LED ZEPPELIN – HOUSES OF THE HOLY (1973)
Em 1973, o Led Zeppelin já era uma das
maiores bandas de toda a história do Rock ‘n’ Roll. Jimmy Page (guitarra e
produção), Robert Plant (voz), John-Paul Jones (baixo e teclados) e John Bonham
(bateria) precisaram de quatro discos para que seus nomes constassem no panteão
dos gênios do Rock: Led Zeppelin I, Led Zeppelin II, Led
Zeppelin III e o álbum sem título com um velhinho em meio às
ruínas de uma moradia abandonada, que ficou conhecido pelos fãs e críticos como
Led Zeppelin IV.
Entre janeiro e agosto de 1972, Page,
Plant, Jones e Bonham gravaram uma quantidade assombrosa de material inédito
para o que seria o quinto álbum da banda. Além de realizaram gravações no
estúdio de gravação móvel dos Rolling Stones (administrado por Ian Stewart, o
pianista e tecladista que teria sido o sexto Stone), os músicos gravaram nos
estúdios mais badalados da época – o Olympic de Londres e o Electric Lady em
Nova York. Definitivamente, Jimmy Page não estava disposto a jogar baixo e
queria repetir o sucesso do quarto álbum do Zeppelin, lançado um ano antes:
apesar de terem registrado várias canções, apenas OITO ficaram para a seleção
final do quinto álbum da banda, batizado como Houses of
the Holy, lançado em 28 de março
de 1973.
(Antes de tratarmos das faixas que
fazem parte do quinto álbum do Led Zeppelin, cabe um parêntesis sobre duas das
canções que ficaram de fora do disco: a faixa-título, “Night Flight” e “Boogie
with Stu” [Ian Stewart, ele mesmo!] foram três preciosidades que teriam
figurado em Houses of the Holy se a tesoura do produtor Jimmy Page não tivesse sido
tão implacável!)
O disco abre com um dos melhores
números da história do Led Zeppelin: “The Song Remains the Same” pode ser
interpretada como uma canção que relata um sonho que reconstitui os desejos de
uma banda em ser ouvida pelos quatro cantos do planeta. A comunhão entre
artistas e público se faz através do poder unificador das canções que se tocam
e se ouvem por aí – Master Page, em um ápice de seu virtuosismo, fez uso de
simplesmente OITO guitarras diferentes para gravar esta faixa.
Depois dos cinco minutos e meio da
faixa de abertura, o Zeppelin propõe o seu ouvinte para um momento de calmaria
e reflexão: “The Rain Song” é pontuada pela guitarra e pelo violão de Page,
pelo mellotron de Jones (que consegue simular uma orquestra sinfônica com
perfeição!), pela batida inconfundível de Bonham e pela voz de Robert Plant,
que consegue ser feroz, doce, agressiva e solene na medida certa, o que o torna
em um dos maiores cantores da história da música do planeta! A segunda canção
de Houses of the Holy é
um dos melhores números acústicos da história do Rock ‘n’ Roll e chegou a ser
revivida no especial No Quarter, gravado por Page e Plant para a MTV em 1994,
sem o talento de John-Paul Jones e sem as baquetas extraordinárias de Bonzo.
A terceira faixa, “Over the Hills and
Far Away” é um clássico típico do Led Zeppelin: os violões de Jimmy Page levam
mais de 40 segundos para introduzir a voz de Robert Plant e nos transporta a
ambientes místicos, mágicos. Quando o baixo de John-Paul Jones e a bateria de Bonzo
atacam junto com a guitarra de Page, o vocalista abandona o tom solene e quase
romântico para declarar sem pudor: “Many have I loved / And many times been
bitten / Many times I’ve gazed / Along the open road”. Afinal, o sujeito
poético deixa bem claro que a sua razão de viver é o seu sonho e um bolso
repleto de ouro. Viver intensamente é o que realmente vale a pena, não colocar
o pé na estrada e encarar os obstáculos sem medo e desconhecer o que pode haver
de melhor nesta vida.
