10 de agosto de 2017

DISCOS DE VINIL # 37

JONI MITCHELL – COURT AND SPARK (1974)


1969 foi o ano que colocou Joni Micthell no mapa da música do planeta ao gravar seu segundo disco solo, o minimalista Clouds. Dois anos depois, Blue dava à autora de “Both Sides, Now!” o reconhecimento perante a crítica especializada. Dois anos depois, a bela loura de cabelos longos era uma cantora e compositora famosa, aclamada e reconhecida pela crítica e, apesar de cult, não era absurdamente popular.
No decorrer de 1973, Joni Mitchell estava em busca de novos rumos para a sua música: cansada das amarras da Folk Music, decidiu buscar no Rock, no Jazz e no próprio Folk a gênese para o seu sexto projeto fonográfico. Decidiu ouvir músicos de Jazz de primeira linha – em uma noite foi ouvir o conjunto LA Express ao vivo e se encantou com a sonoridade do baterista John Guerin e seus companheiros de palco. Guerin, um purista do Jazz, chegou a torcer o nariz para Joni em um primeiro momento para logo reconhecer o talento indiscutível da mocinha, de quem se enamorou tempos depois.

John Guerin & Joni Mitchell

Em Janeiro de 1974, Joni lançou o disco mais importante de toda a sua obra: Court and Spark não só agradou a crítica, como também foi seu o disco mais vendido de toda a sua carreira e considerado um dos melhores álbuns daquele ano. “Help Me” e “Free Man in Paris” se tornaram em sucessos radiofônicos instantâneos. A mistura bem dosada de estilos musicais foi o grande fator que fez com que a obra de Joni Mitchell fosse de encontro com o grande público. Logo em seguida, a canadense saiu em turnê com os músicos do LA Express, o que resultou em Miles of Aisles, um belo registro da passagem da tour por Los Angeles.



No entanto, enganam-se aqueles que acreditaram que os versos de Joni se tornaram açucarados para conquistar o apreço da crítica e do público. Na verdade, sua poética de nunca estivera tão ácida e crítica como naqueles tempos. Na faixa-título, ao falar sobre o amor e à impossibilidade de escapar das tentações do mundo material (Los Angeles), dizia Joni: “His eyes were the color of the sand / And the sea / And the more he talked to me / The more he reached me / But I couldn’t let go of L.A. / City of the fallen angels”.


Em “Free Man in Paris”, ao criar um personagem-narrador baseado no executivo da indústria fonográfica David Geffen, Joni Mitchell filosofava, sarcasticamente: “The way I see it he said / You just can’t win it / Everybody’s in it for their own gain / You can’t please ’em all / There’s always somebody calling you down / I do my best / And I do good business / There’s a lot of people asking for my time / They’re trying to get ahead / They’re trying to be a good friend of mine”.


Por fim, em “Trouble Child”, Mitchell dispara, sem a menor dó: “Well some are going to knock you / And some’ll try to clock you / You know it’s really hard / To talk sense to you / Trouble child /Breaking like the waves at Malibu”. O universo que se desvela através de cada uma das 11 canções do disco (10 de autoria de Joni, 1 cover) é composto de um certo pessimismo, de certeira desilusão perante as pessoas e o mundo e de a única solução restante é rir diante dos problemas e das adversidades – o cover de “Twisted” e a interpretação esquizofrênica de Joni para a composição de Annie Ross, Dave Lambert e Jon Hendricks dá a impressão de que a única coisa que nos resta é dar uma boa risada diante do caos iminente. Afinal, é melhor optar pelo riso sarcástico e crítico do que pelo choro desesperado que não acrescentaria nada ao nosso sofrer…


O lendário grupo L.A. Express, que acompanhou Joni em sua turnê de 1974

Vale um parágrafo com uma menção honrosa para o time de músicos primorosos reunidos por Joni Mitchell neste disco: além do talento indiscutível de John Guerin à frente da bateria e da percussão, Tom Scott ficou responsável por todos os sopros, Wilton Felder tocou baixo, Larry Carlton ficou com a guitarra elétrica, Joe Sample tocou o piano elétrico em “Raised on Robbery”, David Crosby fez backing vocais em “Free Man in Paris” e “Down to You”, Graham Nash também fez os seus backing vocais em “Free Man in Paris”, os guitarristas Wayne Perkins e Robbie Robertson fizeram participações especiais em “Car on a Hill” e “Raised on Robbery” e a própria Joni Mitchell fez boa parte das vozes, tocou violão, piano e o clavinet da faixa “Down to You”, além de outros músicos. Além disto, Mitchell dividiu a produção do disco com o engenheiro de som Henry Lewy, seu parceiro em vários de seus projetos no decorrer da década de 1970.


Graças a Court and Spark, Joni Mitchell finalmente se tornou uma unanimidade de toda a crítica especializada e da maioria do público. Dentre os famosos que se tornaram fãs incondicionais de seu trabalho está o guitarrista Jimmy Page, que disse, certa vez, que se emocionava ao ouvir o trabalho de Joni. No entanto, a própria artista contou um fato interessantíssimo que resolvemos compartilhar por aqui: quando resolveu tocar o disco recém-finalizado para ninguém menos que Bob Dylan, o autor de “Like a Rolling Stone” literalmente caiu no sono durante a audição do álbum, o que deve ter deixado David Geffen enfurecido.



O velho ranheta Dylan não deve ter achado o álbum uma obra-prima, mas o apreço do público e da crítica pelo disco fizeram de Court and Spark um dos discos essenciais em qualquer coleção de discos em língua inglesa…


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