19 de outubro de 2017

DISCOS DE VINIL # 45

THE ROLLING STONES – EXILE ON MAIN STREET (1972)


        
           Em 1972, os ingleses Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Bill Wyman e Mick Taylor eram nada mais, nada menos do que um grupo de músicos expatriados tocando em uma banda que vivia à beira da separação. Um tanto radical? Porém, não havia outra alternativa para os Rolling Stones naquele período... Ao contrário de vários brasileiros, que tiveram que buscar exílio na França para escapar da repressão política, os Rolling Stones resolveram se instalar na Riviera Francesa para fugir do cerco do fisco do Reino Unido.

Keith entre Anita Pallenberg (sua esposa na época) e Gram Parsons

Um banquete em Nellcote

Um casarão suntuoso, lúgubre e gigantesco de Villa Nellcote ocupado por Keith Richards e sua família foi o berço de um dos álbuns mais controvertidos e discutidos de toda a história: Exile on Main Street, considerado por crítica e público como o trabalho mais importante de toda a discografia dos Rolling Stones. Um local belíssimo, porém que teve que ser adaptado para que o disco fosse gravado – as sessões de gravação ocorriam no porão de Nellcote, com direito a mofo, umidade e instrumentos constantemente desafinados por causa das péssimas condições de trabalho. A locação não poderia ser mais perfeita para que os músicos vivessem a plenitude do trinômio sexo, drogas e Rock ‘n’ Roll...

Keith Richards e seu amigo Gram Parsons

          Quando Exile foi lançado como LP duplo, em meados de 1972, quase ninguém entendeu o que os Stones tinham a dizer. Várias críticas foram bastante negativas ao disco que, hoje em dia, é visto por fãs, especialistas (e pelos próprios músicos) como “a obra-prima do grupo”. Em 18 pérolas originais (e mais algumas inéditas que foram lançadas em uma edição especial de 2010), notamos como Mick Jagger estava no auge de sua forma vocal (estourando as cordas vocais de tanto cantar acima de seu tom, feito que nem o próprio conseguiu igualar anos depois!); Keith Richards e Mick Taylor faziam de seus riffs e solos de guitarras e violões verdadeiras artilharias sonoras; Bill Wyman e Charlie Watts eram a cozinha mais elegante e completa do Rock com a imbatível parceria entre baixo e bateria; A produção de Jimmy Miller respeitou o ápice da criatividade dos artistas em um período extremamente turbulento da trajetória da banda; Os músicos de apoio não ficavam atrás dos membros da banda porque eram de uma eficiência sem tamanho: Nicky Hopkins nos pianos e outras teclas de todos os tipos, Bobby Keys e Jim Price davam a elegância Soul dos sopros à maioria das faixas do disco, as vocalistas de apoio Venetta Fields e Clydie King (negras, evidentemente!) davam o apoio essencial à voz de Sir Jagger e ao som dos Rolling Stones.

A dupla Jagger - Richards finalizando o álbum em um estúdio de Los Angeles (EUA)

          A capa do disco mostra uma quantidade diversa de universos paralelos – são fotos em preto e branco de pessoas anônimas misturadas a Jagger e o seu olhar de eterno desdém; Richards e sua aura de pirata, exercitando a sua fama de bad boy; Watts, Wyman e Taylor como os coadjuvantes necessários para que todas as pedras rolem juntas pelos ouvidos das pessoas. Canções sobre sexo, delírios, jogatinas, política, desilusões amorosas, esperanças perdidas e tantas outras que poderiam ser encontradas em algum verso menos óbvio de Exile on Main Street.






         “Tumbling Dice”, “Happy” e "All Down the Line" são números permanentes das apresentações dos Stones ao vivo até hoje. “Rocks Off”, por exemplo, é um dos melhores números utilizados pelos músicos para abrir algum show ou para dar um gás no meio do setlist e deixar o público em polvorosa; “Sweet Virginia” e “Torn and Frayed” são duas das melhores canções acústicas de toda a história do Rock; “Ventilator Blues” e “Soul Survivor” são dois lados B dos Stones que mereciam ser tocadas ao vivo para que as turnês tivessem maior abrangência de repertório.





Exile on Main Street é um disco que merece não apenas uma audição atenta, como também merece um esforço físico de sua parte: ele merece que você tenha o trabalho de afastar os móveis da sala para que você saia pulando, cantando e dançando ao som das pedras rolantes como se você estivesse vivendo a plenitude dos clichês mais corriqueiros do Rock com o volume bem alto! Para o bem dos Stones e da música do planeta, Jagger, Richards & Cia. conseguiram fazer do amargor do exílio uma obra imprescindível para a humanidade.

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