A ARTE DE SORRIR
"Você verá que é mesmo assim
Que a história não tem fim
Continua sempre que você responde "sim"
À sua imaginação
À arte de sorrir cada vez que o mundo diz não"
(Guilherme Arantes, 1983)
A vida tem me ofertado uma série de "nãos" nos últimos dois anos. Daqueles bem grandes, em letras garrafais, típicos de serem expostos em outdoors em praça pública. Às vezes me revoltei, em outras me deprimi. Em nenhuma, baixei a cabeça e deixei de me levantar e seguir lutando. Afinal de contas, se chorei ou se sorri, o importante é que muitos "nãos" eu vivi...
Chorar de pena de si próprio é aceitável. Porém, a sua lágrima pode ser o troféu do inimigo, por isso, evito o choro em público a qualquer custo. Depois do susto da queda, é preciso praticar a arte do sorriso: na impossibilidade de sorrir de felicidade, vamos sorrir nem seja de raiva, de ódio ou pelo puro exercido do sarcasmo nosso de cada dia. Levantar, sacudir a poeira, dar a volta por cima e seguir lutando.
Não creio em perfis de sucesso. Creio no resultado de muito trabalho, persistência e excelência naquilo que se faz. Creio em episódios bem-sucedidos, em circunstâncias distintas - isto é, o velho "estar no lugar certo e na hora certa". Não creio em resultados obtidos por meio de bajulação ou "puxasaquice", creio em competência. Minhas crenças não me oferecem um lugar confortável no meio acadêmico, tampouco no mercado de trabalho. Infelizmente, eu preciso pagar um preço alto por ser íntegro e coerente com os meus princípios. Eis o maior "não" que a vida me dá.
As pessoas acostumadas com a importância do sucesso e da felicidade em suas vidas arrotam meias-verdades e frases feitas por aí como se tivessem o maior conhecimento filosófico possível. Pessoas obcecadas por princípios éticos e justos são sempre aquelas que leem mais, que pesquisam mais, que questionam mais, que incomodam mais. Os "bem-sucedidos" de acordo com as leis do mercado de um mundo capitalista são os oportunistas limitados que creem em perfis de sucesso. Os incompreendidos e marginalizados pela sociedade são os que não se enquadram nas caixinhas que aprisionam toda espécie de pensamento.
Eu me orgulho de pertencer ao segundo grupo. Com muitos "nãos", com poucos sons de "sim" e inúmeras respostas dizendo "talvez" ou "quem sabe?". Repito: o preço é alto. O retorno e a recompensa são poucos. Por outro lado, ter minha liberdade de pensamento e a independência intelectual preservadas são duas coisas para as quais não há preço algum. Em meio à dor da negação e o livre trânsito por portas que se fecham e portais que se abrem, é importante sorrir. Apesar da incerteza, mesmo com a temporária escuridão, sigamos sorrindo e cantando. Afinal, esta é a maior arte a ser desenvolvida por cada um de nós...
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