1 de abril de 2017

DISCOS DE VINIL # 25

STEVIE WONDER – TALKING BOOK (1972)



 Em um de seus maiores hits, “Sir Duke” (1976), Stevie Wonder já definia que ‘a música é um universo com uma linguagem própria que todos nós entendemos e que nos proporciona oportunidades iguais para que todos possam cantar, dançar e bater palmas’. O primeiro álbum em que o ‘Mr. Maravilha’ conseguiu tamanha façanha foi com o álbum Talking Book, lançado em 1972.


O ‘livro falante’ de Stevie foi o primeiro álbum que levou uma das revelações mais duradouras da Motown para o topo das paradas da Billboard e lhe garantiu nada mais, nada menos do que TRÊS prêmios Grammy no início de 1974. Além disso, Talking Book é o segundo que compõe uma série de cinco álbuns da chamada ‘fase clássica’ da carreira de Wonder – o último álbum desta série é o magistral Songs in The Key of Life, de 1976.


1972 foi um ano e tanto para Stevie Wonder. Depois de lançar o antecessor deste clássico, Music of my mind, Little Stevie foi chamado para abrir os shows da turnê norte-americana dos Rolling Stones com a turnê norte-americana de Exile on Main Street, lançado naquele mesmo ano. O jovem artista, naqueles idos, tinha um poder de fogo tão intenso no palco e no disco que chegava a deixar Mick Jagger e seus companheiros de trupe em polvorosa antes de subir aos palcos dos EUA. Ao final da vitoriosa turnê com os Stones, Talking Book vinha a público com várias canções que integravam os shows daquelas apresentações memoráveis.


Neste disco, Stevie finalmente conseguiu a liberdade artística que tanto almejara em pouco mais de 10 anos de carreira. A sonoridade deste trabalho está pautada nos teclados (sintetizadores Arp e Moog, Fender Rhodes, Hohner Clavinet e outras parafernálias elétricas) do ‘Mr. Maravilha’ – uma novidade em seus trabalhos até então – e tem como resultado canções memoráveis como as baladas “You and I”, “Blame it on The Sun” e “I Believe (When I Fall in Love it will be Forever)”, os funks “Maybe Your Baby” e “Tuesday Heartbreak” e as obras-primas “You Are The Sunshine of My Life” e “Superstition”. E, dentre os músicos convidados havia uma lista bastante curiosa para os mais puristas: Jeff Beck e Ray Parker, Jr. nas guitarras e o sax de David Sanborn.


Por outro lado, Wonder escrevia e/ou cantava letras bem contundentes para aquele período – o artista pensou seriamente em largar a carreira como uma espécie de protesto aos abusos da política norte-americana em meados da década de 1970. Em “Blame it on the sun” perguntava, por exemplo, ‘Quem tinha derramado o amor? / Quem tornou esta dúvida amarga? / A paz não está aqui para que eu a veja?’ – uma alusão direta aos EUA que ainda viviam em tempos de guerra com o Vietnã; Já “Big Brother” atualizava o sistema tão bem descrito por George Orwell em 1984 para aqueles dias sombrios de 1972 ao retratar um ‘Grande Irmão’ cansado de ver um joão-ninguém, saído das ruas do gueto, protestando na TV enquanto crianças morriam todos os dias a olhos vistos em meio a líderes mortos. Sim, em meio a versos de amor e a grooves irrepreensíveis, Little Stevie ainda encontrava espaço para protestar contra o mundo de 1972.


A partir deste disco, Stevie Wonder passou a ser definitivamente apreciado por públicos de todas as cores, tendências e faixas etárias. Isto se deve não apenas ao fato de 1972 ter sido um ano altamente inspirador para um dos maiores artistas já revelados pela Motown, como também para a música do planeta. O ‘livro falante’ de ‘Mr. Maravilha’ é um esforço do amor que Stevie sempre nutriu pela música e pelo universo. A nota escrita por ele para o disco dizia: ‘Aqui está minha música. É tudo o que eu tenho a dizer a respeito de como eu me sinto. Saibam que é o amor de vocês que mantém meu amor forte.’



São estas e outras palavras que fazem de Talking Book um clássico da música mundial! Ouça o livro, leia o disco! Garanto que os seus olhos e ouvidos não sairão ilesos desta experiência!

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