GEORGE
MICHAEL - SONGS FROM THE LAST CENTURY (1999)
No final da década de 1990, a indústria musical foi
impulsionada em fazer listas e mais listas das canções mais importantes do
século XX e do novo milênio que os americanos achavam que começava em 2000 - na
verdade, isso se daria apenas no ano de 2001. George Michael utilizou a
oportunidade para fazer um projeto diferente: um disco de covers com as canções
mais belas do século XX entitulado Songs from the
Last Century, lançado em dezembro de 1999.
Quarto disco de estúdio do Pop Star, Songs... foi
uma produção de George Michael feita em parceria com o lendário produtor Phil
Ramone, um dos fundadores da A&M Records e que já trabalhou em discos de
Frank Sinatra, Natalie Cole, Paul McCartney, Aretha Franklin, Burt Bacharach e
Billy Joel, para não citarmos outros. George decidiu reunir clássicos do jazz,
standards da canção americana e duas faixas mais recentes do universo Pop Rock
com direitos a orquestras e metais de big
band.
O número escolhido para a abertura de Songs... foi
a bela “Brother, Can You Spare a Dime?” (E. Y. "Yip" Harburg &
Jay Gorney), um dos maiores clássicos da grande depressão norte-americana. O contexto
da canção retrata um mendigo reclamando com o sistema político-econômico a
respeito do emprego perdido por causa da Crise de 1929. George Michael, ao se
apropriar destes versos, dirige sua crítica à indústria fonográfica com a qual
sempre brigou avidamente por causa de contratos profissionais.
Versão
de Bing Crosby
|
Versão
de George Michael
|
Duas escolhas surpreendentes de George Michael para
este projeto foram “The First Time Ever I Saw Your Face” (Ewan MacColl) e “I
Remember You” (Victor Schertzinger & Johnny Mercer). A primeira foi composta
no final da década de 1950, foi um grande sucesso na voz de Roberta Flack em
1972. George manteve o mesmo tom delicado e quase sussurrado utilizado por
Flack, o que contrasta com o tom grandiloquente do restante do disco. A segunda tinha sido gravada por nomes de peso
da música norte-americana como Dinah Washington, Doris Day e Sarah Vaughn – em Songs..., ouve-se apenas a voz do cantor
embalada pelo belíssimo som de uma harpa.
Versão
de Roberta Flack
|
Versão
de George Michael
|
Versão
de Sarah Vaughn
|
Versão
de George Michael
|
Do repertório da imortal Nina Simone, George selecionou a sexy “My Baby
Just Cares For Me” (Walter Donaldson & Gus Kahn) e a emblemática “Wild is
the Wind” (Dimitri Tiomkin & Ned Washington). A primeira foi gravada com um belo arranjo de metais,
enquanto a melancolia da segunda foi embalada por uma orquestra. A voz de
George Michael soa bastante contida, porém não menos emotiva, em ambas as
gravações – o que nos faz esquecer dos originais de Nina nem que seja por
alguns minutos.
“My Baby Just Cares for Me”
|
|
Versão
de Nina Simone
|
Versão
de George Michael
|
“Wild is the Wind”
|
|
Versão
de Nina Simone
|
Versão
de George Michael
|
Da safra mais recente de criações do século XX, uma
leitura jazzística surpreendente de "Roxanne" (Sting) e uma
regravação da balada "Miss Sarajevo" - originalmente gravada pelo
grupo U2 em dueto com o tenor Luciano Pavarotti. A primeira canção chegou a
ganhar um videoclipe gravado nas ruas do Red
Light District de Amsterdam, com personagens reais. As duas faixas em
questão foram escolhidas como singles
daquele trabalho, porém sem muito sucesso: Songs... é o único disco de George Michael até o final de
2016 a não alcançar o topo das paradas de sucesso britânicas.
Versão
do The Police
|
Versão
de George Michael
|
Versão
do U2 + Luciano Pavarotti
|
Versão
de George Michael
|
As três canções restantes do disco são clássicos
consagrados dos standards norte-americanos. “You’ve Changed” (Bill Carey &
Carl Fischer) é uma das assinaturas musicais mais marcantes de Billie Holiday. “Secret
Love” (Sammy Fain & Paul Francis Webster) se tornou conhecida do grande
público na voz de Doris Day. “Where or When”, por sua vez, é um dos maiores
clássicos dos musicais compostos pela dupla Richard Rodgers – Lorenz Hart.
George Michael fez versões bastante sensíveis para cada uma destas chansons d’amour, com muita elegância e
discrição, sem apresentar nenhuma nota dissonante.
Versão
de Billie Holiday
|
Versão
de George Michael
|
Versão
de Doris Day
|
Versão
de George Michael
|
Versão
de Ella Fitzgerald
|
Versão
de George Michael
|
George Michael ao lado do produtor Phil Ramone durante as gravações de Symphonica (2014) |
Songs... se encerra com uma versão instrumental de “It’s All
Right with Me” (Cole Porter). É um belíssimo epílogo para um dos trabalhos mais
sensíveis de um dos cantores mais talentosos da música Pop. George Michael não apenas optou por caminhos óbvios para fazer um
grande disco de cantor, ele traçou um caminho bastante autêntico para a sua
carreira musical e gravou um dos discos mais bonitos da década de 1990. É um
trabalho que merece ser ouvido no volume mais alto do seu aparelho do som para que possamos compreender a
grandiosidade de um artista sensível e extraordinário e para que as gerações mais jovens conheçam 10 das canções mais belas do século XX.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário!