O DIA DA BADERNA
“Na linha do horizonte
Do alto da montanha
Por onde quer que eu ande
Esse amor me acompanha
A luz que vem do alto
Aponta o meu caminho
É forte no meu peito
Eu não ando sozinho
Te vejo pelos campos
Te sinto até nos ares
Te encontro nas montanhas
E te ouço nos mares
Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você
Pra quem te traz no peito
O mundo é mais florido
A vida aqui na Terra
Tem um outro sentido
Eu ando e não me canso
Esqueço a minha cruz
Firme nesse rumo
Que a você me conduz
Em todos os momentos
Que eu olho pro espaço
Sou forte e minha fé
Me faz um homem de aço
Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você
Em todos os momentos
Que eu olho pro espaço
Sou forte e minha fé
Me faz um homem de aço
Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você
Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você
Você é meu escudo
Você pra mim é tudo
Minha fé me leva até você
Até você!”
(Roberto
Carlos & Erasmo Carlos na voz de Rita Benneditto)
Em tempos de crise,
fica difícil encontrar motivação para celebrar qualquer coisa. Especialmente quando
se trata de festividades deslavadamente incentivadas pelo mercado. Os shopping centers ficam repletos de gente
em busca de presentes em um frenesi que leva o nosso suado décimo-terceiro
salário em um rabo de foguete. A excitação em comprar, comprar e comprar e
ganhar, ganhar e ganhar presentes recebe o nome de “espírito natalino”.
Jesus Cristo, o aniversariante do dia
25 de dezembro, era o que hoje chamaríamos de comunista bolivariano, tal qual
foi brilhantemente alardeado por Gregório Duvivier em sua coluna da Folha
de S. Paulo: “não acumulou riqueza, não se formou, ao invés disso vivia
descalço cercado de leprosos defendendo bandido... O sujeito tava mais pra
Marighella que pra Gandhi (...)”.
A
“celebração” do aniversário de Jesus Cristo faz com que as pessoas organizem
comilanças babilônicas, regadaas a litros e litros de bebida; a televisão seleciona
o que há de mais bisonho em termos de música antes de exibir a Missa do Galo e
os parentes com os quais nos encontramos pouquíssimas vezes ao ano e que mal
nos conhecem, ora se animam com a sua presença figurativa no sofá, ora se
ressentem da sua ausência. O aniversariante do dia fica ofuscado pelo Funk
carioca, pelo pagode e pela sofrência das meninas do “feminejo” ou de outros ritmos
musicais na crista da onda...
Para
o seu lugar, entrou o imbatível Papai Noel (mais conhecido como Santa Claus) distribuindo
presentes na pele dos chefes de família, fazendo a festa da criançada e movendo
a roda do Capitalismo, tão bem lembrado pelo escritor Gabriel García-Márquez em
uma crônica sobre esta época do ano: “O menino Jesus foi destronado pelo Santa
Claus dos gringos e dos ingleses, que é o mesmo Papai Noel dos franceses e aos
que conhecemos de mais. Chegou-nos com o trenó levado por um alce e o saco
carregado de brinquedos sob uma fantástica tempestade de neve.”.
Cristo era um defensor dos fracos, dos
oprimidos, era o maior dos justos. Pensando na essência de seu legado e também
por puro comodismo, passei a me questionar a necessidade de tanta pompa e
circunstância prescrita pelo credo capitalista para esta época do ano. Decidi
que o Natal deste ano deveria ser um momento de reflexão, de agradecimento e,
principalmente, de descanso: como só tive férias a partir do dia 22 de
dezembro, achei mais prudente e mais proveitoso ficar em casa, sem um pingo de ostentação:
desfrutei de uma ceia natalina mais simples e cercado apenas das pessoas mais
íntimas; nada de troca de presentes ou de seleções de amigo secreto; nada de ter
que me obrigar a ser simpático com pessoas que desconheço ou quase nunca vejo; nada
de roupa nova para a ocasião – ganhei um pijama de uma amiga minha e adorei
passar a virada de 24 para 25 de dezembro assim. A conta bancária agradece e o
bom humor também!
Infelizmente, as postagens nas redes
sociais me levam a crer que muitos se esqueceram do verdadeiro legado deste perturbador
da ordem chamado Jesus Cristo e só ficaram com a baderna de comidas, bebidas e
presentes com direito à trilha sonora da TV ligada. Se a crise obrigasse a
maioria dos indivíduos a crescerem diante da escassez de recursos e da desunião
entre os homens, já seria um bom (re)começo para a humanidade. No entanto, muitos
preferem a letargia confortável do consumismo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário!