadeiras e as simbólicas. O
desconforto se sente no corpo e na alma, todavia só construímos nossas
fortalezas depois de muitas crises e sem direito a sombrinha ou guarda-chuva
para nos reconfortar.
Tempestades são cursos intensivos de
aprendizagem e autoconhecimento, pois nos ensinam a juntar os cacos de mundos
que são desfeitos com a agressividade do vento e dos raios. Tempestades nos
fazem aprender sobre a importância da dor e do sofrimento para cada um de nós. Tempestades
são dolorosamente necessárias, pois são instrumentos de amadurecimento.
As intempéries doem simplesmente pelo
fato de que não possuem tempo determinado para acabar: podem durar minutos,
horas, dias, anos ou uma vida inteira. No entanto, sempre haverá o momento no
qual o frio passa e o céu se abre para que tudo se renove, se transforme e
novos caminhos se abram. Nem sempre as trilhas são lógicas. As trilhas nunca são
em linha reta. Porém, elas nunca falham. E, por isso, devemos sempre agradecer
aos astros por cada coisa boa e ruim que nos acontece.
Sempre me julguei uma pessoa forte. No entanto,
ao tomar conhecimento da vida de uma de minhas amigas, concluí de que preciso
de muito arroz, feijão e experiência de vida para ter metade da força que ela
tem. Minha amiga é uma verdadeira fortaleza: sempre disposta a superar seus
próprios limites, é corajosa, determinada, guerreira e dona de uma gargalhada
inconfundível. Mãe coragem, profissional dedicada e sempre aberta ao
aprendizado. Vítima do mal que assola milhares de brasileiras, foi vítima de violência
de um antigo companheiro. Tem expiado a dor e a decepção se mostrando ainda
mais forte por dentro, mesmo que fragilíssima por fora e sem se esquecer de seu
belo sorriso. E ainda consegue tempo para participar de uma bateria de um bloco
de Carnaval.
Já que falei de festividades, os dias
de fevereiro são geralmente de bastante celebração por causa do Carnaval que
arrasta milhões de pessoas para as ruas de todo o Brasil. Ótima oportunidade
não apenas para deixar nossos dilemas de lado, como também é um momento e tanto
para exorcizar nossos demônios e protestar contra o que existe de mais torto em
matéria de política neste país. E, em meio ao calor acachapante do verão
brasileiro, a chuva que cai nas nossas costas é sinal de refresco e de
purificação.
Este Vinícius que vos escreve, hoje tão
avesso aos excessos carnavalescos (calor e muita gente não me fazem bem!), pede
ao Rei Momo para que muitas pessoas se animem a pular, dançar e cantar o Carnaval
a São Pedro para que muita chuva seja enviada para as terras de cá. Afinal de
contas, promessas de vida são precisas para que as fortalezas humanas floresçam
e resistam diante das tempestades que vem por aí...
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