STEVIE WONDER – TALKING BOOK
(1972)
Em um de seus maiores hits, “Sir Duke” (1976), Stevie Wonder já
definia que ‘a música é um universo com uma linguagem própria que todos nós
entendemos e que nos proporciona oportunidades iguais para que todos possam
cantar, dançar e bater palmas’. O primeiro álbum em que o ‘Mr. Maravilha’
conseguiu tamanha façanha foi com o álbum Talking Book, lançado em 1972.
O ‘livro falante’ de Stevie foi o primeiro álbum que levou uma
das revelações mais duradouras da Motown para o topo das paradas da Billboard e lhe garantiu nada mais, nada
menos do que TRÊS prêmios Grammy no início de 1974. Além disso, Talking Book é o segundo que compõe uma série de cinco álbuns da chamada
‘fase clássica’ da carreira de Wonder – o último álbum desta série é o
magistral Songs
in The Key of Life, de
1976.
1972 foi um ano e tanto para Stevie Wonder. Depois de lançar o
antecessor deste clássico, Music of my mind, Little Stevie
foi chamado para abrir os shows da turnê norte-americana dos Rolling Stones com
a turnê norte-americana de Exile on Main
Street, lançado naquele mesmo ano. O
jovem artista, naqueles idos, tinha um poder de fogo tão intenso no palco e no
disco que chegava a deixar Mick Jagger e seus companheiros de trupe em
polvorosa antes de subir aos palcos dos EUA. Ao final da vitoriosa turnê com os
Stones, Talking Book vinha a público com várias canções que integravam os
shows daquelas apresentações memoráveis.
Neste disco, Stevie finalmente conseguiu a liberdade artística
que tanto almejara em pouco mais de 10 anos de carreira. A sonoridade deste
trabalho está pautada nos teclados (sintetizadores Arp e Moog, Fender Rhodes,
Hohner Clavinet e outras parafernálias elétricas) do ‘Mr. Maravilha’ – uma
novidade em seus trabalhos até então – e tem como resultado canções memoráveis
como as baladas “You and I”, “Blame it on The Sun” e “I Believe (When I Fall in
Love it will be Forever)”, os funks “Maybe Your Baby” e “Tuesday Heartbreak” e
as obras-primas “You Are The Sunshine of My Life” e “Superstition”. E, dentre
os músicos convidados havia uma lista bastante curiosa para os mais puristas:
Jeff Beck e Ray Parker, Jr. nas guitarras e o sax de David Sanborn.
Por outro lado, Wonder escrevia e/ou cantava letras bem
contundentes para aquele período – o artista pensou seriamente em largar a
carreira como uma espécie de protesto aos abusos da política norte-americana em
meados da década de 1970. Em “Blame it on the sun” perguntava, por exemplo,
‘Quem tinha derramado o amor? / Quem tornou esta dúvida amarga? / A paz não
está aqui para que eu a veja?’ – uma alusão direta aos EUA que ainda viviam em
tempos de guerra com o Vietnã; Já “Big Brother” atualizava o sistema tão bem
descrito por George Orwell em 1984
para aqueles dias sombrios de 1972 ao retratar um ‘Grande Irmão’ cansado de ver
um joão-ninguém, saído das ruas do gueto, protestando na TV enquanto crianças
morriam todos os dias a olhos vistos em meio a líderes mortos. Sim, em meio a
versos de amor e a grooves
irrepreensíveis, Little Stevie ainda encontrava espaço para protestar contra o
mundo de 1972.
A partir deste disco, Stevie Wonder passou a ser definitivamente
apreciado por públicos de todas as cores, tendências e faixas etárias. Isto se
deve não apenas ao fato de 1972 ter sido um ano altamente inspirador para um
dos maiores artistas já revelados pela Motown, como também para a música do
planeta. O ‘livro falante’ de ‘Mr. Maravilha’ é um esforço do amor que Stevie
sempre nutriu pela música e pelo universo. A nota escrita por ele para o disco
dizia: ‘Aqui está minha música. É tudo o que eu tenho a dizer a respeito de
como eu me sinto. Saibam que é o amor de vocês que mantém meu amor forte.’
São estas e outras palavras que fazem de Talking Book um clássico da música mundial! Ouça o livro, leia o disco!
Garanto que os seus olhos e ouvidos não sairão ilesos desta experiência!
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