SECOS &
MOLHADOS – SECOS & MOLHADOS
(1974)
Nos primeiros meses de 1974, a maior
sensação musical do Brasil se resumia a um nome: o grupo Secos & Molhados. Graças
a um disco de estreia extraordinário, apresentações ao vivo empolgantes e uma necessidade
de muitos brasileiros em ouvir uma expressão de liberdade em meio à repressão
política e moral imposta pela ditadura militar, Gerson Conrad, João Ricardo e
Ney Matogrosso se tornaram extremamente populares em todo o país.
Em janeiro de 1974, o Secos &
Molhados retornava de maneira triunfal a um dos palcos mais emblemáticos da
história da música brasileira: o Teatro Thereza Rachel, o mesmo local no qual
Gal Costa realizara um de seus espetáculos mais inesquecíveis em toda a sua
carreira – FaTal: Gal a Todo Vapor. O rebuliço em torno de Ney Matogrosso era
tão grande naquela época que havia uma censora que o acompanhava desde a sua
chegada ao local até o fim de cada apresentação.
Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad |
No entanto, nenhum evento foi tão
marcante para a trajetória do Secos & Molhados do que o dia 23 de fevereiro
de 1974. Até aquele momento, nenhuma atração musical nacional (salvo os
Festivais da Canção) tinha conseguido lotar o Ginásio do Maracanãzinho. A popularidade
do S&M era tão expressiva que lotou a capacidade do local e ainda deixou
milhares de fãs desesperados do lado de fora.
O Secos & Molhados no Ginásio do Maracanãzinho - 23/02/1974 |
Logo depois a lendária apresentação do
Maracanãzinho, o Secos & Molhados embarcou em sua primeira turnê
internacional. Pouco antes de embarcarem para o México, o empresário Moracy do
Val foi destituído de suas funções sob alegação de supostos desvios de
documentação – João Apolinário, poeta, crítico de teatro e pai de João Ricardo,
foi convocado para empresariar o grupo. Ao retornarem da América do Norte,
Gerson, João e Ney entrariam em estúdio para gravarem o trabalho que sucederia
o seu extraordinário disco de estreia.
João Ricardo durante as gravações do disco, em 1974. |
João Ricardo, idealizador e produtor
do primeiro álbum do Secos & Molhados, não apenas assumiu a produção do
segundo disco, com também é o responsável por 12 das 13 canções que foram
gravadas. Os problemas com a censura fizeram com que Gerson Conrad e Paulinho
Mendonça compusessem “Delírio...” já no final das gravações do disco, visto que
“Tem Gente com Fome” e “Balada” (canção de João baseada em um poema musicado de
Carlos Drummond de Andrade).
Moracy do Val entre os integrantes do Secos & Molhados |
O segundo LP do Secos & Molhados –
cuja imagem (as faces de Gerson Conrad, João Ricardo e Ney Matogrosso se
sobressaem em um fundo negro) é de autoria de Antônio Carlos Morare, o mesmo que
fotografou os integrantes para a capa do primeiro disco – não possui a mesma
aura lúdica, anárquica e a magia de fadas e pirilampos de seu antecessor. Pelo contrário:
várias canções refletem a mentalidade de sombras e trevas que os membros do
grupo viviam em meados de 1974. Apesar da atmosfera negativa que envolvia a
produção do álbum, “Flores Astrais”, “Voo”, “Tercer Mundo” e “O Hierofante” são
as faixas mais marcantes deste trabalho.
A gravadora Continental chegou a
montar uma estratégia de marketing fenomenal para promover o segundo LP do
Secos & Molhados: anúncios de TV em cinemas de todo o Brasil foi uma das
ações de promoção planejadas na época. No entanto, foi durante a participação
do grupo no programa Fantástico na primeira semana de agosto
de 1974 que o Brasil e o resto do mundo souberam que Gerson Conrad, João
Ricardo e Ney Matogrosso não trabalhariam mais juntos.
Os dois videoclipes gravados para a TV Globo
são o testemunho de que o Secos & Molhados poderia ter sido se os seus
membros não tivessem sucumbido às egotrips e demais conflitos internos. O LP
foi lançado na segunda semana de agosto de 1974 com o gosto amargo do fim de
uma verdadeira mania nacional que encheu o país de alegria e esperança no auge
da Ditadura Militar.
As canções deste disco resistiram com
o passar dos tempos. No entanto, o segundo LP do Secos & Molhados ganhou
apenas UMA reedição em CD – a da série Dois Momentos, organizada por Charles
Gavin, ex-baterista do Titãs, que chegou a remixar os originais de 1974. Apesar
da Polysom ter reeditado este LP com toda a pompa e circunstância no início da
década de 2010, ainda aguardamos uma reedição deste clássico em CD, com encartes
especiais, etc. e tal. Assim, a justiça com a história da carreira fonográfica
do Secos & Molhados finalmente terá início...
Eu lembro que me decepcionei bastante com o disco, na época do lançamento. Só gostei de duas músicas: "Flores Astrais" e "Delírio". Com o tempo, outras foram me conquistando. Algumas pedem um arranjo mais sofisticado, como "Não, Não Digas Nada", que Marília Pêra gravaria numa linda interpretação. "Caixinha de Música do João" também tem uma melodia bonita. "O Hierofante" é um rock interessante, em que o João assume a maior parte dos vocais. Não sei se foi uma boa ideia mostrar a voz "normal" do Ney em "Oh, Mulher Infiel". Serviu apenas para satisfazer a curiosidade dos fãs. De "Tercer Mundo", desculpe, não consigo gostar. Esse disco tem seus momentos, mas no geral é como você escreveu, ele carrega a energia negativa que levaria ao fim do grupo.
ResponderExcluirEsqueci de observar, então acrescento aqui: a edição original não tinha o nome "Secos e Molhados" impresso na capa. Eram só os três rostos icônicos e imediatamente reconhecíveis. Acho essa segunda capa até melhor do que a primeira. Visual mais enxuto e impactante, perfeito para uma camiseta preta (mas sem o logotipo do grupo, como era o original).
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