O
INCÊNDIO DOS VAGABUNDOS
“Workers
can you stand it?
Oh, tell me how you can
Will you be a lousy scab
or will you be a man?
Which side are you on boys?
Which side are you on?
Don't scab for the bosses
Don't listen to their lies
Poor folks ain't got a chance
Unless they organize
Which side are you on boys?
Which side are
you on?”
(Florence Reece na voz de Natalie Merchant, 2003)
“Fogo, fogo, fogo, água
Incêndio nas ruas
bomba, bomba,
bomba, praça
Vielas, ratos,
figuras, nuas
Plástico, jornal,
rajada
Contagem, atraso
Pânico, pulseira,
brinco, colar
Carteira, rádio,
anel, sacola
Incêndio nas ruas
Incêndio nas ruas
Incêndio nas ruas
Incêndio nas ruas”
(Pedro Luís na voz de Ney Matogrosso, 2013)
Quer queira,
quer não, o Brasil parou no dia 28 de abril de 2017. A greve geral,
originalmente convocada pelas centrais sindicais, teve a adesão de professores
das redes pública e privada, metroviários, condutores e cobradores de ônibus e
outros grupos de trabalhadores. O GAFE tentou desqualificar e descaracterizar o
movimento através de uma cobertura jornalística parcial e descaradamente
tendenciosa. O alto empresariado, as elites e os pobres de direita se sentiram
aviltados por terem tido o seu direito de ir e vir abalado por “baderneiros
defensores do Lula”. A classe política governista minimizou os protestos, mas
se manteve em pânico ao constatar que aproximadamente 35 milhões de brasileiros
literalmente cruzaram os braços.
Para mim, a fala mais estarrecedora sobre a greve geral foi
a do Prefeito de São Paulo e de um de seus subprefeitos. Ambos qualificaram os
manifestantes de “vagabundos”, alegando que sexta-feira é dia de trabalho, ameaçaram
os servidores públicos municipais e cortaram o ponto dos funcionários que não
compareceram aos seus postos de trabalho naquele dia. Exemplo este seguido pelo
Presidente da República, Michel Temer, em relação aos funcionários públicos
federais, cujo dia também foi descontado – afinal de contas, o melhor dia para
realizar uma greve deveria ser o domingo, pois, assim, não atrapalha o direito
alheio de ir e voltar para onde desejasse. O povo lhes informou, sem o menor
pesar, de que domingo é o dia das elites protestarem; a classe trabalhadora
batalha por seus direitos durante a semana mesmo.
No entanto, a mais genuína prova de vagabundagem não vem
daqueles que cruzaram os braços e foram às ruas protestar contra as reformas
trabalhista e previdenciária propostas pelo Governo Temer: os verdadeiros
desocupados são os representantes da elite e do empresariado, donos das grandes
corporações que devem bilhões de reais à Previdência Social e demais órgãos
oficiais ao sonegarem encargos e tributos que resolveriam os problemas econômicos
do país em um estalar de dedos. A ganância, a arrogância, a avareza e a
hipocrisia destas pessoas nos obrigam a pagar taxas cada vez mais exorbitantes,
pois elas se recusam em dividir as fortunas e os lucros de seus dividendos com
o restante da sociedade. Com isso, a paciência dos contribuintes é carcomida e
incendiada pelo cinismo de fazer inveja ao próprio Tio Patinhas.
Os 4% de aprovação de Temer na Presidência da República
evidenciam que o povo está farto da hipocrisia e da ganância de uma classe
política que tem feito pouquíssimo para solucionar as questões endêmicas do
Brasil. Some-se a este caldeirão fumegante 14 milhões de desempregados e uma
grande mídia irresponsável e tendenciosa, a quem “carinhosamente” chamamos de
GAFE. A revolta das pessoas nas ruas e nas redes sociais protestando,
atravancando vias públicas e proferindo palavras de ordem para quem quiser
ouvir é genuína, pois só a classe trabalhadora sabe o preço e a dor da ausência
de direitos trabalhistas. Por outro lado, a reação dos policiais diante dos
protestos (não-)pacíficos foi agressiva e truculenta, como sempre: milhares de
cassetetes em riste, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo foram
utilizados para reprimir os manifestantes de maneira vil e covarde.
A imprensa estrangeira, ao contrário do GAFE, não escondeu a
greve geral para debaixo do tapete dos fatos e acontecimentos do dia. A
comunidade internacional tomou conhecimento não apenas da crise política que
tem assolado o Brasil há anos, como também da revolta dos “vagabundos” que incendiaram
as principais ruas, estradas e avenidas do Brasil. Afinal, ainda persiste a
esperança de que o incêndio promovido pelo povo seja uma resposta à altura do
retrocesso pelo qual ele passa e sente na pele.
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