As duas faixas seguintes de Houses of the Holy, “The Crunge” e “Dancing
Days” são dois números nos quais a banda demonstra uma sintonia impressionante.
Juntos, Page, Plant, Jones e Bonham conseguiram escrever os princípios do Rock
com riffs cortantes, vocais rasgados, uma certa dose de irreverência e deboche,
baixo e teclados para trazer mais camadas de som e uma batida ligeira para
formatar o andamento. Confesso que teria ficado muito feliz se o Led Zeppelin
tivesse incluído “Dancing Days” no lendário concerto de 2007, por se tratar de
um B-Side admirado por uma série de fãs.
“D’Yer Maker”, sexta faixa de Houses of the Holy, é uma das canções mais
irreverentes de todo o repertório do Led Zeppelin: o título da canção é uma
alusão à contração da frase em Inglês “Did You Make Her?” [Você trepou com
ela?] e “Jamaica” tal qual pronunciada no inglês britânico Robert Plant canta
sobre uma figura feminina estonteante que faz seu macho de gato e sapato,
apesar dele lhe jurar amor eterno. A canção foi redescoberta em 1994 quando
Sheryl Crow, na época um artista em ascensão, regravou esta canção para o
álbum-tributo Encomium, com um toque Folk pontuado pelo acordeom da moça.
A penúltima faixa do disco, “No Quarter”,
é, sem sombra de dúvidas, o momento mais sombrio do disco. A voz de Robert
Plant nos dá a impressão de que tinha sido congelada pelo frio aterrorizante da
letra da canção. Os teclados e o piano de John-Paul Jones deixam o virtuosismo
de Jimmy Page um pouco de lado para que o mundo tivesse a certeza de que o
baixista e o tecladista do Led Zeppelin é um dos músicos mais talentosos, brilhantes
e injustiçados de toda a história do Rock. Apesar de Page e Plant terem
reinterpretado este número em 1994, a versão ao vivo que permanecerá nas
memórias afetivas dos fãs e críticos musicais é a de 2007, na qual o vocalista
e o guitarrista da banda trouxeram Jones de volta para o mesmo palco que eles
para que tocar esta canção juntos, como sempre deveria ter sido.
A última canção de Houses
of the Holy é “The Ocean” (a minha preferida do disco!) é
introduzida por John Bonham conclamando os músicos para o número final depois
de atacar com o seu “1, 2, 3, 4” para que o zepelim prateado voasse mais alto
do que nunca através da velocidade do som... Geralmente utilizada para encerrar
as apresentações ao vivo da banda durante a turnê de 1973, “The Ocean” é um
resumo das imagens mais poéticas deste disco do Led Zeppelin em quatro minutos:
traz imagens solares (“The Song Remains the Same”), de montanhas (“Over the
Hills...”), de chuva e destruição (“The Rain Song” e “No Quarter”) e de figuras
femininas marcantes (“The Crunge”, “Dancing Days” e “D’Yer Maker”). O tal
oceano da canção é o mar de gente que peregrinava alegremente para ver os
quatro cavaleiros do zepelim prateado em ação em cima de um palco e que
transmite a energia para que seja possível cantar sobre o amor e as coisas mais
simples da vida. De acordo com Robert Plant, um excelente modo de estabelecer
um recomeço é cantar para quem se ama – no caso sua filha, Carmen Jane, uma menininha
naquela época.
Houses of the Holy é um retrato e
tanto do que existe de melhor do Led Zeppelin: uma aula de Rock ‘n’ Roll
ousado, poético e infinitamente energético. Se eu fosse indicar um disco do Led
para que um desconhecido ouvisse, seria este. Assim, o oceano de peregrinos do
zepelim de Page, Plant, Jones e Bonham sempre teria novos integrantes.
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